Ele foi um dos artistas mais injustiçados da Bossa Nova. Nunca teve o reconhecimento merecido do grande público, embora fosse adorado pelos músicos. Foi também um dos que lançaram as sementes do movimento. Fazia um som moderníssimo para a época, antes mesmo da Bossa Nova nascer. Algumas de suas composições como "Rapaz de Bem" e "Céu e Mar" são consideradas precursoras do gênero.
Alfredo José da Silva, cujo nome artístico era Johnny Alf cresceu na Tijuca, no Rio de Janeiro, mas escolheu São Paulo para tocar magistralmente seu piano e desenvolver seus talentos. Diferentemente de vários artistas do movimento, talvez por sua timidez, não fez carreira no exterior. Não participou, por exemplo, do histórico show no Carnegie Hall, em Nova York. Manteve-se na cidade tocando em muitos bares, como o Cave, a Baiuca e o Michel, nos anos 1950 e 1960.
Foi no Cave, numa apresentação sua, que Vinícius de Moraes disse que São Paulo era o "túmulo do samba". Vinícius se irritou com algumas pessoas que falavam alto durante o show de Alf, "uns grã-finos já no meio do óleo" e disse para o pianista "pegar sua malinha e se mandar para o Rio".
Mas ele não se mandou. Via em São Paulo um mercado mais promissor para seu tipo de música e preferia ficar longe dos holofotes, apesar dos chatos. Em outro episódio marcante, dessa vez na Baiuca, também nos anos 1960, estava no meio do público a cantora americana Sarah Vaughan, que se encantou com o jeito de Alf tocar piano. Gostou tanto que o convidou para ir com ela para os Estados Unidos. Como diz Ruy Castro no livro "Chega de Saudade", "Alf gelou e fez que não entendeu".
O pianista e cantor chegou em São Paulo em 1955, quando os bares da cidade começavam a ferver. Buscava novas oportunidades e um público e um cenário diferentes para se dedicar à música profissionalmente. No Rio, ele encontrava resistências da sua família para trabalhar na noite, o que fazia desde 1952, e era obrigado a conciliar sua nascente carreira com o trabalho de cabo do Exército.
Em 1962 voltou para Rio para se apresentar no Bottle's Bar com o conjunto Tamba Trio, de Luiz Eça, Bebeto Castilho e Hélcio Milito. Passou uma temporada por lá, mas retornou para a capital paulista dessa vez para não sair mais. Seu estilo inovador criava melodias complexas e misturava elementos do jazz, da música clássica e da música popular brasileira. Tom Jobim o considerava "genial".
Em 1967 participou do 3º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, onde apresentou seu, talvez, maior clássico: "Eu e a Brisa". Quem a interpretou foi a cantora Márcia, mulher do locutor esportivo Sílvio Luiz. A música foi desclassificada, mas se imortalizou.
Para a cantora Alaíde Costa, um das razões para Alf não ter alcançado o merecido sucesso foi o preconceito racial, que ela também diz ter sofrido. A Bossa Nova foi uma música feita basicamente por pessoas brancas. Pesa também o temperamento retraído de Alf, que se acomodou tocando em bares para públicos relativamente pequenos.
Nos anos 1980 fez a abertura de vários shows no 150 Night Club para artistas como Carmen McRae e Michel Legrand. No final da vida morava num asilo na cidade de Santo André. Sua última apresentação foi em agosto de 2009, no teatro do Sesi, em São Paulo, justamente ao lado de Alaíde Costa. Morreu em 2010, aos 80 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário