sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Com a corda no pescoço, Celso Ming, OESP

Celso Ming, O Estado de S.Paulo
02 Agosto 2018 | 21h10

Pesquisas recentes mostram o alto endividamento do consumidor e sua grande incapacidade de assumir novos financiamentos.
Nesta quinta-feira, por exemplo, a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostrou que, em julho, nada menos que 59,6% das famílias brasileiras continuam endividadas. Isso corresponde a pouco menos de dois terços da população. Outros 23,7% se encontram com dívidas ou com contas em atraso e 9,4% avisam que não terão condições de pagar. Como está na tabela abaixo, são números que variaram pouco em 12 meses.

Famílias
Endividamento e inadimplência estão altos Foto: Estadão
Consistentes com essas informações, os levantamentos da Serasa Experian divulgados dia 19 mostram que nada menos que 61,8 milhões de brasileiros (ou 42,66% da população adulta) estão na condição de inadimplentes. Estão em falta não só nas contas bancárias, mas, também, nas tarifas de telefone e luz, aluguel, mensalidades escolares, etc. E muita gente deixou de honrar compromissos com vários credores ao mesmo tempo.
Na medição da Serasa, o total de dívidas em atraso alcançou em junho deste ano a magnitude dos R$ 273,4 bilhões, ou R$ 4,4 mil por CPF. Só para dar uma ideia do que representam, estes R$ 273,4 bilhões correspondem a cerca de 155% da arrecadação de impostos pelo governo federal em um mês. Ou a quase 4 vezes as importações do Brasil em julho. Trata-se de dívidas documentadas. Estão fora dessa conta aquelas dívidas informais, contraídas com parentes, amigos, conhecidos, colegas do trabalho, etc.
Boa pergunta é saber quando alguém fica inadimplente. Se perde a data do vencimento de um boleto ou da multa de trânsito, o consumidor já se torna um ficha-suja?
O critério de inadimplência varia. Bancos e companhias telefônicas só registram inadimplências a partir de 90 dias do vencimento de uma conta não quitada. Quando o Banco Central divulga suas estatísticas de inadimplência na área do crédito bancário, trabalha com esse prazo. Outras instituições têm outros procedimentos. A Serasa aceita registrar inadimplência do consumidor até mesmo a partir de um dia de atraso. Esse prazo depende do credor. Em geral, antes de “mandar o título pro pau”, bancos e instituições comerciais preferem chamar o devedor, negociar e fechar acordo com ele. É a prática do velho princípio de que não se pode perder irremediavelmente um freguês.
Do ponto de vista macroeconômico, há pelo menos três consequências que sobrevêm a partir desse alto nível de endividamento e, mais ainda, desse alto nível de inadimplência.
A primeira delas é a de que não adianta forçar a expansão do crédito, como insistem tantos empresários, quando o poder aquisitivo do consumidor não dá conta de seus compromissos.
A segunda consequência é de que, antes de tudo, é preciso cuidar do aumento da renda da população. Isso implica garantir crescimento econômico e aumento da ocupação – para não dizer aumento do emprego, esse animal em extinção.
E, terceira consequência, a inflação e os juros têm de cair para que as prestações da dívida possam ser mais facilmente negociadas e voltar a caber no orçamento do consumidor.
CONFIRA

» Produção industrial: Sem muita comemoração

Um desavisado corre o risco de se enganar. Esses 13,1% de crescimento da produção industrial em junho, como mostra o gráfico, só foram tudo isso porque, no mês anterior, houve a paralisação dos caminhoneiros que derrubou a produção. Mais importante e indicação positiva é o que mostra o avanço da produção industrial no período de 12 meses terminados em junho: 3,2%. É número não muito distante das projeções do próprio mercado (Pesquisa Focus), que apontam para todo o ano crescimento de 2,91%.

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