quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Grifes encontram novas maneiras de ajudar o planeta



Por ALEXANDRA ZISSU

Há dois anos, quando ser verde virou a última tendência na indústria da moda, várias marcas importantes fabricaram jeans com algodão orgânico. Agora, ele está sendo substituído por outros esforços ambientais, como a adaptação do processo industrial para a conservação de recursos.
Entre os fatores que estão sendo considerados estão o uso da água, o impacto das tinturas, questões trabalhistas e comércio justo. "Esta tem sido uma mudança de paradigma: trata-se da água, dos resíduos tóxicos, dos retalhos no chão da sala de corte", disse LaRhea Pepper, diretora-sênior da Textile Exchange (ex-Organic Exchange), ONG que promove a agricultura orgânica.
"Vemos empresas de todo tipo entendendo como fazer a coisa certa, de um jeito que seja economicamente viável, leve essa agenda adiante e faça a diferença."
A linha Eco de jeans orgânicos da Levi's já não está mais no estoque, mas a empresa continua usando algodão orgânico, enquanto rearruma seus esforços ambientais. "Estamos mirando um maior impacto", disse Michael Kobori, vice-presidente de sustentabilidade social e ambiental da Levi Strauss.
A Levi's aderiu à Iniciativa do Algodão Melhor, outra ONG, voltada para agricultura sustentável, uso da água e questões econômicas e trabalhistas. Kobori disse que as fazendas de algodão assessoradas na Índia e no Paquistão reduziram em um terço o consumo de água e produtos químicos. (O algodão convencional consome 25% dos pesticidas e fertilizantes do mundo.)
O produto resultante, chamado Better Cotton ("algodão melhor"), só deve aparecer nas roupas Levi's na primavera de 2012, e inicialmente virá misturado ao algodão convencional. 
Mas a meta é usá-lo em tudo o que a companhia faz. "Queremos mudar o jeito como o algodão é cultivado no mundo todo", disse Kobori. "Todo algodão pode ser cultivado assim."
Outro esforço ambiental da Levi's é o seu novo jeans Water Less, que será lançado no varejo dos EUA neste mês, a preços de US$ 50 a US$ 130. O desbotamento é feito com pouca ou nenhuma água, segundo Kobori, poupando cerca de 10 litros por peça. A empresa também propõe um visual sujo; uma pesquisa interna concluiu que o maior uso de água das calças jeans é quando os consumidores as lavam. Então a Levi's pede que elas sejam menos lavadas.
Sem ter os recursos globais da Levi's, o estilista Rogan Gregory parou de usar brim orgânico na sua marca Loomstate, que ele define como "ambiental e socialmente consciente". 
"Se você não é um fabricante, é desafiador executar", disse Gregory. Ele também viu problemas no tecido, que tem uma fibra mais curta do que o algodão convencional ou geneticamente modificado, o que o torna mais difícil de tecer.
"Aposto que em 10 a 20 anos o algodão estará caindo em desuso", disse Gregory. "Vão encontrar formas de simular e replicar os benefícios do algodão, sem as partes ruins."

Criando energia além da rede




Energia renovável a preços acessíveis para os mais pobres

Por ELISABETH ROSENTHAL

KIPTUSURI, Quênia - Para Sara Ruto, a desesperada ânsia por eletricidade começou no ano passado, com a aquisição do seu primeiro celular, crucial para que ela recebesse pequenas transferências monetárias, contatasse parentes ou checasse o preço do frango no mercado mais próximo.
Mas recarregar o telefone não era tarefa simples. Toda semana, Ruto caminhava 3 km para pegar um mototáxi e viajar mais três horas até Mogotio, a cidade mais próxima. Lá, deixava seu celular numa loja que cobra US$ 0,30 para recarregar um telefone. Havia tanta demanda que ela precisava deixar o celular na loja durante três dias inteiros. A desgastante rotina terminou em fevereiro, quando a família vendeu alguns animais para comprar, por cerca de US$ 80, um pequeno sistema de energia solar, de fabricação chinesa. Agora pendurado no teto de estanho do seu casebre com paredes de barro, um solitário painel solar fornece energia suficiente para recarregar o celular e acender quatro lâmpadas. "Minha principal motivação foi o telefone, mas isso mudou muitas outras coisas", disse Ruto.
Desde que ela instalou o sistema, as notas dos seus filhos adolescentes melhoraram, porque eles têm luz para estudar. Os bebês não correm mais o risco de se queimar com as fumacentas lamparinas de querosene. E a cada mês ela poupa US$ 15 em querosene e pilhas -mais os US$ 20 que ela gastava em transporte.
Ao se tornar mais barata, mais confiável e mais eficiente, a energia renovável em pequena escala está beneficiando pessoas que vivem distantes das redes elétricas dos países em desenvolvimento, cuja expansão é lenta.
"Você passa por cima da necessidade de linhas fixas", disse Adam Kendall, diretor de práticas energéticas da África Subsaariana na consultoria global McKinsey & Company. "A energia renovável se torna cada vez mais importante em mercados cada vez menos desenvolvidos."
Dana Younger, consultor-sênior de energia renovável da Corporação Internacional de Finanças, ligada ao Banco Mundial, disse que "esse é um fenômeno que está varrendo o mundo".
Com o advento de painéis solares baratos e de lâmpadas LED de alta eficiência, capazes de iluminar um cômodo com apenas 4 watts de energia, esses pequenos sistemas solares geram eletricidade a um preço acessível até aos mais pobres. "A gente está vendo pastores na Mongólia Interior com células solares no topo das suas iurtas", disse Younger.
As tecnologias de energia renovável projetadas para os pobres incluem câmaras subterrâneas simples de biogás, que produzem combustível a partir do esterco de algumas vacas, ou mini-hidrelétricas capazes de abastecer uma aldeia inteira.
"O grande problema para nós agora é que não há ainda um modelo de negócios", disse John Maina, coordenador-executivo da ONG queniana Serviços Sustentáveis de Desenvolvimento Comunitário, que se dedica a levar energia a áreas rurais.
Investidores relutam em despejar dinheiro em produtos que atendem um mercado disperso de consumidores rurais pobres, porque consideram o risco alto demais. Mesmo assim, alguns novos modelos estão surgindo. Desde 2007, a empresa Husk Power Systems, bancada por uma mistura de investimentos privados e verbas filantrópicas, construiu 60 usinas em áreas rurais da Índia, para gerar energia a partir de casca de arroz para 250 vilarejos.
No Nepal e na Indonésia, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas já ajudou a financiar a construção de minúsculas hidrelétricas em remotas comunidades montanhosas. Marrocos oferece subsídios para sistemas domésticos de energia solar em áreas remotas, ao custo unitário de US$ 100.
O que mais surpreende alguns especialistas é o recente aparecimento de um verdadeiro mercado na África para a energia renovável em escala doméstica. Com a redução do custo dos equipamentos confiáveis, as famílias se mostram cada vez mais dispostas a comprá-los, mesmo que para isso precisem vender uma cabra ou pegar dinheiro emprestado com um parente no exterior, por exemplo.
A explosão do uso de celular na África rural tem sido uma enorme motivação. Como em muitos países africanos não há bancos nas regiões rurais, o celular é adotado como uma ferramenta para transações comerciais, além de comunicações pessoais. Os sistemas baratos de energia renovável também permitem eliminar gastos com velas, carvão, pilhas, madeira e querosene.
Em Kiptusuri, o sistema LED Firefly comprado por Ruto é a grande febre deste ano. O menor deles, que custa US$ 12, consiste de um painel de energia solar que pode ser colocado numa janela ou telhado, e que é conectado a uma luminária e um carregador de celular. Unidades um pouco maiores podem alimentar rádios e TVs preto e branco.
"Com esse sistema, você tem luz de verdade pelo que gastaria em poucos meses com querosene", disse Maina, da Serviços Sustentáveis de Desenvolvimento Comunitário. "Quando você pode iluminar sua casa e carregar seu telefone, isso é muito valioso."

Vivendo sem eletrecidade
Uma em cinco pessoas no planeta vive sem eletrecidade, geralmente porque não está conectada a uma rede. A pobreza e a política podem influenciar na maneira como os países dão forma a sua infraestrutura.

Quando autoconhecimento não é solução

ENSAIO




Terapia examina os problemas mas nem sempre os resolve

RICHARD A. FRIEDMAN, M.D.

É quase um artigo de fé entre terapeutas que a autocompreensão é um pré-requisito para uma vida feliz. Segundo se acredita, o insight (ou a compreensão súbita e intuitiva de si mesmo) nos liberta dos problemas e promove o bem-estar.
Mas minhas últimas experiências me fazem indagar se o insight é tão eficiente.
Não muito tempo atrás, atendi um rapaz que estava triste porque sua namorada o deixara.
"Já tratei disso várias vezes na terapia", disse. O rapaz tinha dificuldade para tolerar qualquer separação de suas namoradas. Ele podia até localizar a origem do problema no passado, na separação de sua mãe, que ficou hospitalizada vários meses para tratamento de câncer quando ele tinha 4 anos. Em suma, ele tinha obtido muito insight na terapia. A terapia havia desmistificado seus sentimentos, mas pouco fizera para modificá-los.
Uma pista interessante sobre a importância do insight vem de estudos comparativos de diferentes tipos de psicoterapia.
Muitas vezes é difícil encontrar diferenças entre seus resultados.
O significado para os pacientes é claro. Se você está deprimido, provavelmente se sentirá melhor se seu terapeuta usar uma abordagem comportamental-cognitiva, que visa corrigir pensamentos e sentimentos distorcidos, ou uma terapia psicodinâmica orientada por insights.
Como o ingrediente comum a todas as terapias não é o insight, mas uma ligação humana com o terapeuta, parece justo dizer que o insight não é necessário nem suficiente para sentir-se melhor. E às vezes parece que o insight aumenta o sofrimento da pessoa.
Lembro-me de um paciente com depressão crônica. "A vida é simplesmente uma droga", ele me disse, citando vários males sociais e econômicos.
É claro, ele tinha razão sobre o estado lamentável da economia, apesar de ser rico e não estar diretamente ameaçado pela situação. Era um analista financeiro, mas estava entediado com seu trabalho.
Tinha feito terapia durante anos antes de me conhecer, e percebera que havia escolhido sua profissão para agradar ao pai. E embora tivesse insight sobre seu comportamento, claramente não estava mais feliz por isso.
Quando ele ficava deprimido, porém, esse insight aumentava sua dor, pois se censurava por não ter enfrentado seu pai.
Pesquisadores sabem há anos que as pessoas deprimidas têm uma lembrança seletiva de fatos desagradáveis. Suas visões e percepções negativas podem ser deprimentemente precisas, embora tendenciosas e incompletas. Seu insight não lhes faz muito bem!
Isso nos faz até perguntar se um pouco de autoilusão é necessária para ter felicidade.
Se você não quer ser prisioneiro de seus conflitos psicológicos, o insight pode ser um instrumento poderoso para afrouxar sua dominação. Mas é diferente de felicidade.
Meu paciente deprimido me procurou recentemente, parecendo feliz. Tinha deixado o emprego e estava trabalhando com arte. "Estou fazendo o que gosto", disse.
Percebi então que sou muito bom para tratar o sofrimento clínico com drogas e terapia, mas que produzir felicidade é algo mais. Talvez a felicidade seja um pouco como a autoestima: é preciso se esforçar para tê-la.