Everton Lopes Batista
SÃO PAULO
Sancionada há oito anos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos ainda enfrenta obstáculos para a sua implementação. Segundo especialistas que participaram de debate sobre o tema no terceiro fórum Economia Limpa, a monetização do lixo seria um dos principais caminhos para alavancar a reciclagem no país.
“O resíduo tem um valor ambiental, mas também um valor econômico. Para garantir que esse material volte para a cadeia produtiva, temos de fazer com que ele seja interessante nesse sentido”, disse Luís Fernando Barreto, promotor de Justiça e presidente da Abrampa (Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente).
O evento, realizado pela Folha, em parceria com a Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio) e com o patrocínio da Novelis, aconteceu nesta segunda-feira (27), no teatro da Unibes Cultural, em São Paulo.
Para o promotor de Justiça, é essencial que a indústria projete as embalagens já considerando que elas precisam voltar para o ciclo de produção. “O fim dos lixões não é o aterro sanitário, embora precisemos dele nessa transição. O fim dos lixões é o lixo zero”, afirmou.
A Ambev, por exemplo, uma das maiores produtoras de bebidas do mundo, criou uma aceleradora para incluir grupos de universidade e empresas novas no processo de pesquisa e produção de embalagens mais sustentáveis, segundo Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de suprimentos e sustentabilidade da companhia.
“Chegamos à conclusão de que a nossa área de desenvolvimento sozinha não iria achar todas as soluções de sustentabilidade de que precisamos. Um monte de cérebros pensando juntos sobre isso vai fazer com que deixemos um mundo melhor para as próximas gerações”, afirmou, durante o debate.
Um outro exemplo de êxito no ciclo das embalagens foi apresentado durante o fórum pelo Inpev (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias), responsável pelo sistema de reciclagem Campo Limpo, que hoje já faz o descarte sustentável de 94% das embalagens de defensivos agrícolas utilizados no Brasil.
Depois de passar pelo sistema, o material vira artefatos para construção civil, como tubos para esgoto, e até para o setor automobilístico, na forma de caixas para baterias de carro.
De acordo com João Cesar Rando, diretor-presidente do Inpev, a educação foi uma das principais estratégias para alcançar os bons resultados.
“Investimos e continuamos a investir muito em educação. Hoje, 95% ou mais dos agricultores conhecem o funcionamento do sistema Campo Limpo e já incorporam essas ações em suas rotinas”, disse. “Educar a sociedade e as novas gerações é fundamental.”
Conscientização no campo e na cidade é uma das chaves, na visão dos palestrantes. “O cidadão ainda olha para o resíduo como algo que não é dele. Ele não entende que custa para ele também, pois ele paga pela coleta através dos impostos”, disse o promotor de Justiça Luís Fernando Barreto.
Quando o cidadão se sente responsável, suas ações podem pressionar as empresas para que mudem suas ações, segundo os participantes dos debates.
Um exemplo disso foi o abandono gradativo das embalagens retornáveis (refrigerantes, cervejas etc.) nos anos recentes, causado pela busca do consumidor pela comodidade. Mas, a volta das embalagens reutilizáveis, se tornou novamente uma tendência, que ganha força com a conscientização das pessoas sobre questões ambientais, segundo Figueiredo.
O executivo disse ainda que uma das metas da empresa é que, até o ano de 2025, a maior parte das embalagens para seus produtos seja feita a partir de materiais reciclados. “A tendência agora é a migração para embalagens inteligentes, com baixo impacto ambiental”, afirmou.
TRIBUTAÇÃO
Outro fator que deve colaborar para o avanço da reciclagem seria a implementação de uma nova maneira de tributar os produtos feitos com materiais reutilizados, tornando-os mais atraentes para o consumidor.
Para o promotor de Justiça Luís Fernando Barreto, a sociedade precisa entender que essa aparente renúncia de impostos é lucrativa quando considerado o custo de transportar o lixo para um local no qual ele vai contaminar o solo. “Uma economia circular bem estruturada passa pela questão tributária”, concluiu.
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