domingo, 22 de outubro de 2023

Hélio Schwartsman Prevendo o futuro, FSP

 


E se a história fosse uma "ciência dura", capaz de fazer previsões tão precisas quanto as que os astrônomos fazem para os próximos eclipses? A maioria dos historiadores profissionais descarta essa possibilidade. Comportamentos humanos já são de certa forma infensos a modelagens matemáticas. Quando falamos de uma disciplina como a história, que, além de lidar com questões humanas, está sujeita a forças tão variadas como as da economia, cultura, tecnologia, geografia e ao próprio acaso, a pretensão de encontrar uma fórmula objetiva para calcular o futuro soa absurda.

Apesar dessa e de outras objeções, existem especialistas em ciência da complexidade que acham que é possível identificar em grandes massas de dados alguns vetores mais relevantes. Um desses especialistas é Peter Turchin, e o livro no qual sintetiza suas ideias é "End Times".

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 22 de outubro de 2023, mostra, sob um fundo preto, uma ampulheta giratória sobreposta a uma imagem do planeta Terra.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman, que será publicada também na versão impressa da Folha neste domingo (22 de outubro de 2023) - Annette Schwartsman

Para Turchin, sociedades vivem ciclos de integração e desintegração que duram de 100 a 200 anos. Os EUA e boa parte do Ocidente estariam numa fase desintegrativa. As duas principais forças envolvidas seriam a pauperização das classes mais baixas e a superprodução de elites (gente que se prepara para assumir posições mais elevadas, mas não as encontra). Quando os dois fenômenos atuam sinergicamente, o resultado é uma rebelião contra as elites que pode desestruturar a sociedade e acabar até em guerra civil. Mas Turchin não é tão fatalista. Ele mostra através de exemplos históricos que, se as elites forem suficientemente inteligentes para, através de reformas, desarmar as bombas, conseguem evitar o colapso e adentrar uma nova fase integrativa.

É claro que, com ciclos tão amplos e condicionados a tantas variáveis, já não estamos falando de previsões precisas, mas de tendências gerais. O modelo já não seria o da astronomia, mas o da epidemiologia, em que a previsão é feita na esperança de que os agentes atuem e consigam frustrá-la.

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