domingo, 3 de julho de 2022

Mulheres que denunciaram Pedro Guimarães escreveram página memorável, Elio Gaspari -FSP

 As mulheres que denunciaram Pedro Guimarães ao Ministério Público escreveram uma memorável página no combate ao assédio sexual.

Sobretudo no serviço público, o Brasil não será mais o mesmo.

Protesto contra as denúncias de assédio contra o então presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimães diante da sede do banco, em Brasília - Gabriela Biló - 29.Jun.2022/Folhapress

OUTRO HOMEM PODEROSO

O humor testicocéfalo de Roberto Campos (1917-2001), farol do liberalismo nacional e cérebro das reformas do governo Castello Branco, produziu em junho de 1988 um artigo intitulado "Elas gostam de apanhar...".

Campos era senador por Mato Grosso, estava na Constituinte e publicou o texto na Folha de S.Paulo, criticando os excessos paternalistas dos colegas. Usou a seguinte epígrafe, referindo-se a uma conversa sua com Nelson Rodrigues: Nelson, você acredita que as mulheres gostam de apanhar? (...)

Não, Roberto, nem todas gostam de apanhar. Só as normais.

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Campos voltou ao assunto no artigo, criticando uma proposta para que a Constituição dissesse que "o Estado assegura a assistência à família na pessoa dos membros que a integram criando mecanismos para coibir a violência no âmbito destas relações".

Ele ironizava a emenda:

"Pelo que entendi, criar-se-á um mecanismo pelo qual um burocrata apartará as brigas domésticas, impedindo que os pais sejam cruéis nas palmadas ou que os maridos batam nas mulheres".

Mais adiante, dizia:

"É bondade exagerada dos burocratas intervirem nos conflitos do lar. Torna-se até uma violação dos direitos humanos, a julgar pela tese, nunca desmentida cientificamente, do meu saudoso amigo, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Tinha ele por verdade axiomática que as mulheres gostam de apanhar. Pelo menos as ‘normais’... A Constituição não deve privá-las desse direito".

(Sete anos antes, Campos havia sido esfaqueado por uma ex-namorada que protegia colocando-a na Embaixada do Brasil em Paris. Demitida por falar demais, a senhora foi para Londres, com mesada da empreiteira Odebrecht. A facada aconteceu no meio de uma discussão imobiliária. Campos não a denunciou e nunca desmentiu a versão de que teria sido assaltado no centro de São Paulo. Quando a senhora publicou suas memórias, outro empreiteiro comprou toda a edição, mas alguns exemplares escaparam-lhe.)

ARQUEOLOGIA

Durante o governo Bolsonaro, um motorista da Caixa Econômica foi demitido por ter comentado o que ouviu no carro em que havia transportado Pedro Guimarães, presidente do banco.

Guimarães teria narrado proezas da noite anterior.

A demissão fez com que o motorista recorresse à Justiça.

Sabe-se lá o que aconteceu com o processo.

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