quarta-feira, 26 de abril de 2023

Não cabe a mim dizer se Crimeia e Donbass são da Ucrânia ou da Rússia', afirma Lula, FSP

 

MADRI

Ainda lidando com as repercussões negativas de suas declarações sobre a Guerra da Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se esquivou nesta quarta-feira (26) de uma pergunta sobre se considerava os territórios da Crimeia e do Donbass ucranianos ou russos.

"Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia ou o Donbass. Quando você senta numa mesa de negociação, pode discutir qualquer coisa, até a Crimeia. Quem tem que discutir isso são os russos ou os ucranianos", respondeu o líder brasileiro a um jornalista espanhol após reunião de pouco mais de uma hora com o premiê espanhol Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa, sede do governo em Madri.

A Crimeia é uma península no Mar Negro que pertenceu à Rússia por séculos. Em 1954, foi cedida à Ucrânia pela União Soviética e foi anexada pelo governo de Vladimir Putin em 2014. O Donbass foi invadido pela Rússia no início da atual guerra. Ambos os territórios são áreas que Zelenski exige que sejam desocupados como pré-requisito para iniciar quaisquer negociações de paz.

"Eu acho que discussão sobre a guerra está errada", prosseguiu Lula no evento espanhol. "A ONU que me perdoe. A ONU já poderia ter convocado algumas sessões extraordinárias para discutir a guerra. Por que não fez? Porque não interessa a guerra nem à Ucrânia, não deveria interessar a Rússia e não interessa à Europa e nem ao Brasil."

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista coletiva ao lado do premiê espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa, em Madri
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista coletiva ao lado do premiê espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa, em Madri - Thomas Coex/AFP

Recentemente, Lula sugeriu que talvez a Ucrânia tivesse que ceder território para chegar à paz. Depois, reiterou diversas vezes que condenava a invasão territorial.

Apenas duas perguntas foram permitidas à mídia que acompanhou o encontro, uma para a imprensa espanhola, e a outra, para a brasileira. Ambas tiveram o conflito que se desenrola na Ucrânia como tema. A reunião entre os líderes durou cerca de uma hora na manhã desta quarta. Após isso, fizeram breves discursos e responderam às perguntas.

O premiê espanhol informou alguns dos temas tratados a portas fechadas. "Falamos do valor da civilização contra a barbárie, coisas que aconteceram tanto em Washington como em Brasília. O Brasil se tornou desde o ano passado o nosso principal parceiro comercial. No âmbito cultural, Brasil acolhe o maior número de institutos Cervantes no mundo. Queremos implementar o ensino obrigatório de espanhol nas escolas brasileiras", disse Sánchez.

Lula, por sua vez, lembrou que "a Espanha é nosso segundo maior investidor. Existem 15 milhões de descendentes de espanhóis no Brasil. E o meu time de futebol, Corinthians, foi fundado por espanhóis. Portanto tenho muito a ver com a Espanha".

Três acordos foram oficializados no evento. Um memorando sobre cooperação universitária, outro entre os ministérios do Trabalho dos dois países e uma carta de intenções na área de ciências, tecnologia e inovação foram assinados pelos respectivos ministros.

Depois da reunião, o presidente brasileiro almoçaria com o rei Felipe 6° no Palácio Real, em evento sem acesso à imprensa. Ele chegou à Espanha na terça (25) para dois dias de compromissos após a passagem de seis dias por Portugal. Do almoço, Lula seguiria direto para o aeroporto, encerrando a visita à Península Ibérica.

Segundo informações do governo espanhol, o encontro entre os líderes teve três temas principais. O primeiro deles foi relançar a relação bilateral, uma das mais estratégicas para a Espanha a nível latino e global.

"Somos o segundo investidor mundial no Brasil, atrás dos Estados Unidos, e relançar essa relação é importante, após um período suspenso em que Bolsonaro em que não houve contatos de alto nível entre os governos", afirmou a diretora de Assuntos Exteriores do governo, Emma Aparici.

No âmbito regional, a Espanha quer investir na colaboração estratégica entre União Europeia e América Latina. Globalmente, de acordo com a diretora, "o governo de Lula se propôs a recuperar o prestígio de Brasil como ator global. Então é um momento de abordarmos isso. A Espanha dá as boas-vindas à volta do Brasil ao debate mundial.

Além da guerra, os líderes discutiram "outros assuntos globais, como a luta climática. De que maneira Espanha e Brasil podem fazer disso uma grande prioridade?", disse Aparici.

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