Poupado pela base lulista, Bolsonaro não mostrou a cara na CPI do 8 de janeiro. Mas seu nome aparece 835 vezes no relatório da senadora Eliziane Gama. Tantas citações podem até ter sido motivo de alegria para quem, apesar de todos os esforços inconstitucionais, perdeu a eleição. Colecionador de crimes, entre os quais a falta de combate à pandemia, o ex-presidente ficará na história da República como o campeão das tentativas de golpe fracassadas.
A senadora defende que o capitão foi o cabeça do plano golpista. Ainda há a indicação de que Bolsonaro agiu como "mentor moral" dos ataques à democracia. A escolha do adjetivo me soou estranha e trouxe à lembrança outro capitão do Exército, Cláudio Coutinho, técnico da seleção na Copa de 1978, na Argentina. Terceiro colocado, o Brasil foi considerado o "campeão moral".
Aos olhos de parte da população, o ambiente político é semelhante a um jogo, com grupos idiotizados se enfrentando na defesa de posições ideológicas. Ganhou o bolão da rodada aquele que apostou nos militares que serviram a Bolsonaro (e dele se serviram). Foram indiciados os generais Augusto Heleno, Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos, Paulo Sérgio Nogueira. Perdeu quem jogou suas fichas na tese dos infiltrados na invasão das sedes dos Três Poderes.
Não houve tempo para comemorar a vitória ou lamentar a derrota. Logo as torcidas encontraram divertimento no horror da guerra no Oriente Médio. Nas redes sociais, campo ideal desse tipo de jogo, o ataque ao hospital de Gaza, com centenas de mortos, abafou as discussões sobre o relatório da CPI. Antes de qualquer investigação, os rivais elegeram seu ponto de vista inabalável. São dois os vereditos: Israel é culpado e o Hamas é culpado.
Que importa a verdade na era da pós-verdade? O gostoso é xingar o outro time. Não à toa, "other team" é como o presidente dos EUA, Joe Biden, refere-se aos palestinos.
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