sexta-feira, 21 de junho de 2024

Número de trabalhadores sindicalizados cai a 8,4 milhões e renova mínima de série histórica, FSP

  

RIO DE JANEIRO

O número de trabalhadores associados a sindicatos no Brasil teve nova baixa em 2023 e renovou o menor patamar de uma série histórica com dados disponíveis desde 2012. A conclusão é de uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (21) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De um total de 100,7 milhões de trabalhadores ocupados no país em 2023, somente 8,4 milhões eram filiados a sindicatos, diz o levantamento. É a primeira vez na série histórica que o contingente fica abaixo de 9 milhões.

O número de sindicalizados teve queda de 7,8% na comparação com 2022, quando estava em 9,1 milhões. Em termos absolutos, a redução foi de 713 mil pessoas.

Ato das centrais sindicais no 1º de Maio Unificado, na Neo Química Arena, em Itaquera
Ato das centrais sindicais no 1º de Maio Unificado, na Neo Química Arena, em Itaquera - Marcelo Pessini - 1º.mai.2024/Folhapress

Os 8,4 milhões de sindicalizados representavam 8,4% do total de trabalhadores ocupados no Brasil em 2023 (100,7 milhões) –o primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O percentual também é o menor da série iniciada em 2012. A proporção de associados a sindicatos vem em queda ao longo da pesquisa, mas nunca havia ficado abaixo de 9% antes de 2023 –era de 9,2% em 2022.

Os dados integram um módulo da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) que aborda "características adicionais do mercado de trabalho", segundo a definição do IBGE.

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Esse recorte sofreu interrupção nos anos iniciais da pandemia (2020 e 2021). À época, as restrições sanitárias dificultaram a coleta das estatísticas.

POSSÍVEL IMPACTO DA REFORMA TRABALHISTA

A pesquisa não pergunta quais razões estão por trás da baixa da sindicalização, mas o IBGE indicou que o movimento de queda se intensificou a partir de 2017, período marcado pela reforma trabalhista.

Em vigor desde novembro daquele ano, o texto acabou com a cobrança da contribuição obrigatória para os sindicatos, chamada de imposto sindical. A reforma também deu aos trabalhadores a possibilidade de negociar banco de horas, jornadas e outros itens individualmente.

"O que está mais associado [à sindicalização em baixa] é, a meu ver, a mudança da legislação trabalhista. Coincide bem com a variação mais acentuada", disse William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE.

Em 2017, segundo a Pnad, o Brasil tinha quase 13 milhões de sindicalizados. Eles representavam 14,2% do total de trabalhadores ocupados à época.

"A tendência de diminuição, que já acontecia antes, se intensifica a partir de 2017, o ano em que a nova legislação entrou em vigor", afirmou o pesquisador.

No início da série histórica, em 2012, o país contabilizava 14,4 milhões de sindicalizados –ou 16,1% do total de ocupados. Na comparação com 2023 (8,4 milhões), a redução do contingente foi de 41,6% –menos 6 milhões de pessoas.

A tendência de queda foi verificada nas diferentes regiões brasileiras ao longo da pesquisa. Em 2023, o Norte (6,9%) registrou o menor percentual de sindicalizados, enquanto o Nordeste (9,5%) e o Sul (9,4%) tiveram os maiores. Centro-Oeste (7,3%) e Sudeste (7,9%) completam a lista.

Na análise por posição na ocupação e categoria do emprego, os empregados no setor público (18,3%) ainda tiveram a maior taxa em 2023, mesmo com a trajetória de queda. Trabalhadores familiares auxiliares (10,4%) e trabalhadores com carteira assinada no setor privado (10,1%) vieram na sequência.

As menores coberturas sindicais, por outro lado, foram registradas entre os trabalhadores domésticos (2%) e os empregados no setor privado sem carteira assinada (3,7%).

REDUÇÃO MAIS INTENSA ENTRE OS JOVENS

O IBGE também apontou que a sindicalização caiu nos diferentes grupos de idade ao longo da série. A redução foi mais intensa entre os trabalhadores ocupados mais jovens.

Na faixa etária de 14 a 17 anos, os associados a entidades diminuíram em 84,5% de 2012 para 2023, diz o instituto. No grupo de 18 a 24 anos, a baixa foi de 73,4%

"O IBGE não investiga os motivos da não associação, mas sabemos que os mais jovens vêm com mentalidade nova. Não sei se os sindicatos acompanharam essa mudança de mentalidade dos mais jovens. É algo a ser investigado", disse Kratochwill.

Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, também mencionou que o instituto não investiga o que pode estar afastando os trabalhadores dos sindicatos.

Porém, no caso dos mais jovens, a pesquisadora citou o possível impacto da forma de inserção no mercado de trabalho, que muitas vezes ocorre por meio de "vínculos mais frágeis".

"Para esses casos, normalmente há um predomínio de atividades informais, e a sindicalização não tem uma incidência muito grande", afirmou Beringuy.

A pesquisa ainda traz dados sobre profissionais que atuam com registro de CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). De um total de 29,9 milhões de ocupados nas categorias de empregadores ou trabalhadores por conta própria (autônomos), 9,9 milhões tinham CNPJ em 2023, o equivalente a 33%.

O percentual recuou ante 2022 (34,2%), mas ainda é o segundo maior da série iniciada em 2012. Naquele ano, 23,9% dos empregadores ou trabalhadores por conta própria tinham o registro. O grupo inclui os MEIs (microempreendedores individuais), conforme Beringuy.

O IBGE disse que o recuo da cobertura de CNPJ em 2023 foi puxado pelos trabalhadores por conta própria (de 26,3% para 24,9%). O grupo dos empregadores permaneceu com sua estimativa estável (80,9%).

De acordo com Beringuy, é possível que o aumento do emprego com carteira assinada tenha atraído, em 2023, profissionais que antes atuavam com CNPJ.

"É uma possibilidade, dado que a gente vem observando crescimento da cobertura da carteira de trabalho assinada", disse.

ENDEREÇO DAS PRÓPRIAS EMPRESAS É PRINCIPAL LOCAL DE TRABALHO

Outra informação trazida pela Pnad é o local de exercício do trabalho da população ocupada (exceto setor público e domésticos).

A maior parcela dos trabalhadores, estimada em 59,1%, atuava em 2023 no que o IBGE chama de estabelecimento do próprio empreendimento.

Endereços de uma empresa, como lojas ou fábricas, são exemplos dessa categoria, cujo percentual era maior no início da série, em 2012 (62,7%).

Local designado pelo empregador, patrão ou freguês (13,8%), fazenda, granja, sítio ou chácara (9%) e domicílio de residência (8,3%) vêm em seguida no levantamento de 2023.

Na última categoria, que envolve quem trabalha em casa, o percentual de 8,3% até ficou levemente abaixo de 2022 (8,5%), mas é possível perceber um crescimento ante 2019 (5,8%), período pré-pandemia.

A partir das restrições da crise sanitária, parte das pessoas migrou para modalidades como home office. No ano passado, a região Sudeste teve a maior proporção de trabalhadores no domicílio de residência: 9%.

O IBGE também aponta que, em 2023, 4,8% da população ocupada no Brasil tinha o veículo automotor como local de exercício do trabalho.

Em 2012, no início da série, o percentual era menor, de 3,7%. Ao longo da última década, categorias como a de motoristas de aplicativos ganharam espaço nas metrópoles brasileiras.

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Cresce o envolvimento de políticos com organizações criminosas, Alvaro Costa e Silva, FSP

 Nunca tantos deputados federais, mais de uma centena, tornaram-se alvo de ações e processos criminais. Eles respondem de corrupção e peculato a violência contra a mulher. O levantamento foi realizado pelo site Congresso em Foco e mostra que a lista de investigados e réus ocupa um amplo mapa ideológico, perfazendo 16 partidos. O campeão de irregularidades é o PL, do ex-presidente Bolsonaro.


Para consolidar seu enorme poder, com faturamento estimado em US$ 1 bilhão por ano, a facção criminosa PCC conseguiu se infiltrar em atividades legais, como fazem as milícias e máfias. Um dos caminhos foi fraudar licitações usando o esquema de entrega de propina em pacotes de dinheiro a vereadores e agentes públicos de prefeituras e câmaras municipais no estado de São Paulo.


No Rio, o Tribunal Eleitoral decidiu transferir o endereço de 93 seções localizadas em áreas controladas por grupos criminosos, além de solicitar a presença de tropas federais no pleito municipal de outubro. O objetivo é garantir a segurança e que os eleitores possam exercer o direito de voto sem qualquer pressão.


Investigada por integrar o Bonde do Zinho e denunciada pelo MP-RJ, a deputada Lucinha mesmo assim não perdeu o mandato. Em todo o país a Polícia Federal está monitorando candidatos a vereador e a prefeito que mantêm ligação com organizações criminosas. A notícia vazou, instalando pânico em algumas pré-campanhas.


Os cenários e informações acima explicam por que os candidatos hoje dão mais importância à contratação de advogados criminalistas, deixando os marqueteiros em segundo plano. E por que, no rol de propostas que furam a fila de reais interesses da população e atendem à agenda de Arthur Lira, o PL que proíbe a assinatura de acordos de delação premiada com presos —jogada que beneficia os próprios parlamentares e o crime organizado— tenha uma urgência de salvar a pátria.

A deputada Lucinha - Thiago Lontras/Alerj

Maior geradora de energia solar do mundo investe R$ 2 bi no NE e defende subsídios, FSP

 

JAGUARETAMA (CE)

A empresa chinesa Spic, maior do mundo quando o assunto é geração de energia solar, acaba de estrear nesse segmento no Brasil com a inauguração de dois empreendimentos no Nordeste.

Com investimento de R$ 2 bilhões, os projetos no Ceará e no Piauí se somam a outras fontes operadas pela companhia, que tem como meta figurar entre as três maiores geradoras do país até 2025.

Para que os investimentos em energia limpa sigam crescendo, porém, a presidente da filial brasileira da companhia, Adriana Waltrick, defende a continuidade de subsídios.

Moça de cabelos castanhos lisos de comprimento médio, com paletó branco, fala em púlpito em frente a uma parede vermelha
Adriana Waltrick, CEO da SPIC Brasil, no complexo de energia solar Panati, no interior do Ceará - Rubens Cavallari/Folhapress

"Dada a sobreoferta de energia, para viabilizar novos projetos a gente precisa ainda do desconto no fio, na distribuição e na transmissão. Para o futuro, cada indústria é diferente. A do hidrogênio [verde] deve necessitar de subsídios para poder se levantar, assim como aconteceu com a solar e a eólica", disse Waltrick no evento de inauguração do Complexo Panati, em Jaguaretama (CE), cidade a 240 km de Fortaleza.

O desconto no fio citado pela executiva é um subsídio para projetos de energia renovável no uso da linha de transmissão e que é pago por todos os consumidores na conta de luz. Uma MP (medida provisória) assinada em abril pelo presidente Lula (PT) prorrogou o prazo para que esses projetos ganhem o desconto.

Como mostrou a Folha, especialistas calculam que o impacto pode ser de R$ 6 bilhões ao ano dentro da CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), que reúne subsídios do setor e são pagos na conta de luz.

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O subsídio também foi defendido pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (CE), que esteve na inauguração do complexo solar no sertão cearense.

"Nós atuamos juntos ao presidente Lula para que esses benefícios, que estavam garantidos em lei para os investidores, pudessem ser prorrogados até que o leilão fosse feito e as linhas de transmissão pudessem ser viabilizadas", disse Freitas.

O governador ainda ressaltou a importância do marco legal do hidrogênio para o estado, que foi aprovado pelo Senado na quarta (19). Como teve alterações no texto, a proposta volta à Câmara.

Construído em cerca de 12 meses, o complexo solar do Panati tem capacidade instalada de 292 MWp (megawatt-pico), o suficiente para abastecer cerca de 350 mil residências.

O investimento da Spic Brasil no projeto foi de aproximadamente R$ 1 bilhão, dos quais 65% foram financiados junto ao Banco do Nordeste –o restante veio de recursos próprios.

Somada ao parque de Marangatu, em Brasileira (PI), a capacidade instalada total do complexo é de 778 megawatts, o que o torna no quarto maior do país, de acordo com a empresa. Aproximadamente 75% da energia gerada está comprometida em contratos de longo prazo, e a produção restante será vendida no mercado livre de energia (em que o consumidor negocia com uma comercializadora o preço da eletricidade).

A Spic Brasil comprou 70% de participação dos dois projetos na fase "greenfield" (feitos a partir do zero) em junho de 2022. A vendedora foi a Recurrent Energy, controlada pela Canadian Solar, e que fica como sócia minoritária dos empreendimentos.

Com 176 GW (gigawatts) de capacidade instalada globalmente, a Spic é uma das cinco maiores geradoras da China. Apenas na fonte solar são 71 GW.

No Brasil, ela também atua na geração hídrica, com a usina de São Simão (GO), na eólica, com dois parques na Paraíba, e na térmica, via participação no GNA (Gás Natural Açu), em São João da Barra (RJ). Com a inauguração dos complexos solares, ela passa a contar com 3.844,2 MW de capacidade instalada de ativos em operação no país.

O repórter viajou a convite da Spic Brasil