Sei que existe um piloto automático. Se um sujeito trabalhou em estatal e foi investigado pela Polícia Federal, então ele deve ser culpado. O problema é que o piloto automático falha. Por isso, peço para você desligá-lo enquanto lê a minha história.
O meu objetivo é apenas que você preste atenção nos fatos documentados, pois eles falam por si.
Soube que havia uma investigação contra mim pela edição de 13 de junho de 2018 da revista Veja, que me apontava como responsável por superfaturamento em obras do Rodoanel Norte.
Fui presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) de janeiro de 2011 a abril de 2018. O conteúdo me deixou assombrado. Pedi ao Ministério Público que me desse acesso à investigação. Fui ignorado.
Em 21 de junho, fui surpreendido e preso durante uma operação que começou às 6h. Só pude falar com um advogado às 8h30. Enquanto isso, a TV Globo dava informações sobre a operação.
No Brasil, os investigadores escondem as informações dos réus, mas as entregam à imprensa, na esperança de que ela lhes será dócil e comprará acriticamente as acusações. Resta a mim tentar aqui, de dentro da cadeia, que minha versão seja conhecida.
As construtoras no Rodoanel Norte haviam achado imensas rochas no caminho da obra (chamadas "matacões") e alegavam que retirá-las não estava previsto no contrato. A área de engenharia da Dersa sugeriu a realização de aditivo contratual e, para evitar a paralisação das obras, conforme a legislação e contrato vigentes, fez-se o aditivo, que fixava um preço provisório.
Esses valores poderiam ser estornados caso a decisão final fosse de que eles não eram devidos. Isso estava de acordo com o que determina o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) --que financiou a obra, foi consultado sobre o aditivo e, depois de analisá-lo, não apresentou objeção.
Sob o meu comando, a Dersa contratou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Os técnicos avaliaram que a formação de matacões é previsível na Serra da Cantareira e que as empresas contratadas tinham condições de conhecer essa circunstância. Ou seja, deveriam ter considerado isso ao calcular o seu preço. Desse modo, a Dersa determinou o estorno dos valores pagos.
Inconformadas, as construtoras utilizaram um recurso previsto em contrato e convocaram a constituição de uma Junta de Conflito, composta por técnicos de grande conhecimento sobre o tema. A junta concluiu que os pagamentos eram devidos. Para evitá-los, a Dersa ainda pediu esclarecimentos à Junta.
A resposta, que confirma a necessidade dos pagamentos, chegou em 23 de abril, quando eu já não estava mais na empresa.
Ou seja, estou preso em função de um processo em que me cerquei de todos os cuidados, visando à proteção dos interesses da empresa.
Inventaram que destruí documentos, e isso fundamentou minha prisão. A informação teria sido dada pela minha secretária, de cujo depoimento transcrevo alguns trechos:
"No dia da busca a declarante foi questionada 'se picotava papel', tendo respondido normalmente que 'sim', o que é verdade e há muitos anos é e sempre foi um procedimento de rotina seja naquele setor seja em qualquer outro, para fins de descarte de material sem necessidade de arquivamento físico."
Ela disse ainda que o descarte "sempre foi um procedimento normal e administrativo visando não acumular papel desnecessário, ainda mais quando se começou a digitalizar" e que meu perfil sempre foi "de ter uma sala arrumada de forma clean, ou seja, ele não admite bagunça e acúmulo".
Além disso, um decreto estadual determina a destruição de documentos que serão descartados, e o Código de Ética da Dersa exige a proteção do sigilo das informações da empresa.
Do presídio de Tremembé, torço para que esse inferno acabe. Quero voltar para minha casa, meu único imóvel, onde vivo com minha mulher, uma professora de matemática, e nossa filha de 5 anos, com quem não pude estar no Dia dos Pais.
O meu objetivo é apenas que você preste atenção nos fatos documentados, pois eles falam por si.
Soube que havia uma investigação contra mim pela edição de 13 de junho de 2018 da revista Veja, que me apontava como responsável por superfaturamento em obras do Rodoanel Norte.
Fui presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) de janeiro de 2011 a abril de 2018. O conteúdo me deixou assombrado. Pedi ao Ministério Público que me desse acesso à investigação. Fui ignorado.
Em 21 de junho, fui surpreendido e preso durante uma operação que começou às 6h. Só pude falar com um advogado às 8h30. Enquanto isso, a TV Globo dava informações sobre a operação.
No Brasil, os investigadores escondem as informações dos réus, mas as entregam à imprensa, na esperança de que ela lhes será dócil e comprará acriticamente as acusações. Resta a mim tentar aqui, de dentro da cadeia, que minha versão seja conhecida.
As construtoras no Rodoanel Norte haviam achado imensas rochas no caminho da obra (chamadas "matacões") e alegavam que retirá-las não estava previsto no contrato. A área de engenharia da Dersa sugeriu a realização de aditivo contratual e, para evitar a paralisação das obras, conforme a legislação e contrato vigentes, fez-se o aditivo, que fixava um preço provisório.
Esses valores poderiam ser estornados caso a decisão final fosse de que eles não eram devidos. Isso estava de acordo com o que determina o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) --que financiou a obra, foi consultado sobre o aditivo e, depois de analisá-lo, não apresentou objeção.
Sob o meu comando, a Dersa contratou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Os técnicos avaliaram que a formação de matacões é previsível na Serra da Cantareira e que as empresas contratadas tinham condições de conhecer essa circunstância. Ou seja, deveriam ter considerado isso ao calcular o seu preço. Desse modo, a Dersa determinou o estorno dos valores pagos.
Inconformadas, as construtoras utilizaram um recurso previsto em contrato e convocaram a constituição de uma Junta de Conflito, composta por técnicos de grande conhecimento sobre o tema. A junta concluiu que os pagamentos eram devidos. Para evitá-los, a Dersa ainda pediu esclarecimentos à Junta.
A resposta, que confirma a necessidade dos pagamentos, chegou em 23 de abril, quando eu já não estava mais na empresa.
Ou seja, estou preso em função de um processo em que me cerquei de todos os cuidados, visando à proteção dos interesses da empresa.
Inventaram que destruí documentos, e isso fundamentou minha prisão. A informação teria sido dada pela minha secretária, de cujo depoimento transcrevo alguns trechos:
"No dia da busca a declarante foi questionada 'se picotava papel', tendo respondido normalmente que 'sim', o que é verdade e há muitos anos é e sempre foi um procedimento de rotina seja naquele setor seja em qualquer outro, para fins de descarte de material sem necessidade de arquivamento físico."
Ela disse ainda que o descarte "sempre foi um procedimento normal e administrativo visando não acumular papel desnecessário, ainda mais quando se começou a digitalizar" e que meu perfil sempre foi "de ter uma sala arrumada de forma clean, ou seja, ele não admite bagunça e acúmulo".
Além disso, um decreto estadual determina a destruição de documentos que serão descartados, e o Código de Ética da Dersa exige a proteção do sigilo das informações da empresa.
Do presídio de Tremembé, torço para que esse inferno acabe. Quero voltar para minha casa, meu único imóvel, onde vivo com minha mulher, uma professora de matemática, e nossa filha de 5 anos, com quem não pude estar no Dia dos Pais.
Laurence Casagrande Lourenço
Ex-presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A - 2011-2018, governo Alckmin), ex-presidente da Cesp (Companhia Energética de São Paulo - 2018, gestão Alckmin); tecnólogo em produção industrial
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