terça-feira, 24 de outubro de 2023

Acordo da Shein com a Coteminas inclui empréstimo de R$ 100 milhões, FSP


SÃO PAULO

O acordo fechado pelo grupo Coteminas com a Shein em abril resultou também em um empréstimo de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões) para as operações da Santanense, companhia de tecidos que integra o grupo.

Na fábrica da Santanense em Itaúna (MG), as atividades de fiação e de tecelagem ficaram paradas cerca de seis meses neste ano, até o início de julho. Lá, os funcionários tiveram atrasos no pagamento de benefícios, mas não houve corte de pessoal, como registrado em Blumenau (SC) e em Montes Claros (MG).

A receita líquida de vendas da companhia em 2022 foi de R$ 409,9 milhões, 31,8% menor do que a registrada em 2022. O resultado operacional foi afetado, segundo o grupo, por aumento no custo de ociosidade. As informações constam do balanço do grupo Coteminas tornado público na noite de 13 de outubro.

As demonstrações financeiras também informam ter havido a concessão de crédito em "forma de empréstimos conversíveis em ações e com único vencimento para três anos". O dinheiro, diz a publicação, servirá para recompor o capital de giro da empresa.

Fábrica de tecidos da Coteminas em Montes Claros - Carlos Rhienck - 8.abr.2009/Hoje em Dia/Folha Imagem

O conselho de administração da Santanense aprovou a contratação do empréstimo em 22 de junho. No dia 11 de julho, a companhia aprovou que o contrato seja de penhor de estoque.

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A ata da reunião da administração prevê que o contrato ainda seria celebrado –após essa etapa a empresa não informou os detalhes da operação, como agente fiduciário e taxa de câmbio e de juros considerada no acordo. A direção de relações com investidores do grupo foi procurada por email, mas ainda não respondeu.

O grupo Coteminas é comandado pelo atual presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes da Silva. No início deste ano, ele intermediou o anúncio feito pela Shein de nacionalização de sua produção (a empresa com sede em Singapura já fez dois eventos para apresentar suas peças "made in Brazil").

Próximo do presidente Lula –Josué é filho de José Alencar, que foi vice do petista–, o empresário estava à mesa quando Fernando Haddad, da Fazenda, anunciou que o governo não revogaria mais a isenção a mercadorias de até US$ 50.

A política de tributação acabou se invertendo: no lugar do fim da isenção, o governo dispensou o pagamento em todas as compras até esse valor feitas em lojas e marketplaces que aderissem a seu programa de conformidade batizado de Remessa Conforme.

No memorando de entendimento assinado pelo grupo Coteminas em abril já havia a previsão de "financiamento para capital de trabalho". O acordo também fala em exportação de produtos para o lar e a intermediação para que 2.000 confecções que são clientes da Coteminas também trabalhem com a asiática do ecommerce.

A divulgação do balanço do grupo estava atrasada, deveria ter saído em março. Tanto a Coteminas quanto a Springs Global, também do grupo, foram incluídas em uma lista da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de empresas que ultrapassaram o período de apresentação de formulários de demonstrações financeiras e informações trimestrais. O prazo se encerrou em abril.

O auditor independente que assinou as demonstrações financeiras de 2022 da Coteminas considerou que há "incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional" e escreveu que o grupo vem "desenvolvendo negociações para recomposição de seu capital circulante líquido". Na avaliação da Springs Global, há preocupação semelhante quanto à capacidade de continuidade da operação.

Segundo o balanço, o grupo reduziu e renegociou passivos por meio de repactuações, vendas de ativos e reestruturação de seu plano de negócios, o que incluiu as demissões negociadas em Montes Claros, Blumenau e também em João Pessoa. O corte atingiu 1.709 funcionários, que receberão seus acertos em até 12 parcelas.

No fim de 2021, o grupo tinha 10,8 mil funcionários nas operações brasileira e no exterior. No fim de 2022, eram 8.859.

O grupo Coteminas se comprometeu a apresentar as informações dos três primeiros trimestres deste ano até o dia 14 novembro.

ENTENDA A ESTRUTURA DO GRUPO COTEMINAS

Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas)
Sediada em Montes Claros (MG), produz e vende fios e tecidos, e tem capital aberto
Tem dois braços empresariais:

Santanaense
Detém 58,38%
Produz tecidos e itens de vestuário, uniformes, acessórios e equipamentos de proteção individual

Springs Global
Detém 52,92% da companhia
A Springs tem duas controladas:

  • Coteminas SA (opera no Brasil, e é dona da Coteminas Argentina e da AMMO Varejo, que vende Santista, Artex, Persono, MMartan e Casa Moysés)
  • Springs Global US (opera nos Estados e tem participação na Keeco Holdings, que produz artigos para casa na América do Norte)

RAIO-X | GRUPO COTEMINAS

4º trimestre de 2022
Receita líquida:
 R$ 1,5 bilhão
Prejuízo líquido: R$ 669,4 milhões
Passivo: R$ 1,6 bilhão


SÃO PAULO

O acordo fechado pelo grupo Coteminas com a Shein em abril resultou também em um empréstimo de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões) para as operações da Santanense, companhia de tecidos que integra o grupo.

Na fábrica da Santanense em Itaúna (MG), as atividades de fiação e de tecelagem ficaram paradas cerca de seis meses neste ano, até o início de julho. Lá, os funcionários tiveram atrasos no pagamento de benefícios, mas não houve corte de pessoal, como registrado em Blumenau (SC) e em Montes Claros (MG).

A receita líquida de vendas da companhia em 2022 foi de R$ 409,9 milhões, 31,8% menor do que a registrada em 2022. O resultado operacional foi afetado, segundo o grupo, por aumento no custo de ociosidade. As informações constam do balanço do grupo Coteminas tornado público na noite de 13 de outubro.

As demonstrações financeiras também informam ter havido a concessão de crédito em "forma de empréstimos conversíveis em ações e com único vencimento para três anos". O dinheiro, diz a publicação, servirá para recompor o capital de giro da empresa.

Fábrica de tecidos da Coteminas em Montes Claros - Carlos Rhienck - 8.abr.2009/Hoje em Dia/Folha Imagem

O conselho de administração da Santanense aprovou a contratação do empréstimo em 22 de junho. No dia 11 de julho, a companhia aprovou que o contrato seja de penhor de estoque.

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A ata da reunião da administração prevê que o contrato ainda seria celebrado –após essa etapa a empresa não informou os detalhes da operação, como agente fiduciário e taxa de câmbio e de juros considerada no acordo. A direção de relações com investidores do grupo foi procurada por email, mas ainda não respondeu.

O grupo Coteminas é comandado pelo atual presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes da Silva. No início deste ano, ele intermediou o anúncio feito pela Shein de nacionalização de sua produção (a empresa com sede em Singapura já fez dois eventos para apresentar suas peças "made in Brazil").

Próximo do presidente Lula –Josué é filho de José Alencar, que foi vice do petista–, o empresário estava à mesa quando Fernando Haddad, da Fazenda, anunciou que o governo não revogaria mais a isenção a mercadorias de até US$ 50.

A política de tributação acabou se invertendo: no lugar do fim da isenção, o governo dispensou o pagamento em todas as compras até esse valor feitas em lojas e marketplaces que aderissem a seu programa de conformidade batizado de Remessa Conforme.

No memorando de entendimento assinado pelo grupo Coteminas em abril já havia a previsão de "financiamento para capital de trabalho". O acordo também fala em exportação de produtos para o lar e a intermediação para que 2.000 confecções que são clientes da Coteminas também trabalhem com a asiática do ecommerce.

A divulgação do balanço do grupo estava atrasada, deveria ter saído em março. Tanto a Coteminas quanto a Springs Global, também do grupo, foram incluídas em uma lista da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de empresas que ultrapassaram o período de apresentação de formulários de demonstrações financeiras e informações trimestrais. O prazo se encerrou em abril.

O auditor independente que assinou as demonstrações financeiras de 2022 da Coteminas considerou que há "incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional" e escreveu que o grupo vem "desenvolvendo negociações para recomposição de seu capital circulante líquido". Na avaliação da Springs Global, há preocupação semelhante quanto à capacidade de continuidade da operação.

Segundo o balanço, o grupo reduziu e renegociou passivos por meio de repactuações, vendas de ativos e reestruturação de seu plano de negócios, o que incluiu as demissões negociadas em Montes Claros, Blumenau e também em João Pessoa. O corte atingiu 1.709 funcionários, que receberão seus acertos em até 12 parcelas.

No fim de 2021, o grupo tinha 10,8 mil funcionários nas operações brasileira e no exterior. No fim de 2022, eram 8.859.

O grupo Coteminas se comprometeu a apresentar as informações dos três primeiros trimestres deste ano até o dia 14 novembro.

ENTENDA A ESTRUTURA DO GRUPO COTEMINAS

Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas)
Sediada em Montes Claros (MG), produz e vende fios e tecidos, e tem capital aberto
Tem dois braços empresariais:

Santanaense
Detém 58,38%
Produz tecidos e itens de vestuário, uniformes, acessórios e equipamentos de proteção individual

Springs Global
Detém 52,92% da companhia
A Springs tem duas controladas:

  • Coteminas SA (opera no Brasil, e é dona da Coteminas Argentina e da AMMO Varejo, que vende Santista, Artex, Persono, MMartan e Casa Moysés)
  • Springs Global US (opera nos Estados e tem participação na Keeco Holdings, que produz artigos para casa na América do Norte)

RAIO-X | GRUPO COTEMINAS

4º trimestre de 2022
Receita líquida:
 R$ 1,5 bilhão
Prejuízo líquido: R$ 669,4 milhões
Passivo: R$ 1,6 bilhão

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