As mulheres que denunciaram Pedro Guimarães ao Ministério Público escreveram uma memorável página no combate ao assédio sexual.
Sobretudo no serviço público, o Brasil não será mais o mesmo.
OUTRO HOMEM PODEROSO
O humor testicocéfalo de Roberto Campos (1917-2001), farol do liberalismo nacional e cérebro das reformas do governo Castello Branco, produziu em junho de 1988 um artigo intitulado "Elas gostam de apanhar...".
Campos era senador por Mato Grosso, estava na Constituinte e publicou o texto na Folha de S.Paulo, criticando os excessos paternalistas dos colegas. Usou a seguinte epígrafe, referindo-se a uma conversa sua com Nelson Rodrigues: Nelson, você acredita que as mulheres gostam de apanhar? (...)
Não, Roberto, nem todas gostam de apanhar. Só as normais.
Campos voltou ao assunto no artigo, criticando uma proposta para que a Constituição dissesse que "o Estado assegura a assistência à família na pessoa dos membros que a integram criando mecanismos para coibir a violência no âmbito destas relações".
Ele ironizava a emenda:
"Pelo que entendi, criar-se-á um mecanismo pelo qual um burocrata apartará as brigas domésticas, impedindo que os pais sejam cruéis nas palmadas ou que os maridos batam nas mulheres".
Mais adiante, dizia:
"É bondade exagerada dos burocratas intervirem nos conflitos do lar. Torna-se até uma violação dos direitos humanos, a julgar pela tese, nunca desmentida cientificamente, do meu saudoso amigo, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Tinha ele por verdade axiomática que as mulheres gostam de apanhar. Pelo menos as ‘normais’... A Constituição não deve privá-las desse direito".
(Sete anos antes, Campos havia sido esfaqueado por uma ex-namorada que protegia colocando-a na Embaixada do Brasil em Paris. Demitida por falar demais, a senhora foi para Londres, com mesada da empreiteira Odebrecht. A facada aconteceu no meio de uma discussão imobiliária. Campos não a denunciou e nunca desmentiu a versão de que teria sido assaltado no centro de São Paulo. Quando a senhora publicou suas memórias, outro empreiteiro comprou toda a edição, mas alguns exemplares escaparam-lhe.)
ARQUEOLOGIA
Durante o governo Bolsonaro, um motorista da Caixa Econômica foi demitido por ter comentado o que ouviu no carro em que havia transportado Pedro Guimarães, presidente do banco.
Guimarães teria narrado proezas da noite anterior.
A demissão fez com que o motorista recorresse à Justiça.
Sabe-se lá o que aconteceu com o processo.
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