Num dos seus shows de comédia, Ricky Gervais disse que "A pior coisa que você pode dizer no Twitter hoje, que vai lhe causar cancelamento e ameaças, é que mulheres não têm pênis". O humorista alerta para o fato de como uma platitude tornou-se fala polêmica que pode ser interditada por acusações de transfobia. Se o fenômeno fosse restrito às redes sociais, já seria ruim, mas, quando ele invade o meio acadêmico, torna-se nefasto.
A Associação Americana de Antropologia, a maior da área no mundo, cancelou o painel "Vamos falar sobre sexo: por que o sexo biológico continua sendo uma categoria analítica necessária em antropologia" (em tradução livre do inglês) na conferência anual da entidade que será realizada em novembro.
O trabalho já havia passado por avaliação científica e aprovado em julho, mas, no final de setembro, as seis pesquisadoras de instituições renomadas —como as Universidades de Barcelona e de Harvard— responsáveis pelo painel foram surpreendidas com o cancelamento. Segundo a AAA, a apresentação "causa danos aos membros representados pelas pessoas trans e LGBTQI da comunidade antropológica, bem como à comunidade em geral".
Ora, mas a descrição do painel sequer assume positivismo biológico, só afirma a necessidade de se analisar melhor o uso de conceitos: "nem todo antropólogo precisa diferenciar sexo de gênero (...) mas existem múltiplos domínios de pesquisa nos quais o sexo biológico permanece insubstituivelmente relevante para análise antropológica".
Não à toa, 216 pesquisadores de diversas áreas, incluindo humanidades, assinaram uma carta na qual afirmam que a proibição passa a mensagem de que o complexo debate acadêmico sobre sexo e gênero não é livre e pedem para que o painel seja apresentado.
Academia não é lugar para dogmas e censura baseada em afetos, ainda mais em relação a hipóteses que nem de longe alcançaram unanimidade no campo científico.
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