João Amoêdo poderia estar surfando. Henrique Meirelles poderia passar as tardes de agosto bebendo Barolo no Lago Como, na Itália. Mas não: estão aqui no Brasil pedindo votos, botando a cara a tapa, dando entrevistas a jornalistas semiletrados e participando de debates com o Cabo Daciolo.
É lindo ver empresários milionários como candidatos à Presidência. Só a candidatura desses dois já é motivo de orgulho para o Brasil.
É lindo ver empresários milionários como candidatos à Presidência. Só a candidatura desses dois já é motivo de orgulho para o Brasil.
Amoêdo e Meirelles são ricos que abrilhantam um país. Têm orgulho de dizer que enriqueceram pelo mercado, pelo próprio esforço e talento —e não, como é comum por aqui, por meio de privilégios, monopólios, negociatas ou aposentadorias especiais. São burgueses entre uma nobreza cartorial.
Muita gente se impressionou com os 425 milhões de reais que Amoêdo declarou ao registrar sua candidatura. É de fato impressionante o homem não ter medo de mostrar todo esse cascalho —se o faz, é porque não tem medo que a imprensa e procuradores vasculhem a origem do dinheiro. Mais desconfiança causam aqueles que declararam ao TSE um patrimônio surpreendentemente baixo.
Teóricos da conspiração (que temem a Ursal ou a Alca) acreditam que Amoêdo e Meirelles estão a serviço dos banqueiros, dos rentistas e do mercado financeiro. Bem, vamos convir que, com patrimônio tão valioso, os interesses dos dois já estão devidamente defendidos. E suas propostas vão no sentido contrário: eles defendem mais concorrência bancária e corte de gastos, o que costuma diminuir o risco de calote e os juros que investidores cobram para emprestar ao governo.
Além disso, banqueiros têm formas mais eficientes para tentar se favorecer com decisões políticas. Em vez de torrar milhões com uma candidatura própria, obtêm mais resultado financiando os políticos com mais chances de vencer a eleição.
Outra vantagem dos milionários na política é que eles têm muito a perder se arruinarem a economia do país ou se forem condenados por corrupção. Quero acreditar que não vão se deixar corromper por qualquer tríplex no Guarujá. Também têm pouco a ganhar financeiramente com o cargo, tendo em vista que dificilmente conseguirão gastar todo o dinheiro que já possuem.
Intelectuais de palanque —historiadores e sociólogos em geral inebriados por ideologias— costumam desprezar os homens de negócio e suas atividades mundanas. Tipos assim são um perigo quando entram para a política, pois recusam o mundo real em nome de ideias tiradas de livros. Já os homens de negócio tendem a ser menos perigosos: governam para pessoas como elas são, e não como devem ser.
Amoêdo e Meirelles não devem passar do primeiro turno, mas já é bom vê-los na disputa eleitoral.
Leandro Narloch
Jornalista, autor de “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”. É mestre em filosofia pela Universidade de Londres.
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