O CEO do Grupo Cosan, Rubens Ometto, disse nesta terça-feira, 24, que o etanol vem sendo “maltratado” pela política para os combustíveis no Brasil. Durante evento em São Paulo, o empresário destacou, no entanto, que há expectativa de uma mudança para uma situação mais favorável ao biocombustível.
“O preço do açúcar está bom, mas o etanol está em uma fase ruim. O Brasil é o único país do mundo que taxa um produto limpo como o etanol”, disse ele no Agriculture Investment Conference, promovido pelo UBS Credit Suisse, em São Paulo (SP).
Ometto avaliou que o atual cenário é semelhante ao da gestão Dilma Rousseff, que “quis fazer uma política anti-inflacionária controlando o preço dos combustíveis”. O resultado, segundo ele, foi o fechamento de usinas e a entrada de outras em recuperação judicial. Para o empresário, no entanto, há uma maior sensibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao setor.
“O presidente Lula é sensível a isso. Da mesma maneira que ele tem uma preocupação com não subir a inflação, tem uma preocupação grande com o setor. É um setor que gera muitos empregos”, ressaltou.
O CEO da Cosan afirmou ainda ter uma visão otimista para o Brasil. Segundo ele, há problemas a resolver, como a questão fiscal, mas o país tende a atrair investimentos.
Para Ometto, o agronegócio será sempre muito importante para a economia nacional. No entanto, a riqueza gerada pelo setor deve ser usada para desenvolver outros segmentos da economia. “A política industrial brasileira precisa mudar, tendo mais incentivos, programas de investimentos, programas de abertura”, disse.
Crescimento
Ometto ressaltou que 95% dos investimentos do grupo Cosan estão no Brasil. A empresa atua em diversos segmentos da economia, como logística, açúcar e etanol, gás e energia.
Segundo ele, a companhia deve encerrar o ano com o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de R$ 5,2 bilhões neste ano. “Todas as empresas têm projetos de expansão muito bons”, ressaltou o empresário.
No segmento de energia, ele avaliou que o mundo seguirá consumindo derivados de petróleo. Mas a tendência é de expansão de fontes limpas, pela maior consciência ambiental e porque os consumidores passarão a pagar mais.
“Os incentivos fiscais em outros países estão dando condições de se pagar por isso”, disse Ometto. “O Brasil tem uma oportunidade única, não apenas no etanol, mas na energia eólica, solar”, acrescentou, dizendo que o setor tem trabalhado com o governo e o legislativo para desenvolver uma política de incentivos.
Para o empresário, a eletrificação deve ganhar espaço na mobilidade. Por outro lado, Ometto ressaltou que a tecnologia dos veículos a energia elétrica ainda é cara e pouco acessível para populações de menor renda. E o etanol ainda pode ser mais vantajoso.
“O etanol sequestra mais carbono que o carro elétrico, porque, para se produzir a energia elétrica, usa carvão ou outros tipos de energia. Se pegar o sequestro de carbono de 12 anos da Tesla, equivale ao de quatro meses da Raízen”, disse ele, em referência ao grupo do empresário Elon Musk.
Ometto destacou ainda que a Raízen deve fechar o ano com um Ebitda de R$ 14 bilhões. Segundo ele, atualmente, trata-se da única empresa com capacidade de produzir etanol de segunda geração (a partir do bagaço da cana) em escala industrial. O empresário ainda relata que praticamente toda a produção da companhia – de 1,2 bilhão de litros – está vendida em euros por valores quase o dobro do etanol de primeira geração.
“As nossas usinas de etanol de segunda geração vão gastar R$ 10 bilhões. Só em plantio de cana, são R$ 6 bilhões. Nosso Capex é enorme”, afirmou. Ometto disse ainda que a empresa está trabalhando com a Embraer e a Shell no uso do biocombustível para a produção de combustível sustentável de aviação.
Sobre a Rumo, empresa de logística formada a partir da aquisição da América Latina Logística (ALL), Ometto disse que a companhia aumentou em 86% os volumes transportados nos últimos sete anos. Ele acrescentou que a empresa consegue gerar caixa suficiente para bancar seus investimentos e suas despesas.
“A Rumo tem que gerar caixa para pagar o Capex dela e os juros dela. Remunerar juros no Brasil com juros a esses níveis, são poucas empresas que podem fazer. Em um país como o nosso, com juros nesses níveis, se não tiver controle de gestão financeira, é perigoso”, pontuou.
Segundo Ometto, a Rumo gera, atualmente, R$ 5,5 bilhões por ano e paga R$ 1 bilhão em juros. Os investimentos anuais da empresa giram em torno de R$ 4 bilhões anuais.
Raphael Salomão
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