As mudanças climáticas preocupam a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelos riscos que trazem ao abastecimento de água em São Paulo, e o governo estadual intensificou ações de "curtíssimo prazo" para mitigar os efeitos do tempo seco nos reservatórios. É o que diz a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, sobre as providências do governo para prevenir a falta d'água.
O assunto ganhou importância devido à onda de incêndios que atingiu o interior paulista há pouco mais de dez dias, à falta de água em municípios, à queda do nível de reservatórios, e à previsão de que o tempo seco deve perdurar nas próximas semanas.
Resende classifica a atual estiagem no estado como um evento de emergência "fora da normalidade", mesmo que o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana esteja dentro do esperado, em sua avaliação.
Seis dos sete sistemas de água que abastecem a região metropolitana de São Paulo estão mais secos hoje do que há um ano, e o conjunto está 20% mais baixo. A situação é mais grave no interior, especialmente nas regiões de Bauru e na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (o PCJ), onde algumas cidades fazem racionamento.
"É por isso que a gente está atuando no curtíssimo prazo, por isso que estamos fazendo desassoreamento [e perfuração de poços]", disse a secretária estadual à Folha. Ela relacionou as mudanças climáticas diretamente às ações de segurança hídrica de médio e longo prazo planejadas pela pasta. "De fato, a gente está num evento que a gente pode considerar fora da normalidade", ela afirmou sobre a atual estiagem.
Resende não descartou o risco de uma estiagem ainda mais grave em 2025, e diz que o governo trabalha em mais de uma frente para mitigar os efeitos no abastecimento de água caso isso se concretize.
"É por isso que a gente está atuando no curtíssimo prazo, por isso que a gente está fazendo desassoreamento em Bauru, no rio Batalha", afirmou. "A gente já fez esse desassoreamento em mais de 225 cursos d'água. Isso é importante tanto na seca quanto na enchente. Na seca, porque ele ajuda a questão de captação, ele ajuda o fluxo d'água. Na enchente, porque ele ajuda a mitigar [a inundação] também quando chove."
As obras mais importantes na região do PCJ, porém, só serão entregues daqui a 22 meses, na melhor das hipóteses. São dois reservatórios de água, um na cidade de Pedreira e outro entre os municípios de Duas Pontes e Amparo. As obras já estavam previstas há dez anos, quando o governo estadual acelerou ações de combate à estiagem em meio à crise hídrica de 2014.
"A gente pegou um contrato que tinha muitos problemas, estava paralisado praticamente, e aí você tem que seguir todo o processo que está previsto em lei para conseguir fazer a rescisão desses contratos", disse Resende. "Tem que rescindir, tem que multar, tem que sancionar a empresa, isso a gente fez."
Há duas semanas, quem alertou para a possibilidade de secas mais graves em 2025 e 2026 foi o professor Antônio Carlos Zuffo, do departamento de Recursos Hídricos da Unicamp. Ele diz que há expectativa de atrasos na volta do período chuvoso deste ano e, consequentemente, o risco de que as chuvas não sejam suficientes para que os reservatórios não acumulem água suficiente para atravessar o período seco do ano que vem em níveis satisfatórios.
'Conjunção de fatores' explica incêndios, diz secretária
Sobre os incêndios que ocorreram há cerca de duas semanas, especialmente na região de Ribeirão Preto, Resende destacou que houve uma "conjunção de fatores" que contribuiu para que eles alcançassem proporções tão grandes —moradores de um condomínio tiveram de deixar suas casas e nuvens de fumaça fizeram o dia escurecer mais rápido.
Ela ressaltou que as condições de temperatura, umidade relativa do ar e força dos ventos favoreceu a expansão das chamas, além da ocorrência de incêndios criminosos. Na semana passada, Tarcísio afirmou que, até o momento, não há indícios de ação coordenada entre criminosos que foram presos em cidades diferentes por incendiar áreas rurais.
A secretária afirmou que o governo estadual intensificou ações de prevenção contra queimadas, especialmente em unidades de conservação florestal e em beiras de estrada. As principais ações são a abertura de aceiros —espaços livres abertos no entorno da mata e na beira de estradas para barrar o espalhamento do fogo—, contratação de brigadistas e compra de equipamentos de combate a incêndio.
Segundo Resende, R$ 8,9 milhões foram investidos em ações de prevenção nas unidades de conservação e quase R$ 65 milhões para as estradas administradas pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem).
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