"Democracia só vale na possibilidade de alternância de poder. Quem sucede não é uma pessoa, mas um projeto de nação. Sucede para superar e não para aniquilar o diferente e o adversário."
Esses princípios foram realçados pelo sociólogo José de Souza Martins, em artigo publicado no jornal Valor, dias antes das eleições do último domingo. (*)
Martins imaginou o que poderia ocorrer com a vitória de cada candidato à Presidência.
Num país dividido, com elevado grau de intolerância, sugeriu modos "para que nos reencontremos na consciência de que a sociedade é a unidade do diverso e não a desunião do único e da linha reta".
A seguir, trechos do artigo:
- Se vencer Bolsonaro, o país amanhecerá com um desafio de, nas sombras de seu obscurantismo, se reconstruir, no marco das tradições inconformistas e poéticas do povo brasileiro. O de reencontrar-se como nação da esperança a partir dos valores e possibilidades da Constituição de 1988.
- Se vencer Lula, ele, o PT e os grupos também democráticos não petistas terão que compreender os complexos desafios de superar o autoritarismo residual da ditadura de 1964. E viabilizar o diálogo entre a sociedade civil e as Forças Armadas, para que se convençam de que sua missão histórica não é a de tutelar a sociedade nem tratá-la como inimiga do Estado.
- O Brasil não é um quartel, não é uma confraria religiosa, não é um curral político, não é um cercadinho de bajuladores de porta de palácio.
- Se as Forças Armadas não compreenderem que a modernidade democrática é a da sociedade pluralista, diversificada, diferençada e não a de direita e menos ainda de extrema direita, nos bloquearão no meio do caminho.
- Muitos dos que se supõem democratas entendem que democracia é o direito de expressar e impor à sociedade sua vontade pessoal. (...) Acham que a sociedade não existe como um ser coletivo que pode ser posto em risco por qualquer deslize derivado de vontades pessoais. Bolsonaro tem optado por essa concepção antidemocrática de democracia.
- Com razão, o erudito pastor batista Ed René Kivitz, reconhecidamente competente teólogo e exegeta, tem insistido em que o que está em jogo nesta eleição não é corrupção. O que está em jogo é o marco civilizatório que regulará o nosso destino como nação.
José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP
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