Minha professora Conceição dizia que um livro de história econômica do Brasil é um manual do que ninguém deveria fazer em política econômica. Me lembrei dela vendo as propostas de Zohran Mamdani, o TikToker que venceu as primárias dos democratas e caminha para ser o próximo prefeito de Nova York.
Em 1º lugar, uma digressão: a minha Conceição é a Conceição Sampaio, paraibana, rigorosa professora de Economia do Setor Público da Universidade de Brasília, que formou gerações de economistas – alguns que tiveram que cursar sua disciplina mais de uma vez (eu, quase). Não confunda com Conceição Tavares, a portuguesa, da UFRJ, e mais famosa (fora da UnB).

Zohran, ex-rapper, faz vídeos inovadores. As propostas, porém, não são novidades. O aluguel está alto? Vamos congelar os preços. A comida está cara? Vamos criar supermercados estatais.
A ideia subjacente é a de que haveria margens de lucro excessivas na cadeia de alimentos. Grupos de esquerda também têm defendido no Brasil canais de distribuição direta para venda à população. O que eles parecem subestimar é a quantidade de informação dispersa na logística de trazer alimentos dos produtores para os consumidores.
Para você
Só reduzir margem de lucro não vai resolver, mesmo usando imóveis do governo e isentando o IPTU, como quer Zohran. Há muita tecnologia envolvida em refrigeração e transporte, com eventos que exigem respostas rápidas – não típicas do setor público. Os contratos são complexos, lidam com clima e seguros, e as cadeias maiores têm poder de negociação melhor. Entrantes precisam ingressar em uma extensa rede de atores consolidada ao longo de muito tempo.
E a professora Conceição nisso? Contei a vitória de Zohran para meus alunos, que me explicaram que há precedente aqui: Brasília já teve um supermercado estatal. Quando a concorrência chegou, ele fechou, há quase 50 anos.
Mas os funcionários ainda existem, e estão na folha do DF (indiretamente paga pelo contribuinte brasileiro). Na experiência brasiliense de supermercado público não existem mais produtos, mas existem os confeiteiros, açougueiros, um padeiro, operadores de caixa, carregadores, repositores e o mais interessante: cartazistas.
Salários somam mais de R$ 1 milhão por mês. Nem enterramos esse supermercado, e cogitam outros. Esse será um desafio para a reforma administrativa, que acontece em menor grau em outras áreas: o que fazer com servidores que não são mais necessários (redundantes)?
Políticas públicas morrem, servidores ficam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário