quarta-feira, 16 de julho de 2025

‘Operação Tabajara’ protagonizada por Tarcísio e Eduardo deixa Centrão à beira de ataque de nervos, OESP

 A briga entre o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) está deixando partidos do Centrão à beira de um ataque de nervos. Nos bastidores do poder, as articulações políticas feitas pelos dois expoentes do bolsonarismo são chamadas de “Operação Tabajara”.

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O bate-boca virtual, na esteira do tarifaço de 50% imposto ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem por trás a disputa de 2026. Mas não é só isso: o que está em jogo nesse duelo é qual direita vai sobreviver às eleições.

Eduardo quer ser candidato à cadeira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no lugar de seu pai, Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030 e, tudo indica, prestes a ser preso. Tarcísio tem a mesma ambição, mas precisa agir com cautela: não pode fazer nenhum gesto que desagrade ao ex-presidente, seu padrinho político.

Eduardo Bolsonaro, em manifestação na Avenida Paulista, olha para Tarcísio de Freitas, hoje seu desafeto
Eduardo Bolsonaro, em manifestação na Avenida Paulista, olha para Tarcísio de Freitas, hoje seu desafeto Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Para você

Integrantes de partidos que compõem o Centrão, como o PP do senador Ciro Nogueira, não escondem a preocupação com o desfecho desse confronto. Em conversas reservadas, políticos do grupo avaliam que Tarcísio deu um tiro no pé ao se reunir com o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, em Brasília, e também ao procurar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir que a Corte devolvesse o passaporte a Bolsonaro.

O governador queria que o STF autorizasse Bolsonaro a viajar para os Estados Unidos sob o argumento de que, dessa forma, ele poderia convencer Trump a desistir da exorbitante taxa de 50% sobre produtos brasileiros. Eduardo aproveitou a derrapada de Tarcísio para apontar a artilharia contra ele.

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Enquanto a oposição se engalfinha, uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira, 16, pela Genial/Quaest anima o Palácio do Planalto. O levantamento indicou que, para 72% dos entrevistados, Trump está errado ao impor taxas ao Brasil por acreditar que há uma perseguição a Bolsonaro. Somente 19% disseram que o presidente dos EUA tem razão. Outros 9% não responderam.

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Política
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De qualquer forma, os movimentos de Tarcísio para barrar a sanção norte-americana serviram para provocar a ira de Eduardo, que, dos Estados Unidos, não para de alfinetar o governador. Em um dos posts, o filho “03″ de Bolsonaro disse que Tarcísio tem uma “subserviência servil às elites”.

Diante de mais esse imbróglio nas fileiras da direita, a ala do Centrão que apoia a candidatura do governador ao Planalto apresenta agora uma lista de desconfianças. E uma delas é bem pragmática, ao estilo do grupo: mesmo que Bolsonaro declare apoio a Tarcísio – que, para concorrer à cadeira de Lula, terá de renunciar ao Bandeirantes –, quem garante que ele não mudará de ideia na última hora?

Acusado pela Procuradoria-Geral da República de liderar uma trama golpista, Bolsonaro atua dia e noite para conseguir a anistia e tem dito que só isso fará Trump desistir do tarifaço.

O plano de seus aliados era para que um novo projeto de lei prevendo o perdão aos réus do 8 de Janeiro fosse apresentado antes do recesso parlamentar. Sem apoio do Congresso, no entanto, tudo foi engavetado.

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“Com essa confusão danada dos Estados Unidos, vamos esperar a poeira baixar”, disse à coluna o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos). “Nós também não íamos querer essa anistia meia-boca”, reagiu o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ). “Em agosto, com o governo sentindo no bolso a pressão, vamos ver se essa anistia sai ou não sai”.

O deputado defende Eduardo Bolsonaro na briga com Tarcísio. “É preciso deixar esse pepino do tarifaço no colo do Lula porque vai chegar uma hora em que ele terá de pedir ajuda para nós, da oposição”, afirmou Sóstenes.

Uma coisa, porém, é certa, segundo o líder do PL: Tarcísio não faz nada sem o aval de Bolsonaro. Se assim for, a direita que vê no governador de São Paulo uma opção menos radical do que o bolsonarismo pode começar a pôr as barbas de molho. Mas a pergunta que fica é: após a provável condenação do ex-presidente, quem dará as cartas nesse ninho de mafagafos?

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