É bom o último livro de John McWhorter. Mas, antes de comentar "Woke Racism", talvez seja bom falar um pouco sobre o autor. McWhorter é um linguista de primeira. Especializado em idiomas crioulos, dá aulas em Columbia. Antes, lecionou em Cornell e na Universidade da Califórnia, Berkeley. É colunista do New York Times. McWhorter pode ser descrito como um homem de esquerda. Sempre apoiou os democratas e defende o direito ao aborto e a legalização das drogas. É ateu. Mais importante, McWhorter é negro e pode ser descrito como um militante contra o racismo.
"Woke Racism" é um livro incômodo porque nele McWhorter bate forte no antirracismo de terceira geração, que vem ganhando espaço na esquerda cultural americana. Para ele, ao contrário do antirracismo de primeira e segunda gerações, que lutou pelos direitos civis e trouxe ganhos para a qualidade de vida dos negros, o de terceira está fazendo mal às comunidades e à própria sociedade americana, que não consegue mais debater certas questões. McWhorter diz que o novo antirracismo se tornou uma religião. Não se trata de figura retórica. Para o autor, o movimento "woke" tem todos os elementos que um antropólogo precisaria para considerá-lo uma religião secular, com dogmas fora do alcance da lógica e sessões de cancelamento de "heréticos" conduzidas com fervor evangélico.
Segundo McWhorter, melhor do que perseguir e cancelar pessoas que ousam discordar da nova ortodoxia antirracista seria buscar medidas concretas que contribuam para reduzir a desigualdade racial. Ele cita especificamente o fim da guerra às drogas e reformas educacionais, notadamente a adoção do método fônico no processo de alfabetização e a valorização do ensino profissionalizante.
Vale a pena ler a obra nem que seja para dela discordar. Afinal, rejeitar uma tese sem nem mesmo analisá-la racionalmente é atitude típica de religiosos, não de intelectuais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário