segunda-feira, 7 de julho de 2025

Hélio Schwartsman - Brics escancara ambiguidades globais, FSP

  

O mundo é um lugar ambíguo e uma boa prova disso vem de organizações multilaterais como o Brics, que não escondem os interesses conflitantes daqueles que pretendem formar um grupo coeso.

O Brics surgiu em 2001 como acrônimo dos países emergentes em que investidores deveriam ficar de olho; Brasil, Rússia, Índia e China (a África do Sul, o S, entrou depois). Mas os países mencionados gostaram da ideia de formar um bloco que se orientaria por interesses econômicos comuns e o formalizaram.

As divergências logo surgiram e se agravaram. A China se tornou superpotência em atrito com os EUA. É a Guerra Fria 2.0. Por seu peso gravitacional, Pequim é quem mais influencia o clube.

O melhor exemplo disso é a ampliação do bloco, que passou a incluir também Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, Indonésia e Arábia Saudita, o que interessava a Pequim (quanto maior a lista de integrantes, mais relevante em tese o grupo se torna), mas não ao Brasil, cujo poder decisório foi diluído.

O presidente Lula fala na Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel/AFP

A ampliação deixou o grêmio com feições mais autoritárias, mas não penso que seja muito exato classificá-lo como antiocidental. Índia, Egito, Emirados e os sauditas são aliados firmes dos EUA. Daí a necessidade de circunlóquios na declaração da cúpula do Rio, que evitou até mencionar que Washington atacou o Irã, um dos membros do bloco.

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Essa não é a única contradição. Os países também divergem na reforma da ONU, a grande obsessão da diplomacia brasileira, e até na busca de alternativas ao dólar. A Rússia, sob sanções, é grande entusiasta dessa pauta, que Pequim, segundo maior detentor de títulos da dívida dos EUA, vê com cautela e na qual prefere caminhar devagar.

Ambiguidades e inconsistências não estão limitadas a órgãos coletivos. Trump, que agora ameaça sobretaxar países que se alinharem ao que ele considera políticas de lesa-dólar do Brics, é quem mais contribui para o enfraquecimento da moeda americana, ao disseminar incertezas.

O mundo é um lugar ambíguo e pouco propício a diletantes.

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