terça-feira, 21 de agosto de 2018

Hélio Schwartsman Chacina farmacológica, FSP

Os números da crise dos opioides nos EUA não param de piorar. Estimativas preliminares recém-divulgadas indicaram a ocorrência de 72 mil mortes por overdose em 2017, um aumento de 6,6% em relação ao ano anterior. É mais do que o total de óbitos contabilizados nos anos em que a Aids, acidentes de trânsito ou armas de fogo registraram seu recorde de vítimas.
A maioria das mortes foi provocada por opioidescategoria que inclui tanto drogas derivadas do ópio, como morfina e heroína, quanto substâncias sintéticas que imitam seus efeitos, como fentanil. Ressalte-se que estamos falando aqui apenas de overdoses, só uma das inúmeras complicações de saúde provocadas pelo abuso de drogas.
Se há algo que marca a história dessa epidemia, são falhas de regulação. Tudo começou nos anos 90, quando médicos americanos, com base em poucos e mal interpretados estudos, além de uma boa ajuda dos departamentos de marketing dos laboratórios, passaram a prescrever opioides até para dores agudas e de baixa intensidade.
A liberalidade com que se receitavam oxicodona e hidrocodona, que logo se tornaram campeãs de vendas, acabou gerando milhões de dependentes. E eles não demoraram a perceber que era mais fácil e mais barato obter seu suprimento com traficantes do que com médicos.
overdose, ao contrário do entorpecimento, não é um efeito desejado pelo usuário. Ela tem ocorrido em larga escala porque os traficantes passaram cada vez mais a batizar a droga vendida nas ruas com substâncias sintéticas de alta potência, que são mais fáceis de produzir e transportar, mas que elevam muito o risco de intoxicação letal.
Paradoxalmente, agora rigores na regulação dificultam a adoção em larga escala de medidas que poderiam ajudar a conter a epidemia, como a criação de mais salas de injeção, onde a qualidade da droga poderia ser monitorada, ou a prescrição de terapias de substituição.


Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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