quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Entenda o que levou à crise do Museu da Casa Brasileira, que hoje está sem um teto, FSP

 Matheus Rocha

São Paulo

Há um ano e meio fechado e com seu acervo guardado em reservas técnicas, o Museu da Casa Brasileira voltou ao centro das atenções depois que a secretaria estadual de Cultura de São Paulo afirmou que a instituição, a única do país voltada à arquitetura e ao design, não irá mais para a Casa Modernista, na Vila Mariana, depois de ter deixado o Solar Fábio Prado.

Com a notícia, profissionais que faziam parte do alto escalão da administração do museu dizem que o governo agiu de forma lenta para impedir o despejo da instituição de seu antigo lar, que pertence à Fundação Padre Anchieta, hoje ocupada por uma exposição sobre "Castelo Rá-Tim-Bum" e que, no futuro, vai se transformar na Casa TV Cultura, um museu sobre a história do rádio e da TV no Brasil.

O Solar Fábio Prado, endereço do Museu da Casa Brasileira, na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo
O Solar Fábio Prado, endereço do Museu da Casa Brasileira, na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Os últimos anos do Museu da Casa Brasileira foram marcados por contradições. Nos bastidores, pessoas ligadas ao museu dizem que foi a Fundação Padre Anchieta que pediu o Solar Fábio Prado de volta. Do outro lado, a instituição diz que foi o governo que quis romper o contrato, que era válido até 2026.

Ex-diretor técnico da instituição, Giancarlo Latorraca afirma que o poder público sabia, desde 2018, que a fundação planejava reaver o espaço, mas não tomou providências para que houvesse uma transferência adequada. À época, trabalhavam cerca de 58 funcionários na instituição. Todos foram demitidos, ele diz.

Hoje, o acervo está guardado em reservas técnicas, e o museu não tem para onde ir. A secretaria estadual da Cultura disse no ano passado que as peças seriam transferidas para a Casa Modernista, na Vila Mariana, mas voltou atrás da decisão no mês passado.

A reportagem questionou a pasta, por email, sobre os bastidores da saída do Museu da Casa Brasileira, mas não obteve um retorno até o momento desta publicação.

O Museu da Casa Brasileira perdeu a sua sede em abril do ano passado. O casarão neoclássico que ele ocupava foi doado à Fundação Padre Anchieta por Renata Crespi em 1968, cinco anos depois da morte de seu marido, Fábio da Silva Prado, ex-prefeito de São Paulo. Em 1971, a entidade e o governo estadual firmaram um acordo com duração de 50 anos para abrigar o museu. Em 2018, porém, a fundação sinalizou que o contrato não seria renovado.

"A gente sabia que a casa ia ser devolvida, então eu e o resto do corpo de funcionários falamos para a secretaria procurar uma sede. Só que esse assunto foi sendo postergado", diz Latorraca. Ele afirma que houve um aviso da fundação com três anos de antecedência, conforme prevê a lei, mas nada foi feito.

O ex-diretor afirma que o museu vivia um bom momento antes de ser despejado e que o acervo triplicou nos últimos anos. A coleção é formada por móveis e objetos de design históricos, como poltronas e louças, além de quadros de artistas que ocupam papel central na arte do país, como Candido Portinari e Emiliano Di Cavalcanti.

A instituição também concedia, desde 1986, o Prêmio de Design MCB, um dos mais tradicionais do Brasil, e promovia uma programação musical aos domingos. Essas atividades foram suspensas. "Imagina um país como o Brasil, que tem tantas raízes, sem um museu dedicado à arquitetura e ao design? Isso gera um prejuízo ao debate cultural", diz Latorroca, acrescentando que o MCB se destacava em razão de seu viés antropológico. "Ele estudava a formação da cultura brasileira por meio dos objetos."

Visão parecida tem Miriam Lerner, que foi diretora-geral do espaço de 2007 a 2021. Ela afirma que a instituição construiu uma história sólida ao longo dos anos. "Era reconhecida nacional e internacionalmente, um ponto de debates e exposições. Era um lugar de pesquisa e pensamento. Tudo isso foi bruscamente interrompido."

Acervo em risco

Lerner diz que teme pelo acervo do MCB. Parte dos itens pertence ao governo de São Paulo e está em uma reserva técnica. O resto é de propriedade da Fundação Padre Anchieta e continua dentro do solar.

No começo de outubro, um incêndio atingiu uma estrutura que integra a mostra de "Castelo Rá-Tim-Bum", que fica em frente ao imóvel. O acidente deixou o setor cultural apreensivo. "Construir é difícil, mas demolir leva um minuto. Será que as peças estarão íntegras quando o museu for reaberto?", questiona Lerner.

Em nota, a Fundação Padre Anchieta diz que há uma reserva técnica no solar com 500 peças e que conta com o auxílio de um museólogo para as preservar.

Os especialistas que criticam uma mudança de endereço consideram que a transferência poderia descaracterizar o museu, porque o casarão é visto como parte de sua identidade. Lerner pensa do mesmo jeito, mas diz que o imóvel já não abrigava o museu de forma adequada. "Ele precisava ser maior. Quando fui diretora, sonhei com uma reforma, mas nunca pensei em o tirar de lá. Até porque o museu tem uma identidade fortemente ligada àquela edificação."

Depois de o museu perder sua sede, em abril do ano passado, a secretaria estadual de Cultura anunciou que a instituição seria transferida para a Casa Modernista, projetada por Gregori Warchavchik na década de 1920. À época, especialistas alertaram que o imóvel era pequeno para comportar o mobiliário da instituição.

Mais de um ano depois, a pasta reconheceu que o local tem limitações. "Era óbvio que a solução não funcionaria. Quem sugeriu isso não tinha noção do que estava dizendo", afirma Carlos Augusto Calil, ex-secretário municipal de Cultura de São Paulo e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Além disso, ele diz que a Casa Modernista não dialogaria com o acervo do museu. "O equívoco físico se somou ao erro conceitual", diz o pesquisador, para quem o MCB tem uma proposta curatorial vanguardista. "Ele vai do mobiliário histórico até o contemporâneo. É um conceito sem igual no Brasil. Foi uma surpresa desagradável o desmonte do museu por uma questão burocrática. O prejuízo cultural é enorme."

As falas da rataria, Ruy Castro, FSP

 Deus está chocado. A Pátria e a Família, então, nem se fala. Pois não é que justo aqueles que vivem falando em Seus nomes demonstraram que, ao querer passar os adversários na bazuca, no punhal e no veneno, estão pouco ligando para os valores que os ditos Deus, Pátria e Família defendem? Deus, a Pátria e a Família se referem aos áudios descobertos outro dia, que mostram generais espumando de patriotismo e pregando ódio e ranger de dentes.

E que gente grosseira e desbocada, meu Deus! Se é assim que eles conversam em família ou nas igrejas que frequentam, eu não gostaria de vislumbrar meus sobrinhos ou os filhos pequenos dos meus amigos, das minhas amigas, ao alcance de tanta boca suja. Para eles, palavrão é vírgula. Duvida?

"O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Quatro linhas da Constituição é o caceta!" "Kid Preto, porra, por favor, o senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Tá na cara que houve fraude, porra. Não dá mais pra gente aguentar essa porra. Tá foda! Tá foda!" "Vai agora esperar virar uma Venezuela para virar o jogo, cara? Democrata é o cacete! Não tem que ser democrata mais agora. Acabou o jogo, pô!" "O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comitê. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria!"

Ah, está explicado. Eles são a rataria, a turma abaixo da linha da ética. Mas Deus, a Pátria e a Família se perguntam: foi isso que aprenderam nos cursos que fizeram no quartel e lhes renderam aquelas chapinhas no peito? E o mais inacreditável vem agora: "Olha, general", diz um da rataria, "eu sou capaz de morrer, cara, pelo meu país, sabia? Pelo meu presidente, cara. Eu não consigo vislumbrar, né, meus sobrinhos, né, os filhos pequenos dos meus amigos, das minhas amigas, vivendo sob o julgo [sic] desse vagabundo [Lula]. Aprendi na caserna a honrar o meu presidente [Bolsonaro]. E eu tô pronto a morrer por isso".

Deus, que é Onisciente, avisa: "Vá devagar, meu rato. O ratão por quem você se dispõe a morrer vai te deixar na rua assim que as coisas apertarem para ele".