Bianka Vieira
SÃO PAULO
Será a mudança de hábitos do consumidor que pautará uma agenda em prol da economia de baixo carbono, de uma nova matriz energética para o Brasil e de políticas e tributações que priorizem iniciativas sustentáveis.
“Em termos de produção, o Brasil é um país muito rico em recursos renováveis, há quase uma infinidade deles. Mas, do ponto de vista do consumo, nós precisamos exigir mais”, afirmou Elbia Gannoum, presidente-executiva da Abeeólica.
O tema foi debatido pelos participantes do 3º fórum Economia Limpa, nesta segunda-feira (27). O evento, realizado pela Folha na Unibes Cultural, em São Paulo, contou com patrocínio da Novelis e correalização da Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio).
Para os debatedores, cabe à sociedade ditar o rumo a ser seguido pelo governo. “Alguns iluminados de Brasília decidem o que fazer e nós pagamos a conta. Essa ordem do governo fazer e a sociedade seguir precisa ser invertida”, afirmou Jorge Pinheiro Machado, diretor para a América Latina do R20, organização criada pelo ator Arnold Schwarzenegger, que apoia governos no desenvolvimento de projetos de infraestrutura verde.
Segundo Pinheiro Machado, falta no Brasil maturidade para a adesão de um modelo de consumo de energia que priorize aspectos como descentralização, descarbonização e digitalização —a chamada eletricidade 3D. “Estamos ainda muito focados no modelo soviético, responsável por esse atual modelo energético.”
Entre as propostas da mesa para um novo cenário, foram mencionadas união das tecnologias limpas nos processos de produção, administração responsável dos recursos, previsibilidade de consumo de biocombustíveis e alíquota zero para áreas ligadas à geração de energia sustentável e saneamento.
“Não há espaço para mais tributação, temos de concordar, mas é preciso discutir outros mecanismos de incentivos”, disse Gannoum.
Donizete Tokarski, diretor-superintendente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel), defendeu que a economia limpa não seja concentrada em poucos produtos, como acontece hoje com a atividade agrícola.
“A sociedade tem de discutir qual combustível quer usar, e não aceitar que temos somente a alternativa estabelecida. Diante dessa diversidade, temos de introduzir outras fontes de matéria-prima para os biocombustíveis”, explicou.
A indústria petroleira, na opinião de Tokarski, domina o mercado de combustíveis e estabelece, de forma pragmática, políticas no país.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição atmosférica mata 50 mil brasileiros por ano. O dado foi mencionado por Ricardo Guggisberg, presidente-executivo da ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos), ao defender a integração entre eletricidade e biocombustíveis no transporte urbano.
“Temos de eliminar o diesel das frotas que circulam nas grandes cidades. Em São Paulo, foi criada uma lei que determina o corte de 50% do carbono emitido pelos ônibus. Na prática, ela só será possível com a substituição por veículos híbridos”, disse Guggisberg.
Outro ponto levantado pela mesa foi o de que sustentabilidade requer pensar na questão econômica associando-a ao social e ao ambiental.
Nesse sentido, a presidente-executiva da Abeeólica conta que a produção eólica no Brasil, concentrada em regiões de terras pouco produtivas, hoje gera arrendamento de terras para 4.000 famílias. “Isso faz circular a economia local com o aumento de renda nessas regiões.”
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