terça-feira, 24 de outubro de 2023

Bernardo Guimarães - A Petrobras perdeu 6% do valor em um dia? FSP

 Nesta segunda-feira (23), os preços das ações da Petrobras caíram mais de 6%, enquanto o índice da Bolsa variou pouco. Isso significa que a empresa valia ao final do dia R$ 30 bilhões a menos que na sexta-feira anterior.

Essa conexão pode parecer estranha. Afinal, a capacidade produtiva da empresa não se alterou. Nesta semana e na semana passada, teremos as mesmas pessoas utilizando os mesmos equipamentos para extrair petróleo dos mesmos lugares. Tudo igual, normal.

Ainda assim, as pessoas que compram e vendem ações acreditam que o valor da empresa despencou. Devemos levar a sério essa avaliação?

Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, a P-52 - Bruno Domingos/Reuters

Nossa melhor estimativa do valor de mercado da Petrobras é de fato R$ 30 bilhões inferior ao que era na semana anterior?

O valor de uma empresa é dado pelas expectativas dos lucros futuros, levando-se em conta a taxa de juros e o risco envolvido.

Preços financeiros variam mais do que esperaríamos olhando apenas para as variações nos lucros esperados. Mudanças no apetite para risco dos investidores explicam parte dessas flutuações, mas não tudo.

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Há ampla evidência de que, em muitos casos, os preços das ações estão de fato "errados" e não refletem o valor da empresa. Com o tempo, esses preços tendem a reverter em direção ao valor fundamental da companhia. Assim, quem compra a ação que está cara demais ou vende a ação que está barata demais perde dinheiro, em média.

Muitas pessoas saltam desse ponto para concluir que grandes quedas no preço das ações como essa da Petrobras são exageradas e que vale comprar a ação, a empresa não perdeu tanto valor. Essa conclusão está errada.

No recém-lançado livro "Trader ou Investidor", escrito para o público geral, Fernando Chague e Bruno Giovannetti mostram, com base em pesquisa acadêmica de ponta, os erros que as pessoas mais cometem quando investem na Bolsa.

Um erro comum é justamente comprar ações que perdem muito valor, acreditando que essa queda no preço se reverterá no futuro próximo. Essa estratégia, em média, leva a perdas.

Um exemplo bem documentado é o da OGX. Em dois anos, o valor da empresa desabou de R$ 60 bilhões para quase zero. Enquanto os preços das ações caíam, investidores bem informados vendiam, com base em informações sobre as perspectivas de lucro, enquanto as pessoas físicas compravam o papel, com base na crença de que essas quedas grandes são exageradas. Quando a empresa quebrou, pessoas físicas detinham mais de 50% das ações da empresa.

Para quem está interessado em negociar ações, o ponto é que grandes quedas em preços de ativos não indicam que é momento de comprar o papel.

Para quem está interessado em entender o significado dessas mudanças nos preços de ações, o ponto é que essas grandes quedas, em média, de fato refletem uma redução no valor da empresa.

Assim, nossa melhor estimativa do valor de mercado da Petrobras é de fato muito inferior ao que era na semana passada.

De onde vem esse efeito tão grande?

O estatuto da Petrobras tem regras sobre a indicação de membros para a alta cúpula. A notícia da segunda-feira foi que o estatuto deve ser modificado. O conselho de administração da empresa aprovou proposta que elimina algumas restrições. A expectativa agora é que políticos sejam em breve nomeados para altos cargos na empresa.

Como consequência, espera-se que a Petrobras tome decisões que levarão a menores lucros nos próximos anos. Empresas estatais podem servir a diferentes objetivos. Por isso, seus valores flutuam muito com os ventos da política.


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