Wolfram Eilenberger encontrou uma fórmula de sucesso para escrever sobre filosofia para o grande público. Ele faz um "blend" de filósofos que tenham vivido na mesma época e tratado de problemas até certo ponto contíguos, escolhe uma década marcante para todos e a partir daí vai desfilando suas biografias com uma exposição bastante competente e didática de suas ideias.
Eilenberger testou essa receita em "Tempo de Mágicos", que já comentei aqui, e agora a repete, em versão feminina, em "As Visionárias". No primeiro livro, os pensadores escolhidos foram Walter Benjamin, Martin Heidegger, Ernst Cassirer e Ludwig Wittgenstein. No segundo, são Simone de Beauvoir, Simone Weil, Ayn Rand e Hannah Arendt.
Minha maior crítica ao livro é a inclusão de Ayn Rand, autora de "A Nascente" e "A Revolta de Atlas". Até entendo que ela também refletiu sobre liberdade e opressão. Reconheço ainda traços que a tornam biograficamente valiosa: fugiu da URSS e fez incursões em Hollywood e na Broadway. O problema é que, tanto literária quanto filosoficamente, ela não está à altura das outras três. Ela me parece muito maniqueísta para figurar entre as grandes filósofas do século 20.
A presença de Rand, é claro, não estraga a obra, que, insisto, consegue um equilíbrio quase mágico entre reflexão e ação. Ao mesmo tempo em que discorre sobre as especificidades do existencialismo de Beauvoir, descreve suas muitas aventuras sexuais, com homens e mulheres; ao mesmo tempo em que analisa as sutis ideias de Weil sobre a automação, narra a participação da filósofa na Guerra Civil espanhola, seus planos de saltar de paraquedas na França ocupada e sua conversão a uma versão mística do catolicismo.
Em tempos em que palavras de ordem ameaçam tomar o lugar das reflexões, é legal ver escritores popularizando as ideias de filósofos. Também é legal mostrar que mulheres têm lugar de destaque nesse palco.
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