02/08/2018 14:25 | Entrevista | Da Redação - Fotos: José Antonio Teixeira
São mais de três décadas de jornalismo, sendo 17 anos dedicados exclusivamente à Assembleia Legislativa. Elegante e bom de papo, ele conseguiu um feito reservado a poucos que frequentam o Palácio 9 de Julho: ser querido e respeitado por parlamentares do governo e da oposição, assim como por funcionários dos mais diversos setores. Caminhando sem parar pelos corredores da Alesp para cobrir a intensa rotina do Legislativo paulista, sempre com ternos impecavelmente alinhados, Jorge Machado construiu uma frutífera carreira na TV Alesp, onde apura, pauta, coordena a equipe e apresenta variados programas.
Especializado em cobertura política, passou pelo Estadão, pela Rádio Eldorado, pela Rede Record e, imediatamente antes de encarar o desafio de cobrir o legislativo, trabalhou com o jornalista Florestan Fernandes Júnior na TV Senac. "Ele me convidou para participar de um novo projeto, que estava desenhado para a Câmara Municipal e para a Alesp. Acabei escolhendo a Alesp porque a Câmara era muito perto da minha casa e eu queria uma coisa diferente", conta.
Filho de pais analfabetos ("jornal só entrava em casa embrulhando peixes") e o mais velho entre quatro irmãos, precisou se tornar responsável precocemente. "Comecei a trabalhar com 11 anos de idade, em um restaurante perto de casa", lembra. "Depois em um bar, e então em uma loja, que pertencia a um professor de química. Eu ficava o dia inteiro na loja, ajudava até a corrigir provas. Até gostei, quase fui para a química [risos]!"
A decisão de seguir para o jornalismo veio de forma peculiar, que ele conta lançando mão de comparações. "Naquela época, meus cintos se desgastavam muito rapidamente já que a fivela riscava bastante o balcão, o que me obrigava a trocá-los", diz. "Como um grão de areia incomoda uma ostra, que reage e o recobre produzindo uma pérola, aquele cinto machucado me fazia ler e eu comprava o Jornal da Tarde diariamente. Quando fui para a faculdade, fui pensando: "quero escrever nesse jornal"."
Cursar uma faculdade particular, entretanto, não era uma possibilidade. Dos irmãos, foi o único a conseguir um diploma de ensino superior. "Meu pai foi contra, achava que pagar para estudar era sacrificar a família, que usar o dinheiro para isso diminuiria o nível de proteína dentro de casa." O reconhecimento familiar só veio mais tarde, quando Jorge foi contratado pela Rede Record e começou a trabalhar na televisão. "Meu pai ficou mais feliz quando me viu na TV [risos], tinha um status. Foi motivo de muita satisfação e alegria."
A partir da cidade de Poá, cursou jornalismo em Mogi das Cruzes, trabalhando durante os quatro anos para pagar os estudos. "Eu me arranquei do solo puxando os próprios cabelos. Foi uma fase difícil e um desembolso considerável. Praticamente não dormia, trabalhava de madrugada no Estadão e de manhã já saía para abrir a loja", relatou. Mais tarde, iniciou filosofia na Universidade de São Paulo (USP), mas não chegou a concluir.
Trajetória
Formou-se jornalista em 1985 e seu primeiro trabalho na área foi como revisor do Jornal da Tarde, no Estado de São Paulo. "O jornal era um processo industrial. O jornalista escrevia as laudas, que passavam pela digitação e depois pela revisão. Cada lauda era revisada por dois profissionais."
Com a introdução dos computadores, os setores de revisão foram reduzidos, o que aumentava a chance de erros acontecerem. Foi um deles que acabou lhe tirando o emprego. Em 1989, na ocasião da eleição presidencial disputada entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, o jornal decidiu publicar uma edição extra no dia seguinte, cobrindo o resultado. "Quando cheguei para trabalhar, estava demitido", conta. "Meu chefe mostrou a lauda revisada, com a minha assinatura. O texto "a política sempre acompanhou a carreira de Fernando Affonso Collor de Melo" saiu "a polícia sempre acompanhou". O erro é assim: você está escrevendo, lê quatro vezes, mas não vê. Depois ele sai publicado desse tamanho..."
Pouco tempo depois do episódio, lá estava Jorge na mesma empresa, agora para trabalhar na Agência de Notícias e na Rádio Eldorado. "Trabalhando na rádio, cobria política e economia, fazia entrevistas, boletins de trânsito e de tudo um pouco."
Naquele período, o então diretor da Record entrou em contato com o superior direto de Jorge. Ele procurava um repórter para trabalhar sobrevoando a cidade no helicóptero da emissora e, ouvindo os seus boletins de trânsito matinais, pensou que ele poderia ser a pessoa certa para desempenhar a função. "Ele perguntou para o meu chefe quanto eu ganhava e depois ligou para mim e fez a mesma pergunta". Jorge precisou até os centavos que ilustravam o seu holerite. "Ele respondeu: "venha aqui conversar comigo, mas já traga sua carteira de trabalho, você está contratado". Disse que foi o primeiro jornalista com quem conversou que não mentiu o salário! Me pagou o dobro do que recebia."
Ele trabalhou por oito anos na Record, até 1999. O trabalho seguinte foi na TV Senac, onde ficou por mais dois anos, quando veio para a TV Alesp.
Assembleia
O trabalho em uma tevê pública e legislativa trouxe perspectivas de inovar e exercer mais atividades. "Além da transmissão [das sessões plenárias], implementamos programas de estúdio e um jornal. Com isso, a ideia foi produzir jornalismo aqui dentro", diz. "Vim para cá como repórter e apresentador, mas faço de tudo: reportagem, produção, edição."
Consciente de seu papel profissional, Jorge afirma: "As pessoas têm a ideia de que o apresentador e o repórter são o cartão de visita de uma emissora, mas tenho muito claro que quem tem de aparecer é o produto do nosso trabalho, que aqui são os deputados. Faço os programas para que eles apareçam, e eles confiam muito nisso". Ele também diz que vê essas atividades como treinamento de mídia: "Digo que quem dá entrevista para a TV Alesp pode falar com qualquer outra tevê".
O poder influenciador da televisão é outra característica que sempre mantém em mente durante o trabalho. "Há pesquisas provando que a imagem do político influencia muito a escolha do voto. A tevê, que ajuda a formar essa imagem, é um veículo ao mesmo tempo poderoso e perigoso. Se a pessoa não tiver o devido preparo, pode até ser prejudicada."
Questionado se a cobertura jornalística externa da política é feita de forma negativa, Jorge defende que esse não é um fenômeno relacionado exclusivamente à Alesp. "Penso que a questão está exatamente na dificuldade de se mostrar o valor da política. Enquanto os políticos eram o polo de resistência à ditadura militar, eles ficavam na linha de frente dos palanques. Agora os papéis se inverteram e há pessoas chamando os militares [para assumir o poder]. As pessoas muitas vezes não têm noção do valor da democracia, houve quem desse a vida por ela, para termos, hoje, liberdades democráticas."
Nesse sentido, ele acredita que o Parlamento é um importante concentrador de discussões em busca de uma sociedade melhor e que esse papel já foi desempenhado pela Assembleia Legislativa diversas vezes, como no Fórum São Paulo Século XXI, realizado em 2000. "Foi uma das melhores coisas que aconteceram aqui, um dos maiores ganhos da Alesp. As melhores cabeças do país vieram discutir desenvolvimento. A Casa ficou pró-ativa, recebeu gente do mais alto gabarito, para pensar no futuro; era um polo irradiador de discussões sérias sobre planejamento." Outra ocasião semelhante foi o Fórum Legislativo de Desenvolvimento Econômico Sustentado, de 2003, que levou para todo no interior do Estado esse tipo de discussão.
"Grandes coisas já foram feitas, mas o Parlamento tem dificuldade de se promover, de dizer o que está fazendo. Há projetos de capilaridade, de extensão, com impacto na vida das pessoas. Nós jornalistas temos a responsabilidade de difundir isso, e temos a incumbência de polir a imagem dos políticos, em um momento difícil."
Posição política
Jorge se define como isento em relação a divergências ideológicas. É enfático ao dizer que "jornalista não tem partido e não pode ter" e deve a isso o bom trânsito que tem entre os parlamentares dos mais diversos espectros políticos. "Por isso me dou bem com todos os deputados, trafego em todos os partidos, sei qual é o meu papel e como desempenhá-lo."
Mesmo refratário a qualquer posicionamento partidário, ele se reconhece um apaixonado pelo tema e lembra do primeiro despertar para o assunto " justamente no primeiro ano de faculdade, em 1982, quando os militares ainda estavam no poder. "Quem não fosse do verde oliva ou não estivesse engajado com o propósito da revolução era contra a ditadura e achava que todos os males estavam associados a ela."
Jorge pondera que, apesar da censura e da violência do período, foi uma época de crescimento econômico. "Grande parte do Brasil nascia ali com as grandes ferrovias e as grandes hidrelétricas. Hoje estão desdenhando e jogando no lixo, mas se tem uma coisa que os militares fizeram foi colocar o Brasil no eixo. Saíram também por absoluta falta de sintonia com o restante da sociedade e com eles próprios."
Para Jorge, tudo passa pela política, a qual ele acredita ser instrumento de melhoria da vida das pessoas. "Acredito na política transformadora " não a do mecenas, do salvador, não é isso. É arregaçarmos as mangas e fazermos nossa parte, não deixarmos que o Estado faça por nós."
Entretanto, Jorge reconhece, cresce entre os brasileiros o sentimento de rejeição à política, especialmente a partidária, que vem sendo "criminalizada". "Uma parcela da população acha que dá para fazer política sem partidos, como os que, em 2013, foram para as ruas por causa dos 20 centavos. Acham que se mudam as coisas fazendo pressão direta sobre o governo e o Parlamento, quando é pelo voto que isso acontece."
"Os debates hoje estão esterilizados", afirma. "Deveríamos discutir mais, trocar mais argumentos, ver propostas, realizar audiências públicas, mas chegamos a um ponto de intransigência em que as pessoas só falam para si mesmas", diz. Para ele, o algoritmo que forma bolhas nas redes sociais é "uma chaga moderna". "Ele corrobora essa esterilidade porque faz com que só se veja o que reforça o nosso ponto de vista, não se vê o contrário, não se veem contrapontos, não se formam argumentos. Portanto, nunca se sai do mesmo lugar, e, pelo contrário, exacerbam-se os preconceitos".
Figura de destaque há tempos na Casa, sempre atento ao funcionamento e aos acontecimentos dela, resume a Alesp: "O Estado São Paulo passa pelo Parlamento, pelo Palácio 9 de Julho. Dos Poderes, este é o mais próximo do cidadão. É a casa do povo, sim. É no Parlamento que se projeta o futuro, que se fazem as escolhas. Esta Casa tem essa vocação, só precisa se redescobrir, dialogar melhor com a sociedade, ser um polo irradiador da política, como já foi. Precisamos ampliar os canais de debate e comunicação, esse é o nosso papel como jornalistas".
Especializado em cobertura política, passou pelo Estadão, pela Rádio Eldorado, pela Rede Record e, imediatamente antes de encarar o desafio de cobrir o legislativo, trabalhou com o jornalista Florestan Fernandes Júnior na TV Senac. "Ele me convidou para participar de um novo projeto, que estava desenhado para a Câmara Municipal e para a Alesp. Acabei escolhendo a Alesp porque a Câmara era muito perto da minha casa e eu queria uma coisa diferente", conta.
Filho de pais analfabetos ("jornal só entrava em casa embrulhando peixes") e o mais velho entre quatro irmãos, precisou se tornar responsável precocemente. "Comecei a trabalhar com 11 anos de idade, em um restaurante perto de casa", lembra. "Depois em um bar, e então em uma loja, que pertencia a um professor de química. Eu ficava o dia inteiro na loja, ajudava até a corrigir provas. Até gostei, quase fui para a química [risos]!"
A decisão de seguir para o jornalismo veio de forma peculiar, que ele conta lançando mão de comparações. "Naquela época, meus cintos se desgastavam muito rapidamente já que a fivela riscava bastante o balcão, o que me obrigava a trocá-los", diz. "Como um grão de areia incomoda uma ostra, que reage e o recobre produzindo uma pérola, aquele cinto machucado me fazia ler e eu comprava o Jornal da Tarde diariamente. Quando fui para a faculdade, fui pensando: "quero escrever nesse jornal"."
Cursar uma faculdade particular, entretanto, não era uma possibilidade. Dos irmãos, foi o único a conseguir um diploma de ensino superior. "Meu pai foi contra, achava que pagar para estudar era sacrificar a família, que usar o dinheiro para isso diminuiria o nível de proteína dentro de casa." O reconhecimento familiar só veio mais tarde, quando Jorge foi contratado pela Rede Record e começou a trabalhar na televisão. "Meu pai ficou mais feliz quando me viu na TV [risos], tinha um status. Foi motivo de muita satisfação e alegria."
A partir da cidade de Poá, cursou jornalismo em Mogi das Cruzes, trabalhando durante os quatro anos para pagar os estudos. "Eu me arranquei do solo puxando os próprios cabelos. Foi uma fase difícil e um desembolso considerável. Praticamente não dormia, trabalhava de madrugada no Estadão e de manhã já saía para abrir a loja", relatou. Mais tarde, iniciou filosofia na Universidade de São Paulo (USP), mas não chegou a concluir.
Trajetória
Formou-se jornalista em 1985 e seu primeiro trabalho na área foi como revisor do Jornal da Tarde, no Estado de São Paulo. "O jornal era um processo industrial. O jornalista escrevia as laudas, que passavam pela digitação e depois pela revisão. Cada lauda era revisada por dois profissionais."
Com a introdução dos computadores, os setores de revisão foram reduzidos, o que aumentava a chance de erros acontecerem. Foi um deles que acabou lhe tirando o emprego. Em 1989, na ocasião da eleição presidencial disputada entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, o jornal decidiu publicar uma edição extra no dia seguinte, cobrindo o resultado. "Quando cheguei para trabalhar, estava demitido", conta. "Meu chefe mostrou a lauda revisada, com a minha assinatura. O texto "a política sempre acompanhou a carreira de Fernando Affonso Collor de Melo" saiu "a polícia sempre acompanhou". O erro é assim: você está escrevendo, lê quatro vezes, mas não vê. Depois ele sai publicado desse tamanho..."
Pouco tempo depois do episódio, lá estava Jorge na mesma empresa, agora para trabalhar na Agência de Notícias e na Rádio Eldorado. "Trabalhando na rádio, cobria política e economia, fazia entrevistas, boletins de trânsito e de tudo um pouco."
Naquele período, o então diretor da Record entrou em contato com o superior direto de Jorge. Ele procurava um repórter para trabalhar sobrevoando a cidade no helicóptero da emissora e, ouvindo os seus boletins de trânsito matinais, pensou que ele poderia ser a pessoa certa para desempenhar a função. "Ele perguntou para o meu chefe quanto eu ganhava e depois ligou para mim e fez a mesma pergunta". Jorge precisou até os centavos que ilustravam o seu holerite. "Ele respondeu: "venha aqui conversar comigo, mas já traga sua carteira de trabalho, você está contratado". Disse que foi o primeiro jornalista com quem conversou que não mentiu o salário! Me pagou o dobro do que recebia."
Ele trabalhou por oito anos na Record, até 1999. O trabalho seguinte foi na TV Senac, onde ficou por mais dois anos, quando veio para a TV Alesp.
Assembleia
O trabalho em uma tevê pública e legislativa trouxe perspectivas de inovar e exercer mais atividades. "Além da transmissão [das sessões plenárias], implementamos programas de estúdio e um jornal. Com isso, a ideia foi produzir jornalismo aqui dentro", diz. "Vim para cá como repórter e apresentador, mas faço de tudo: reportagem, produção, edição."
Consciente de seu papel profissional, Jorge afirma: "As pessoas têm a ideia de que o apresentador e o repórter são o cartão de visita de uma emissora, mas tenho muito claro que quem tem de aparecer é o produto do nosso trabalho, que aqui são os deputados. Faço os programas para que eles apareçam, e eles confiam muito nisso". Ele também diz que vê essas atividades como treinamento de mídia: "Digo que quem dá entrevista para a TV Alesp pode falar com qualquer outra tevê".
O poder influenciador da televisão é outra característica que sempre mantém em mente durante o trabalho. "Há pesquisas provando que a imagem do político influencia muito a escolha do voto. A tevê, que ajuda a formar essa imagem, é um veículo ao mesmo tempo poderoso e perigoso. Se a pessoa não tiver o devido preparo, pode até ser prejudicada."
Questionado se a cobertura jornalística externa da política é feita de forma negativa, Jorge defende que esse não é um fenômeno relacionado exclusivamente à Alesp. "Penso que a questão está exatamente na dificuldade de se mostrar o valor da política. Enquanto os políticos eram o polo de resistência à ditadura militar, eles ficavam na linha de frente dos palanques. Agora os papéis se inverteram e há pessoas chamando os militares [para assumir o poder]. As pessoas muitas vezes não têm noção do valor da democracia, houve quem desse a vida por ela, para termos, hoje, liberdades democráticas."
Nesse sentido, ele acredita que o Parlamento é um importante concentrador de discussões em busca de uma sociedade melhor e que esse papel já foi desempenhado pela Assembleia Legislativa diversas vezes, como no Fórum São Paulo Século XXI, realizado em 2000. "Foi uma das melhores coisas que aconteceram aqui, um dos maiores ganhos da Alesp. As melhores cabeças do país vieram discutir desenvolvimento. A Casa ficou pró-ativa, recebeu gente do mais alto gabarito, para pensar no futuro; era um polo irradiador de discussões sérias sobre planejamento." Outra ocasião semelhante foi o Fórum Legislativo de Desenvolvimento Econômico Sustentado, de 2003, que levou para todo no interior do Estado esse tipo de discussão.
"Grandes coisas já foram feitas, mas o Parlamento tem dificuldade de se promover, de dizer o que está fazendo. Há projetos de capilaridade, de extensão, com impacto na vida das pessoas. Nós jornalistas temos a responsabilidade de difundir isso, e temos a incumbência de polir a imagem dos políticos, em um momento difícil."
Posição política
Jorge se define como isento em relação a divergências ideológicas. É enfático ao dizer que "jornalista não tem partido e não pode ter" e deve a isso o bom trânsito que tem entre os parlamentares dos mais diversos espectros políticos. "Por isso me dou bem com todos os deputados, trafego em todos os partidos, sei qual é o meu papel e como desempenhá-lo."
Mesmo refratário a qualquer posicionamento partidário, ele se reconhece um apaixonado pelo tema e lembra do primeiro despertar para o assunto " justamente no primeiro ano de faculdade, em 1982, quando os militares ainda estavam no poder. "Quem não fosse do verde oliva ou não estivesse engajado com o propósito da revolução era contra a ditadura e achava que todos os males estavam associados a ela."
Jorge pondera que, apesar da censura e da violência do período, foi uma época de crescimento econômico. "Grande parte do Brasil nascia ali com as grandes ferrovias e as grandes hidrelétricas. Hoje estão desdenhando e jogando no lixo, mas se tem uma coisa que os militares fizeram foi colocar o Brasil no eixo. Saíram também por absoluta falta de sintonia com o restante da sociedade e com eles próprios."
Para Jorge, tudo passa pela política, a qual ele acredita ser instrumento de melhoria da vida das pessoas. "Acredito na política transformadora " não a do mecenas, do salvador, não é isso. É arregaçarmos as mangas e fazermos nossa parte, não deixarmos que o Estado faça por nós."
Entretanto, Jorge reconhece, cresce entre os brasileiros o sentimento de rejeição à política, especialmente a partidária, que vem sendo "criminalizada". "Uma parcela da população acha que dá para fazer política sem partidos, como os que, em 2013, foram para as ruas por causa dos 20 centavos. Acham que se mudam as coisas fazendo pressão direta sobre o governo e o Parlamento, quando é pelo voto que isso acontece."
"Os debates hoje estão esterilizados", afirma. "Deveríamos discutir mais, trocar mais argumentos, ver propostas, realizar audiências públicas, mas chegamos a um ponto de intransigência em que as pessoas só falam para si mesmas", diz. Para ele, o algoritmo que forma bolhas nas redes sociais é "uma chaga moderna". "Ele corrobora essa esterilidade porque faz com que só se veja o que reforça o nosso ponto de vista, não se vê o contrário, não se veem contrapontos, não se formam argumentos. Portanto, nunca se sai do mesmo lugar, e, pelo contrário, exacerbam-se os preconceitos".
Figura de destaque há tempos na Casa, sempre atento ao funcionamento e aos acontecimentos dela, resume a Alesp: "O Estado São Paulo passa pelo Parlamento, pelo Palácio 9 de Julho. Dos Poderes, este é o mais próximo do cidadão. É a casa do povo, sim. É no Parlamento que se projeta o futuro, que se fazem as escolhas. Esta Casa tem essa vocação, só precisa se redescobrir, dialogar melhor com a sociedade, ser um polo irradiador da política, como já foi. Precisamos ampliar os canais de debate e comunicação, esse é o nosso papel como jornalistas".
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