Pareceu bravata quando Eduardo Bolsonaro disse na segunda-feira à repórter Julia Chaib, em Washington, que "Trump não joga palavras ao vento (...) tem alguma coisa acontecendo e eu estou com uma expectativa alta. (...) Esses próximos tempos podem trazer boas novidades."
Na quarta-feira as novidades vieram, e Eduardo voltou a falar: "Apelamos para que as autoridades brasileiras evitem escalar o conflito e adotem uma saída institucional que restaure as liberdades. Cabe ao Congresso liderar esse processo, começando com uma anistia ampla, geral e irrestrita, seguida de uma nova legislação que garanta a liberdade de expressão —especialmente online— e a responsabilização dos agentes públicos que abusaram do poder."
Era o mapa do tesouro para o bolsonarismo trumpista. Sua chave está na anistia.
A sobretaxa de 50% afeta as exportações nacionais, e o projeto que anistia os bolsonaristas, devolvendo a elegibilidade do ex-presidente, está no Congresso há meses. Nesse cenário, o Congresso aprova a anistia, podendo dizer que a decisão foi soberana, pois a apresentação do projeto antecedeu o joelhaço de Trump.
O presidente americano poderá, no seu melhor estilo, cantar vitória, retirando as sanções punitivas. A segunda fala de Eduardo Bolsonaro olha para a frente. Quando a sobretaxa de 50% produzir seus efeitos no bolso do andar de cima, destruindo empregos no de baixo, o que hoje é indignação patriótica poderá virar, aos poucos, impaciência com o Congresso.
Madame Natasha e os Brics
Madame Natasha gosta dos Brics, mas não sabe por quê. Ela acompanhou sua última reunião de cúpula e não entendeu nada. Humilde, resolveu ler a Declaração do Rio de Janeiro, com 126 itens. (O documento final da Conferência de Yalta, que redesenhou a Europa em 1945, tinha 14.)
Natasha perdeu o fôlego ao ler o item 38: "Ressaltamos a contribuição significativa das zonas livres de armas nucleares para o fortalecimento do regime de não proliferação nuclear, reafirmamos nosso apoio e respeito a todas as zonas livres de armas nucleares existentes e suas garantias associadas contra o uso ou a ameaça de uso de armas nucleares e reconhecemos a suprema importância dos esforços que visam acelerar a implementação das resoluções sobre o estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares e outras armas de destruição em massa no Oriente Médio, incluindo a conferência convocada de acordo com a Decisão 73/546 da Assembleia Geral da ONU."
Uma frase de 98 palavras é coisa de burocrata onipotente. Repetir nela por cinco vezes as palavras "nuclear" ou "nucleares" é ter um estilo radioativo. Natasha decidiu pedir ao chanceler Mauro Vieira que entregue ao diplomata que redigiu o texto a concessão de uma de suas bolsas de estudo.
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