Há semanas, comentei de passagem que já nem me lembrava de quando havia recebido uma carta pela última vez. Carta, mesmo, daquelas de correio, com selo e carimbo, de alguém mandando notícias. Não era uma queixa, mas uma constatação —a falta renitente de alguma coisa incomoda a princípio, mas aos poucos nos tornamos insensíveis. Por isso, foi uma surpresa, outro dia, ao receber um envelope vindo de Belo Horizonte, remetido por Flora Augusto Teixeira. Em uma folha escrita a mão, dizia nas primeiras linhas.
"Prezado Ruy Castro. Havia pensado em lhe escrever há tempos e, hoje, ao ler sua crônica na Folha e perceber que você não mais recebe cartas, resolvi enviar-lhe esta. Minha irmã viajava muito e me trazia lindos papéis de carta. Do alto de meus 88 anos, tenho que usá-los, não é mesmo?" E seguia-se uma breve e invejável descrição de suas andanças em jovem pelo Rio e pelos EUA, na plateia dos grandes musicais, como o "Orfeu da Conceição", de Tom e Vinicius, no Teatro Municipal, em 1956. Mas bastariam as frases iniciais para me desmontar.
Outra leitora, a professora Vânia Lomônaco Bastos, de Brasília, de 86 anos, enviou-me uma pequena e preciosa coleção da revista Careta, de 1922, que havia pertencido a seu pai. E a escritora Lucia Helena Flavio Castelo Branco, de Campinas, me presenteou com os livros para jovens que encantaram sua infância e, imagino, também a de sua mãe. A delicadeza e a graça daquelas edições nos dizem muito sobre as crianças no Brasil dos anos 40.
E há muito que estou para agradecer a incrível gentileza de Maria Claudia Ribeiro, de São Paulo, que, ao ler uma coluna em que eu falava de minha admiração por Mandrake, o Mágico, presenteou-me com 44 números da revista em edições dos anos 50, alguns dos quais eu conhecia da época e que se perderam no tempo enquanto eu me perdia pela vida.
Não deviam fazer isso comigo.
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