Claudia Izique | Pesquisa para Inovação – O apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP estimulou os investimentos em P&D de empresas, contribuiu para que os projetos financiados se traduzissem em inovação e em produtos patenteáveis e elevou os patamares médios de faturamento e de emprego.
Esses são os primeiros resultados da segunda avaliação dos impactos do PIPE, realizado pela Coordenação de Avaliação de Programas da FAPESP, com apoio da Coordenação do Programa PIPE, da Biblioteca Virtual da FAPESP e do Laboratório de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A primeira avaliação do Programa, concluída em 2009, analisou os primeiros 10 anos do programa.
O estudo atual – iniciado quando o PIPE completou 20 anos, em 2017 – analisa 189 projetos em fase 2 do PIPE – de desenvolvimento de produtos ou processos –, implementados por 180 empresas e concluídos entre 2006 e 2016. A amostra representa 44% do total de projetos encerrados no período.
As análises ainda estão em estágio preliminar. “Precisamos realizar o cruzamento de dados e buscar variáveis semelhantes em empresas fora do PIPE para ter parâmetros de comparação”, afirma Sérgio Salles-Filho, da Coordenação de Avaliação. Mas os primeiros resultados permitem adiantar algumas informações sobre o desempenho de empresas apoiadas pela FAPESP no período.
O estudo revela, por exemplo, que 26% das empresas analisadas foram criadas após a submissão – e aprovação – do projeto pela FAPESP. O PIPE permite que pesquisadores submetam propostas antes mesmo da constituição da empresa. Se o projeto for aprovado, os interessados devem então formalizar o empreendimento até a assinatura do termo de outorga.
Entre180 empresas, 35 (19%) são spin-off, a grande maioria delas derivada de universidades (24) ou de empresa nacionais (9). Do total das empresas avaliadas, mais da metade (52%) esteve ou estava incubada por ocasião da pesquisa.
Gráfico 1: Origem das spin-offs
Entre as 180 empresas consultadas, 24 foram criadas a partir de universidades, nove derivadas de empresas nacionais e uma com origem em empresa estrangeira
Em sua maioria, as 180 empresas estão instaladas em São Paulo (23%), Campinas (19%), São Carlos (19%), São José dos Campos (6%) e Ribeirão Preto (6%), regiões que concentram grandes universidades e institutos de pesquisas. Mas a pesquisa identificou empreendimentos também em Piracicaba (4), Botucatu (4) e Mogi das Cruzes (3), entre outros municípios (38).
Mais de 70% dos pesquisadores responsáveis pelos 189 projetos da amostra são pós-doutores e doutores; 1,7% não tinha experiência na área de pesquisa apoiada pelo PIPE; 32% tinham menos de cinco anos de experiência; 42,5% tinham entre 6 e 15 anos de experiência no tema do projeto; e 33,7% trabalham na área da pesquisa apoiada há mais de 16 anos. 61% eram sócios ou proprietários do empreendimento e 76% são homens.
Gráfico 2: Anos experiência beneficiário no tema do projeto no momento da submissão do projeto PIPE
Entre os pesquisadores responsáveis, 32% tinham entre 1 e 5 anos de experiência no tema do projeto; 42,5% tinham entre 6 e 15 anos de experiência e 33,7% trabalhavam na área da pesquisa apoiada pelo PIPE há mais de 16 anos
Agrupados segundo critério da Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE), os projetos se enquadram, principalmente, nas categorias Indústria de Transformação (51 projetos), Atividades Profissionais Ciências e Técnicas (46), Informação e Comunicação (25) e Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura (12 projetos). Dois terços deles foram desenvolvidos em parceria (universidades e outros atores).
O estudo revela ainda que o apoio do PIPE teve impacto positivo nos gastos em P&D realizados pela empresa. “ Concluído o projeto PIPE, na média, as 150 empresas que responderam a essa questão declararam aplicar em P&D recursos 8% superiores ao investido antes do início do projeto”, explica Salles. O aumento da mediana – métrica que divide a amostra em quartis – foi de 51%, acrescenta, revelando que há um deslocamento na alavancagem de investimentos em pesquisa, um dos principais objetivos do PIPE. Para a comparação, os valores foram deflacionados pelo Índice Nacional Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril de 2018.
Gráfico 3: Gastos com P&D realizados com recursos da empresa (antes, durante e depois do projeto PIPE - mediana)
Dois anos após a finalização dos projetos PIPE, 150 empresas mantiveram níveis de investimento em P&D em patamares superiores aos que vinham praticando antes do projeto. A mediana cresceu mais que o dobro dos investimentos
Do ponto de vista dos resultados, o estudo constatou que 80% dos projetos se converteram em inovação. “Esse número surpreendeu”, diz Salles-Filho, sublinhando que esse desempenho terá que ser comparado com o de startups não apoiadas pelo programa, em atividade semelhante no mesmo período, antes que se tenha uma avaliação conclusiva.
Quanto aos resultados dos projetos protegidos por propriedade intelectual, 89 empresas contabilizavam um total de 438 registros no Brasil (patentes, marcas, cultivares, etc.), tendo mais da metade dessas empresas (49) creditado 1/4 desses registros aos resultados de projetos apoiados pelo PIPE. De 210 registros de proteção depositados no exterior pelas empresas apoiadas (número total de direitos de propriedade registrados pelas empresas até o final de 2017), 73 decorreram de projetos PIPE.
Os resultados revelam também que o PIPE alavancou as vendas das empresas apoiadas. Antes de contar com o apoio do programa, 128 empresas tinham, em média, faturamento de R$ 1,7 milhão; dois anos após o encerramento do projeto, o faturamento médio saltou para R$ 2,1 milhão. “O incremento foi de 22%”, enfatiza Salles-Filho.
Gráfico 4: Evolução do faturamento bruto médio (antes, durante e depois do projeto PIPE)
Dois anos após a finalização dos projetos apoiados pelo PIPE, registrou-se um incremento médio de 22% no faturamento médio por empresas
Observando a evolução da distribuição do faturamento das empresas por faixas de valor, observou-se que, após dois anos do encerramento dos projetos, ocorreu elevação das faixas de valor. A faixa de até R$ 50 mil, que representava mais da metade da amostra de respondentes, passou a representar menos de 15% da distribuição, tendo a maior parte das empresas se localizado na faixa entre R$ 50 mil e R$ 250 mil. “A maioria, que se agrupava na faixa de até R$ 50 mil, redistribuiu-se nas faixas superiores de faturamento computando dois anos após o encerramento dos projetos com forte atribuição das diferenças ao efeito PIPE”, resume Salles-Filho.
Gráfico 5: Distribuição de empresas por faixa de valor do faturamento bruto (antes, durante e depois do projeto PIPE)
O PIPE induziu a mudanças no patamar de faturamento de empresas apoiadas, promovendo sua migração para faixas superiores de valor
O apoio do PIPE também contribuiu para o aumento do número médio de empregados por empresa. A média era de 8,5 empregados antes do PIPE, passando a 11,1 após a conclusão do projeto. O crescimento do número de funcionários dedicados à P&D e com nível superior completo: a média de 1,8 empregados antes do apoio do PIPE saltou para 3,1 depois da conclusão do projeto.
Gráfico 6: Número médio de empregados por empresa (antes, durante e depois do projeto PIPE)
PIPE elevou patamar médio de emprego das empresas apoiadas, notadamente o de empregos dedicados à P&D com nível superior
“O próximo passo é buscar variáveis semelhantes para efeito de comparação com um grupo de controle, trabalho que está em andamento”, explica Salles-Filho, adiantando que, concluído o estudo, as variáveis do desempenho de empresas apoiadas pelo programa PIPE passarão a ser coletadas permanentemente.
Palavras-chave: 2ª Avaliação PIPE, Geopi, patentes, marcas, cultivares,Sérgio Salles-Filho
Nenhum comentário:
Postar um comentário