quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Quando autoconhecimento não é solução

ENSAIO




Terapia examina os problemas mas nem sempre os resolve

RICHARD A. FRIEDMAN, M.D.

É quase um artigo de fé entre terapeutas que a autocompreensão é um pré-requisito para uma vida feliz. Segundo se acredita, o insight (ou a compreensão súbita e intuitiva de si mesmo) nos liberta dos problemas e promove o bem-estar.
Mas minhas últimas experiências me fazem indagar se o insight é tão eficiente.
Não muito tempo atrás, atendi um rapaz que estava triste porque sua namorada o deixara.
"Já tratei disso várias vezes na terapia", disse. O rapaz tinha dificuldade para tolerar qualquer separação de suas namoradas. Ele podia até localizar a origem do problema no passado, na separação de sua mãe, que ficou hospitalizada vários meses para tratamento de câncer quando ele tinha 4 anos. Em suma, ele tinha obtido muito insight na terapia. A terapia havia desmistificado seus sentimentos, mas pouco fizera para modificá-los.
Uma pista interessante sobre a importância do insight vem de estudos comparativos de diferentes tipos de psicoterapia.
Muitas vezes é difícil encontrar diferenças entre seus resultados.
O significado para os pacientes é claro. Se você está deprimido, provavelmente se sentirá melhor se seu terapeuta usar uma abordagem comportamental-cognitiva, que visa corrigir pensamentos e sentimentos distorcidos, ou uma terapia psicodinâmica orientada por insights.
Como o ingrediente comum a todas as terapias não é o insight, mas uma ligação humana com o terapeuta, parece justo dizer que o insight não é necessário nem suficiente para sentir-se melhor. E às vezes parece que o insight aumenta o sofrimento da pessoa.
Lembro-me de um paciente com depressão crônica. "A vida é simplesmente uma droga", ele me disse, citando vários males sociais e econômicos.
É claro, ele tinha razão sobre o estado lamentável da economia, apesar de ser rico e não estar diretamente ameaçado pela situação. Era um analista financeiro, mas estava entediado com seu trabalho.
Tinha feito terapia durante anos antes de me conhecer, e percebera que havia escolhido sua profissão para agradar ao pai. E embora tivesse insight sobre seu comportamento, claramente não estava mais feliz por isso.
Quando ele ficava deprimido, porém, esse insight aumentava sua dor, pois se censurava por não ter enfrentado seu pai.
Pesquisadores sabem há anos que as pessoas deprimidas têm uma lembrança seletiva de fatos desagradáveis. Suas visões e percepções negativas podem ser deprimentemente precisas, embora tendenciosas e incompletas. Seu insight não lhes faz muito bem!
Isso nos faz até perguntar se um pouco de autoilusão é necessária para ter felicidade.
Se você não quer ser prisioneiro de seus conflitos psicológicos, o insight pode ser um instrumento poderoso para afrouxar sua dominação. Mas é diferente de felicidade.
Meu paciente deprimido me procurou recentemente, parecendo feliz. Tinha deixado o emprego e estava trabalhando com arte. "Estou fazendo o que gosto", disse.
Percebi então que sou muito bom para tratar o sofrimento clínico com drogas e terapia, mas que produzir felicidade é algo mais. Talvez a felicidade seja um pouco como a autoestima: é preciso se esforçar para tê-la.

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