Seres humanos, ao lado de buldogues e pugs, somos os piores respiradores do reino animal. Desde que aprendemos a cozinhar os alimentos, passamos a mastigar muito menos do que deveríamos, o que resultou numa série de deformações na mandíbula, nos sinos e na arcada dentária que prejudicam a respiração.
A opção por uma dieta com alimentos macios e as adaptações, especialmente na laringe, que deram maior maleabilidade a nosso aparelho fonador, não ajudaram. No caso das raças caninas citadas, nossa culpa é mais direta. Nós as selecionamos para apresentar a cara achatada, desconsiderando os impactos fisiológicos desse capricho estético.
E respirar mal tem um custo, que se mede numa série de doenças, algumas delas graves. Esse é o tema de "Breath" (respiração), do jornalista James Nestor. O livro é interessante e está calcado em boa ciência.
Nestor, porém, faz mais do que citar estudos médicos. Ele também narra suas experiências como cobaia de pesquisas, com direito a passar dias com as narinas obstruídas para verificar os efeitos deletérios de respirar só pela boca, e como "pulmonauta", isto é, como alguém que se dedica à arte de aprender a respirar melhor, embrenhando-se por comunidades místicas, correntes médicas esquecidas, yoga etc.
Uma dessas jornadas o trouxe a São Paulo, para conversar com um mestre yogui local.
O livro também tem um lado prático. O autor ensina várias técnicas de respiração que podem contribuir para uma vida mais saudável. A mais básica delas é respirar sempre pelo nariz, inspirando profundamente durante 5,5 segundos e expirando pelo mesmo tempo. Mas também há as mais sofisticadas, que, se você for dedicado, em tese lhe permitirão tomar banho em lagos congelados sem sentir frio e até passar por estados de consciência semelhantes aos provocados por drogas como o LSD.
Não experimentei nenhuma delas. Eu me satisfaço com os estudos médicos.
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