A indústria farmacêutica nacional ocupa uma posição estratégica no Brasil, fruto de um processo consistente de crescimento, inovação e investimentos. Nas últimas décadas, o setor ampliou sua participação no mercado interno, fortaleceu sua capacidade produtiva, vem assumindo um papel cada vez mais relevante no fornecimento de medicamentos para o SUS e está na vanguarda da pesquisa em biotecnologia.
É preciso olhar para os números para compreender o salto dado nos últimos 25 anos e o novo ciclo de desenvolvimento que se anuncia. Em 1998, apenas uma entre as dez maiores farmacêuticas que atuavam no Brasil era de capital nacional. Hoje, seis são brasileiras, incluindo as quatro primeiras no ranking. Cerca de 50% de todos os medicamentos consumidos no país são produzidos pela indústria brasileira. Quando se trata das compras públicas para o SUS, chega a 75%.
O avanço não se limita à produção. A indústria nacional está investindo fortemente em inovação, preparando-se para fabricar vacinas e está desenvolvendo medicamentos sofisticados, como os anticorpos monoclonais.
Diante desse cenário, é necessária a discussão de um programa estruturante, de longo prazo e metas ambiciosas, aos moldes do que outros setores produtivos já possuem. Um dos objetivos da Missão 2 do programa Nova Indústria Brasil é de que, até 2033, 70% dos medicamentos e produtos de saúde consumidos no país sejam fabricados pela indústria local. O apoio do Parlamento e de órgãos como o Ministério da Saúde tem sido fundamental, mas é preciso dar continuidade e ampliar esse esforço.
Há obstáculos concretos que precisam ser enfrentados. O país acumula um déficit anual de US$ 18 bilhões na balança comercial de fármacos e medicamentos. Cerca de 60% desse déficit é composto por medicamentos de alta complexidade. E há um atraso regulatório significativo: cerca de R$ 17 bilhões em novos produtos aguardam aprovação na Anvisa, um gargalo que começa a ser destravado pelo Ministério da Saúde.
Outro ponto sensível é a política de preços de medicamentos. É necessário equilibrar três objetivos: garantir o acesso da população, assegurar a sustentabilidade das compras públicas e fomentar a inovação. Essa equação é vital para reduzir a dependência externa.
A competição internacional é dura. Países como China e Índia investem no setor há décadas. No Brasil, a indústria cresceu a partir da aliança entre políticas públicas importantes e pelo esforço próprio dos empresários. A adoção de salvaguardas não deve ser vista como protecionismo, mas como estratégia de soberania e estímulo ao desenvolvimento industrial.
Ainda assim, há razões para otimismo. O Brasil tem uma base sólida: boa ciência, capacidade produtiva e um empresariado que investe. Segundo a pesquisa Pintec, as farmacêuticas brasileiras investem o dobro das multinacionais em pesquisa e desenvolvimento. Também são as principais tomadoras de crédito das linhas de inovação do BNDES e da Finep, demonstrando o apetite por crescimento tecnológico.
O caminho está sendo trilhado. A ponte para o futuro da indústria farmacêutica nacional já começou a ser construída. Com mais articulação, metas claras e políticas públicas estáveis, o Brasil pode e deve chegar na próxima década em um novo patamar mais inovador e mais preparado para garantir o abastecimento do SUS e promover o acesso à saúde da população brasileira.
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