domingo, 16 de abril de 2023

Hélio Schwartsman- Com fins lucrativos, FSP

 Podemos confiar em corporações? Não faltam exemplos a sugerir que não. Basta lembrar a crise econômica de 2008, que teve como ingrediente a ação desregulada de empresas do setor financeiro em busca de lucros exorbitantes. E a lista de "crimes" cometidos por corporações pode ser ampliada significativamente. Epidemia de opioides? Há farmacêuticas envolvidas. Mudança climática? As big oil têm algo a ver com isso. Misérias do colonialismo? Ponha a culpa na Companhia das Índias Orientais. Há até quem atribua às primeiras corporações a responsabilidade pela queda da República romana.

Obviamente, há também um outro lado da história. O mundo dificilmente teria alcançado os níveis de riqueza material que alcançou só com estatais e pequenas empresas. Também entram na lista de realizações positivas de corporações a Renascença (financiada pelo banco dos Medici) e a integração dos EUA (cortesia da ferrovia transcontinental), entre outros itens.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 16 de abril de 2023, mostra uma cena renascentista na qual o banqueiro e mecenas Lorenzo di Medici dá uma moeda de ouro ao pintor Sandro Botticelli.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman publicada neste domingo (26) na versão impressa da Folha de S.Paulo - Annette Schwartsman

William Magnuson, em "For Profit" (com fins lucrativos), traça uma fascinante história das corporações, mostrando sua força, sem esconder suas maldades. Originalmente, essas empresas recebiam um mandato do Estado para desenvolver atividades de interesse público. As primeiras surgiram na Roma antiga. Elas tinham "ações" negociadas no Fórum e cuidavam de toda a logística da República.

Gostei particularmente do capítulo sobre os Medici. O fundador da casa bancária, Giovanni Medici, era especializado em direito canônico, o que lhe permitiu criar esquemas de empréstimo que contornavam as leis da igreja contra a usura. Os juros vinham disfarçados sob a roupagem de operações de câmbio. O sujeito fazia o empréstimo em florins, mas pagava numa outra moeda.

Corporações são basicamente pessoas se juntando num tipo de associação que, equilibrando-se precariamente entre o lucro e o interesse público, acabam criando soluções inovadoras para problemas.


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