"Já é hora de fechar o livro das doenças infecciosas e declarar ganha a guerra contra a pestilência". A frase, que teria sido cunhada no final dos anos 60, é atribuída a William Stewart, que ocupava então o posto de cirurgião-geral dos EUA. Ele, porém, nunca a proferiu.
Pelo contrário, Stewart tentava combater o excesso de otimismo que os novos antibióticos despertavam na classe médica. Muitos estavam convencidos de que, com as novas classes de antimicrobianos desenvolvidas entre os anos 40 e os 60, o controle das infecções seria questão de tempo.
Esqueceram-se de combinar com Darwin. A resistência de bactérias a antibióticos e os mecanismos usados por vírus para evadir a resposta de sistemas imunes (e de vacinas) são fenômenos previstos pela seleção natural.
A base de tudo é a mutação. Mutações são essencialmente erros de cópia. A esmagadora maioria é letal ou neutra para o organismo. Uma fração delas --e seria tentador chamá-las de erros que deram errado virando um acerto-- lhes confere alguma vantagem competitiva, que tende então a fixar-se na população.
Os números não jogam a nosso favor. Se as gerações humanas se sucedem em pares de décadas, as de vírus e bactérias podem vir em horas. E cada humano doente carrega bilhões de patógenos. No caso da Covid-19, um infectado sintomático traz entre 104 e 107 cópias do vírus por mililitro de sangue. Um adulto tem entre 4,5 e 5,5 litros de sangue, e, obviamente, não é só nesse fluido que o vírus se aloja.
A moral da história é que, com tantas partículas virais se reproduzindo em intervalos tão curtos, se houver a possibilidade matemática de mutação que confira vantagem reprodutiva, ela acabará ocorrendo. E quanto mais gente doente houver na população, mais rápido ela virá.
Espero que a alta de casos no Brasil já seja resultado das variantes mais infecciosas, porque, se não for, a coisa ainda vai piorar muito.
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
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