Morreu na madrugada desta quarta-feira (10) o jornalista Hélio Fernandes, aos 100 anos, de causas naturais. Ele estava em sua casa, no Rio de Janeiro, ao lado de duas filhas.
Nome importante no jornalismo brasileiro e irmão do escritor Millôr Fernandes, Hélio trabalhou em O Cruzeiro e foi dono do jornal A Tribuna da Imprensa.
O corpo de Hélio será cremado na tarde desta quinta-feira (11), no cemitério do Caju, zona norte da cidade. A cerimônia deve ser restrita, devido à pandemia da Covid-19.
O jornalista deixa três filhos, Isabella, Ana Carolina e Bruno, e três netos, Felipe, Leticia e Helio. Dois filhos, Rodolfo Fernandes, que foi diretor de Redação do jornal O Globo, e Hélio Fernandes Filho, morreram em 2011.
Em 1962, Hélio assumiu a Tribuna da Imprensa, fundada por seu amigo Carlos Lacerda, ex-governador do então estado da Guanabara. Crítica ao ex-presidente João Goulart, a Tribuna apoiou o golpe de 1964, mas mudou de posição durante o regime.
"Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas", dizia editorial do jornal no dia 2 de abril daquele ano.
Ao longo da ditadura, Hélio foi preso diversas vezes e mandado para Fernando de Noronha (PE), Pirassununga (SP) e Campo Grande (MS).
"Olha, no começo a visão de todo mundo, inclusive minha, era deturpada. Realmente eles lançaram a ideia de que o país estava à beira de cair no regime comunista. A edição de 1º de abril, nós ficamos como todo o mundo. Nós não sabíamos bem o que era. Ninguém sabia", afirmou Hélio ao Observatório da Imprensa em 2014.
Em seu livro A Ditadura Escancarada, o colunista da Folha Elio Gaspari aponta a Tribuna da Imprensa como o jornal mais massacrado ao longo da ditadura.
"Sofreu mais de vinte apreensões, e teve censores dentro de seu prédio por dez anos e dois dias. Antes mesmo que Médici chegasse ao Planalto, o jornalista Hélio Fernandes, seu proprietário e alma panfletária, passara por quatro cadeias e dois desterros", escreveu Gaspari.
Em 1966, Hélio tentou ser candidato a deputado federal pelo MDB, mas teve os direitos políticos cassados pelos militares. Também foi proibido de assinar artigos, e por isso assumiu o pseudônimo de João da Silva.
"Eu nunca deixei de publicar coisa alguma, até mesmo na ditadura. Por isso eu fui muito preso. (...) O jornalismo não é uma profissão comum que você sai de casa às 8 horas e [volta] às 6 da tarde. No jornalismo você fica, você sai de casa e você fica. Você, digamos, é dominado pelo jornalismo", afirmou Hélio ao Observatório da Imprensa.
Mesmo aos 100 anos, o jornalista continuava a atualizar uma página no Facebook com opiniões sobre o cenário político e social do país.
"A arrogância, a imprudência, a incompetência de Bolsonaro são inéditas na história da República. O Brasil chegou a 200 mil mortes não foi por acaso, e sim pela irresponsabilidade total do presidente", publicou em janeiro.
Hélio foi vacinado contra o novo coronavírus no início de fevereiro, quando escreveu: "Eu, em meus 100 anos, fui dos primeiros, mas espero que toda a população brasileira tenha a possibilidade, a oportunidade de ser vacinada, o que é seu direito, e que isso não seja um privilégio para alguns. Que o SUS seja valorizado!"
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