domingo, 23 de abril de 2023

Força primária, editorial FSP

 Mesmo em meio à estagnação da economia e à dificuldade para superar limites estreitos de crescimento, o país continua a se destacar na produção e comércio de matérias-primas, o que proporciona fundamental colchão de divisas e vigor em amplas regiões do país.

A base da expansão se dá no agronegócio, que continua a ampliar a rentabilidade por área plantada e os saldos comerciais com o exterior. No caso dos grãos, a safra 2022-23 terá aumento de 15% ante o ano anterior —equivalente a 40 milhões de toneladas, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Com plantio e clima favoráveis, é o maior salto quantitativo em anos, e num contexto de preços internacionais ainda altos.

Em março, a balança comercial do agronegócio registrou saldo positivo de US$ 8,56 bilhões, superando com folga o déficit de US$ 2,83 bilhões registrado pelo restante da pauta em termos agregados. Além da soja, contam para isso produtos como milho, celulose, sucos e toda a cadeia de proteína animal.

Mais impressionante é o resultado de US$ 142,66 bilhões acumulado nos 12 meses encerrados em janeiro deste ano, valor 29,6% maior que no período anterior, quando o restante da economia registrou déficit externo de US$ 78,6 bilhões.

Acompanhando o dinamismo da agricultura e da pecuária, deve crescer a importância da área extrativa, com foco na produção de óleo e gás. Pesquisadores da Fundação Getulio Vargas estimam que a atividade dos campos do pré-sal possa levar o país à marca de 6 milhões de barris diários até 2030.

No ano passado, o saldo comercial do setor foi positivo em US$ 20,5 bilhões. Cumpre que o governo federal não estrague tal desemprenho com o retorno de práticas intervencionistas como controle de preços e medidas nefastas como impostos de exportação.

Além da receita em moeda forte, o impacto do campo extrativo no pagamento de impostos, royalties e contribuições também será fundamental, inclusive para controlar o endividamento público.

O mesmo estudo da FGV aponta para receitas de cerca 1,9% do Produto Interno Bruto entre 2023 e 2031, ante uma média de 0,68% do PIB no período 2001-2020.

No geral, trata-se de desempenho notável. Em vez de sancionar críticas ligeiras à primarização, deve-se reconhecer a contribuição desses setores. Salvaguardar um bom uso das receitas fiscais para políticas públicas que ampliem o crescimento potencial da economia é necessário para que o país não volte a desperdiçar oportunidades.

editoriais@grupofolha.com.br

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