Na última semana, o tarifaço anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros transformou-se em uma nova onda de polarização digital. Nos mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram monitorados pela Palver, a repercussão da medida disparou a partir da quinta-feira (10), que registrou o maior volume de mensagens sobre o tema.
A decisão do presidente dos Estados Unidos gerou reações intensas de todos os campos ideológicos. Mas, mais do que discutir os impactos econômicos da medida, os grupos se engajaram em uma disputa de narrativas sobre quem seria o verdadeiro responsável pela taxação.
No dia 7 de julho, Donald Trump fez um post em sua rede social, Truth Social, defendendo Jair Bolsonaro (PL) e pedindo que o ex-presidente seja julgado pelas urnas, e não pela Justiça. No mesmo dia, Eduardo Bolsonaro (PL) gravou um vídeo comentando a postagem de Trump e informando que outras medidas deveriam ser anunciadas ainda na semana passada.
Quando a taxação imposta sobre os produtos brasileiros foi divulgada, Eduardo Bolsonaro, que se licenciou do mandato de deputado federal para morar nos Estados Unidos, aproveitou a oportunidade para argumentar que a única saída possível para o impasse é que seja dada uma anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro.
A reação tanto da população como dos setores que serão altamente afetados com as tarifas, como é o caso do agronegócio, foi bastante negativa, e Eduardo foi direcionando seu discurso para a narrativa de que o Brasil está sendo punido por conta das ações do STF e do ministro Alexandre de Moraes.
Um levantamento da Palver realizado no dia 10 de julho aponta que as conversas orgânicas sobre o tema, ou seja, naquelas em que não houve disparos ou mensagens virais sendo compartilhadas, 60% dos usuários nos grupos de mensageria criticaram Trump e as medidas impostas contra o Brasil. Quando a análise considerou os vídeos, imagens, áudios mais compartilhados, pouco mais de 60% destes conteúdos procuraram culpar o governo Lula ou o STF.
Nos grupos alinhados à direita, houve um esforço para redirecionar a culpa para Lula. A tese mais comum sugere que o atual governo teria abandonado o alinhamento automático com os EUA para se aproximar de regimes antiamericanos, como Rússia e China, por meio dos Bricas.
Já nos grupos de esquerda e também naqueles em que não há um alinhamento ideológico, a leitura é oposta. As mensagens mais populares culpam diretamente Bolsonaro e seu filho Eduardo pelo aumento das tarifas. O argumento central é o de que Eduardo usou seu afastamento do mandato de deputado para morar nos Estados Unidos e conspirar contra o Brasil, e que a decisão de Trump é uma afronta à soberania nacional.
O governador Tarcísio de Freitas também foi levado ao centro da discussão após se reunir com o encarregado de negócio dos Estados Unidos para negociar as tarifas e também por ter solicitado ao STF que Bolsonaro possa viajar para Washington para ajudar nas negociações. Nos grupos de direita, ele aparece de maneira ambígua: ora como um político hábil tentando manter pontes com os EUA, ora como um aproveitador tentando se desvencilhar do bolsonarismo. Já na esquerda, Tarcísio é retratado como parte do mesmo projeto de submissão aos interesses bolsonaristas.
O governo Lula ganhou um presente de Donald Trump, uma razão para unificar o país e direcionar sua comunicação em defesa da soberania da nação e dos interesses brasileiros. A resposta adotada pelo governo será fundamental para conquistar o apoio da população. Um erro de cálculo pode entregar de bandeja a popularidade do tema para que seja explorada pela oposição. A bola está em jogo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário