Os dois mais importantes países da União Europeia —a Alemanha e a França— fecharam o cerco contra movimentos suspeitos de atividade e discurso de extrema direita.
Na Alemanha, o partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD), principal agremiação de oposição, foi colocado sob investigação do Escritório Federal de Proteção à Constituição (BfV, na sigla alemã). Já o governo francês vai banir o grupo de extrema direita Geração Identitária.
A decisão de vigiar o AfD foi tomada depois de dois anos de investigação sob a atividade xenófoba do partido. Advogados e especialistas em extremismo analisaram discursos de políticos da AfD e publicações na internet e concluíram que eles são suspeitos de extremismo e podem significar risco à democracia alemã.
Líderes do partido reagiram ao anúncio dizendo que há motivação eleitoral e afirmaram que vão recorrer à Justiça. Criada em 2013, a sigla tem um discurso abertamente contra imigrantes, principalmente muçulmanos, e cresceu após a crise dos refugiados de 2015, quando cerca de 2 milhões de imigrantes entraram na Alemanha.
Nas últimas eleições para o Parlamento alemão, em 2017, a AfD ficou em terceiro lugar, com 12,6% dos votos e 94 (13,3%) dos 709 deputados. Desde então, perdeu popularidade e recebeu críticas por sua retórica xenófoba após um ataque em Hanau no início do ano passado e pela participação em protestos que reuniram seus membros e terminaram em violência —num deles, manifestantes tentaram invadir o Parlamento.
Pesquisas recentes dão à AfD de 8% a 11% das intenções de voto para as eleições do segundo semestre.
As autoridades alemãs já tinham dissolvido no ano passado a ala extremista da AfD, chamada Flügel (asa), mas a agência de segurança diz que seus membros ainda mantêm influência preocupante na agremiação.
Em setembro, o partido também demitiu seu ex-porta-voz Christian Lüth por declarações em que ele sugere mandar imigrantes para a câmara de gás (a fala foi filmada sem que ele soubesse).
A nova decisão inclui escutas da comunicação entre os militantes do partido, com exceção de parlamentares eleitos e candidatos às eleições deste ano.
A AfD é o primeiro partido com representação no Parlamento alemão (Bundestag) a ficar sob vigilância do BfV, departamento criado após a Segunda Guerra Mundial para impedir a expansão de grupos extremistas. De 2007 a 2014, a agência investigou também A Esquerda, por causa de suas raízes no Partido Comunista da antiga Alemanha oriental.
A agência alemã não falou sobre a atual investigação, por causa de contestações judiciais. No ano passado, ao apresentar relatório sobre extremismo no país, o presidente da agência, Thomas Haldenwang, afirmou que o extremismo de direita e o terrorismo de extrema-direita eram o maior perigo para a democracia alemã.
Especialistas como o professor da Universidade de Würzburg Hans Joachim Lauth também consideram o extremismo de direita a principal ameaça à segurança interna da Alemanha no momento. Relatórios recentes mostraram crescimento de denúncias de extremismo em tropas armadas.
Foram 477 episódios investigados em 2020, uma alta de 30% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Serviço de Contra-Inteligência Militar. Casos ligados a neonazismo passaram de 16 para 31.
TENDÊNCIA PARA A MILÍCIA
Na França, o Ministério do Interior classificou nesta quarta (3) o Geração Identitária como “uma ideologia que incita ao ódio, à violência e à discriminação com base na origem, raça ou religião de alguém”.
O decreto apresentado pelo ministério afirma que atividades do grupo deixam claro que ele pretende atuar como milícia. Fundada em 2012, a Geração Identitária tem ramificações em vários países da Europa, está sob investigação na Áustria e, na Alemanha, é considerada de extrema direita.
O governo francês já havia levantado a possibilidade de proibir o grupo em janeiro, quando cerca de 30 de seus membros usaram um drone para "caçar" imigrantes ilegais na fronteira da França com a Espanha.
A agremiação tem relações também com o Reunião Nacional, partido de direita radical liderado por Marine Le Pen. O fundador do Geração Identitária francês, Damien Lefèfre, ingressou no RN e é hoje assistente do eurodeputado Philippe Olivier.
Em janeiro, o partido de direita atacou os planos do governo francês de banir o Geração Identitária chamando-os de atentado contra a liberdade de consciência, expressão e associação.
Em outubro, o governo francês também proibiu organizações consideradas extremistas islâmicas, após a decapitação do professor de história Samuel Paty por um refugiado tchetcheno.
“Não vamos deixar nenhum grupo, seja ele qual for, minar nossas leis ou nossos valores”, disse o porta-voz do governo do presidente Emannuel Macron nesta quarta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário