Telmo Martino morreu há 10 anos, no dia 3 de setembro. O silêncio da mídia fala tanto da nossa desmemória quanto do fato de que, no Brasil, o passado é um caixão sem alça, a ser levado nos ombros. Depois de ter sido, de 1971 a 1986, o colunista mais lido da imprensa paulistana —seu veículo era o Jornal da Tarde, no auge—, Telmo tem sido ignorado até em reportagens retrospectivas.
Fomos amigos por 45 anos. Conheci-o em 1968, na revista Diners, dirigida por Paulo Francis, aqui no Rio. A revista era um house organ para os assinantes do cartão, que a esnobavam, mas disputada pelos que viam nela a herdeira da lendária Senhor (1958-1964). Mês sim, mês não, Telmo fazia crítica de livros, implacável para com os medalhões. No dia a dia, no entanto, era a alma e a arma secretas da revista: compunha com Francis os insuperáveis títulos e subtítulos dos artigos e retocava o estilo de colaboradores como Joel Silveira, Glauber Rocha, Armando Nogueira.
No fim do ano, Francis foi preso no AI-5 e o Diners extinguiu a revista. Telmo foi ser ghost writer do colunista Daniel Más no Correio da Manhã, consagrando Daniel. Em 1971, o JT lhe ofereceu uma coluna assinada, e lá se foi Telmo para São Paulo, onde, com humor e sagacidade, criou seu panteão de personagens: os belos e deuses e os jecas e fakes, eleitos por ele. Isso lhe valeu amores e ódios, por fim reduzidos nos anos 90 a uma triste indiferença, provocada, em parte, pelo cansaço do próprio Telmo.
Não haverá futuro para ele. Telmo será esquecido, na razão direta de que, com exceções, as pessoas que ele endeusou ou demoliu também já estão sendo. Talvez porque fossem miragens que, pró ou contra, só existissem na sua coluna.
Ele pressentia esse fim. Certa vez, me telefonou: "Ruyzito, aqui é Telmo Martino, vivendo seus últimos dias". E eram mesmo. Mas que só chegariam em 2013 —e esse telefonema foi em 2006.
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