Ao declarar, no último sábado, 28, apoio à deputada federal Tabata Amaral (PSB) para a eleição à Prefeitura de São Paulo em 2024, o vice-presidente Geraldo Alckmin deu a partida no que, segundo aliados, será sua volta à política paulista. Em conversas reservadas, ele tem difundido a leitura de que dificilmente será escolhido novamente para compor chapa com Luiz Inácio Lula da Silva em uma campanha à reeleição.
Em 2026, o petista terá 81 anos. A idade avançada, avaliam interlocutores do ex-governador, deve reforçar a vontade da cúpula do PT de colocar na linha de sucessão presidencial alguém vinculado ao partido e à esquerda para assumir o governo caso necessário. Em que pese o grupo de Jair Bolsonaro ainda conservar força eleitoral, acreditam que, até lá, Lula não precisará mais da aliança com um adversário histórico para amansar o antipetismo e derrotar um candidato da direita.
O nome de Alckmin já é ventilado por ex-correligionários do PSDB e líderes de outros partidos como um forte concorrente ao governo de São Paulo ou ao Senado. Eles o veem como uma alternativa aos candidatos do PT, que tradicionalmente têm desempenho baixo no Estado.
Acreditam que, embora o vice-presidente tenha perdido o apoio de parcela da população conservadora no interior paulista, que enveredou pelo bolsonarismo, ele tem prestígio de parte dos eleitores do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e poderia, com o apoio de Lula, ganhar votos que não teve durante o período em que governou o Estado.
No ato realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Alckmin se apresentou pela primeira vez em público como cabo eleitoral de Tabata e se referiu a ela como “a verdadeira mudança”. Assim, fincou o pé em posição contrária à do presidente, que apoia o também deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP).
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“Nesse processo, vai ser importante que a gente mantenha uma relação de respeito com o Boulos, mas também mostrando nossas diferenças”, diz o deputado estadual Caio França, que participou da cerimônia junto com o pai, o ministro das Microempresas e Empreendedorismo, Márcio França (PSB).
Oficialmente, o ato não tinha como foco a candidatura de Tabata, mas sim o lançamento de pré-candidaturas a vereador na capital. A declaração de Alckmin, no entanto, mudou o sentido do evento, admite França.
“Ainda vai ter um lançamento de pré-candidatura da Tabata. Era a formatura dos pré-candidatos a vereador. (A presença de Alckmin) era uma forma de mostrar prestígio. Acabou se transformando em um grande evento dela. As circunstâncias levaram ele a uma fala mais enfática. Ele se empolgou com o ambiente, o que é ótimo.”
Segundo aliados, Alckmin vinha recebendo cobranças para manifestar publicamente apoio à parlamentar, mas resistiu por receio de causar ruídos com Lula. No entanto, a avaliação é de que o gesto não causou prejuízo na relação com o petista, que já havia assentido à candidatura do PSB na capital paulista.
Apesar do ineditismo do discurso, Alckmin ajuda a parlamentar a construir sua pré-campanha desde o início do ano e tem a introduzido em segmentos nos quais angariou simpatia ao longo dos 13 anos em que foi governador. Ele é próximo de representantes de associações comerciais, de líderes católicos e evangélicos e também de entidades sociais, que também mantém relação com sua mulher, Lu Alckmin, ex-presidente do Fundo Social de São Paulo.
A ajuda nestes segmentos é vista como uma forma de avançar sobre um eleitorado de centro, resistente a Boulos, com quem Tabata compete na esquerda. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), ainda não conseguiu o apoio de Bolsonaro, mesmo após diversos encontros e cortejos públicos. Na última semana, o ex-presidente voltou a declarar que “que tem esperança “ de que o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), seu ex-ministro do Meio Ambiente, tenha sucesso em São Paulo. Na visão de integrantes do PSB, nesse cenário, Tabata disputa uma vaga no segundo turno contra Boulos, que lidera as pesquisas.
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Procurada, a deputada festejou o apoio, por meio de nota. “É uma honra contar com o apoio e a experiência de uma liderança que admiro e tanto contribuiu e segue contribuindo com São Paulo, como o nosso vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin. A admiração e respeito que temos um pelo outro é recíproca”, afirmou ela.
Tabata Amaral ainda afirmou que São Paulo hoje “está dividida em duas cidades: a das desigualdades e a dos privilégios”. “Alckmin e eu compartilhamos de um mesmo sonho, o de construir uma ponte sobre esse abismo para que a verdadeira mudança aconteça na nossa cidade”, completou.
Já o vice-presidente Geraldo Alckmin também foi procurado para se manifestar sobre o assunto. Em resposta, sua assessoria informou que ele “tem hoje a única preocupação de trabalhar para ajudar o presidente Lula a governar o País”.
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