O debate público sobre ambiente no Brasil sempre foi monopolizado pelo desmatamento na Amazônia. A custo entrou em pauta o cerrado, hoje o domínio mais ameaçado. Mas precisamos falar também da caatinga, muito pressionada.
No semiárido nordestino se encontra o único bioma exclusivamente brasileiro. O Nordeste abriga a segunda maior população do país, metade em condição de pobreza. Secas e ondas de calor podem lhe causar ainda muito sofrimento e baixa na qualidade de vida.
Não é apenas o El Niño deste ano que augura uma estiagem grave. A mudança climática no planeta vai além dessa perturbação nas águas do Pacífico e apanha um sertão nordestino vulnerável.
Estudos recentes cruzaram projeções sobre o aumento da aridez na região, em consequência do aquecimento global, com previsões sobre perda de fauna e flora sob aumento da temperatura e queda na precipitação. Concluíram que, em 2060, até 90% das espécies animais e vegetais poderão ter sucumbido.
Uma desertificação da região não será desastrosa só para pequenos mamíferos da caatinga, como prediz a pesquisa. A onipresença de caprinos dá boa ideia da importância para a segurança alimentar e a cultura dos sertanejos dessa criação que pasteja livre pelo bioma.
Um incremento na perda de cobertura vegetal, acompanhada da homogeneização (poucas espécies) prevista pelos especialistas, trará impacto difícil de avaliar. A ele se somaria um processo de desmatamento já em aceleração, realimentando o vetor de aridificação.
A banda oeste da caatinga, na zona de transição para o cerrado, tem sido um escoadouro da expansão do agronegócio na área conhecida como Matopiba. Sob sua influência, o desmate quase dobrou entre 2020 (683 km2) e 2021 (1.159 km2), segundo o projeto MapBiomas.
Secas mais fortes, frequentes e prolongadas viriam engrossar a migração regional para os já problemáticos grandes centros urbanos do Nordeste. Sem chuvas, milhões de cisternas ficarão vazias, e a transposição do São Francisco não dará conta de matar a sede da gente e do gado e ainda sustentar a irrigação.
Compete ao governo federal, em parceria com os estaduais, atuar em duas frentes para evitar o pior impacto: de um lado, conter a destruição da caatinga; de outro, implementar programas para adaptar população e infraestrutura à mudança climática já contratada.
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