pelas cenas de drogas e violência
Uma longa crise econômica no País, amplificada pela pandemia, e projetos de revitalização que pararam no meio do caminho ou não surtiram o efeito desejado transformaram o centro de São Paulo em um cenário de tristeza e preocupação para moradores, comerciantes e trabalhadores. Imóveis fechados à espera de inquilinos que talvez não voltem e ruas escuras, por causa do roubo dos fios da iluminação pública, são o palco de uma escalada de violência, com ações policiais contra dependentes químicos e saques de farmácias e supermercados.
Também entram na lista as gangues de assaltantes de bicicleta, moradores em situação de rua que não podem armar as barracas durante o dia e até seguranças que escoltam clientes dos carros aos de bares e restaurantes.
Para entender o que acontece com o centro hoje, o Estadão ouviu cinco pessoas que vivem o cotidiano de medo, tensão e algum respiro. Formam esse caleidoscópio dependentes químicos, famílias em situação de rua, um morador das antigas, um comerciante e uma profissional de saúde que trazem vozes distintas e complementares – ou não – sobre o velho centrão.
Intervenções
Procurado, o governo paulista afirmou que vem realizando um trabalho integrado de ações nas cenas abertas de uso de drogas na região central da capital.
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A Secretaria de Segurança Pública criou uma plataforma de diagnóstico criminal completo das ações de segurança e delitos cometidos na região. Os dados de roubos e furtos serão atualizados semanalmente, o que, afirma, ajudará na elaboração de políticas públicas para área, além da publicação de ações realizadas pelas polícias, como presos, drogas apreendidas, entre outros. Assim como também uma contagem por georreferenciamento com a média diária de usuários de substâncias psicoativas nas Cenas Abertas de Uso da região central da cidade.
Já a Prefeitura alegou investir no Programa Redenção, que oferece tratamento pela abstinência ou pela redução de danos, conforme a necessidade do paciente. E realizou a ampliação da Operação Delegada, além de prever a instalação de 2.500 câmeras.
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Comércio afetado
O empresário Aldino Magalhães dirige o mesmo restaurante há 35 anos na Alameda Barão de Limeira, na região dos Campos Elísios. Ele leva adiante o negócio inaugurado pelo avô português há seis décadas. É a terceira geração, não chegou ontem ao centro. Com o olhar de quem já viu empresas e pessoas indo e vindo, o comerciante de 51 anos baixa os olhos com lamento ao falar sobre o endereço histórico. “É o pior momento da história do restaurante.”
As coisas estão mais difíceis até que em relação à pandemia, dois anos atrás, quando muitas empresas fecharam, levando as equipes para o home office, e deixaram prédios vazios. Naquela época, Aldino conta que se endividou, reduziu o número de funcionários de 12 para 3 (hoje são 5) e apertou os cintos. No começo da quarentena, a queda foi de 30%. Hoje, a redução beira os 50%. As mesas vazias no endereço histórico são, na opinião do comerciante, o reflexo do abandono da região.
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“Abandono e descaso. Não me lembro dessa violência e agressividade antes da pandemia, assim como o excesso de moradores de rua. Temos problemas sério de falta de segurança e até de limpeza urbana, com acúmulo de lixo nas calçadas.”
As invasões e saques em um minimercado e uma farmácia na Avenida São João, no dia 7, levaram a novas medidas de segurança no estabelecimento. Os funcionários já foram avisados de que devem fechar as portas diante de qualquer tumulto ou aglomeração. “A gente fica com medo, não dá para ficar seguro”, diz Aldino.
Embora a Cracolândia seja um problema nevrálgico para o comércio, Andino diz compreender o sofrimento dos dependentes químicos, e que eles precisam, antes de tudo, de tratamento. “A gente percebe que sofrem. Eles estão jogados na rua. A gente quer uma solução para o bairro, para o comércio e para eles.”
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