quinta-feira, 17 de julho de 2025

Bolsonarismo em curto-circuito, Hélio Schwartsman, FSP

 Estou entre os que acreditam que não existem limites biológicos para a burrice. A família Bolsonaro não é conhecida por produzir candidatos ao prêmio Nobel ou à medalha Fields, mas acho que nem o mais estulto membro do clã teria tido a ideia de pedir a Donald Trump que ameaçasse o Brasil com tarifas de 50% a menos que o processo contra Jair Bolsonaro no STF fosse extinto.

Fazê-lo seria criar um caso de dano autoinfligido para constar em todos os compêndios de erros políticos catastróficos. Ainda assim, foi exatamente o que ocorreu. Como explicar?

Um homem de terno escuro está em pé em uma plateia, com a mão sobre o coração. Ele parece estar prestando atenção a um orador. Ao fundo, há uma tela com a mensagem: 'GREAT JOB YOU'RE DOING. I HAD A FRIEND OF MINE, HE...'. A plateia é composta por várias pessoas, algumas visíveis em primeiro plano.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) - Bryan Sinder - 22.fev.2025/Reuters - Brian Snyder/REUTERS

Minha teoria é a de que houve um curto-circuito. Eduardo Bolsonaro, que julga ser um exilado político, vinha se empenhando em fazer lobby contra instituições brasileiras junto à corte trumpiana. Sua ambição maior era enquadrar o ministro Alexandre de Moraes na lei Magnistsky, que permite ao governo americano impor sanções econômicas a estrangeiros. Se desse certo, Moraes poderia perder seu cartão Visa.

O filho trinigênito do capitão reformado teve sucesso em fazer a cabeça dos americanos contra o Brasil, mas não considerou que lidava com Trump, a causa eficiente do curto-circuito (Dudu é causa formal). O presidente americano, em vez de limitar sua resposta ao que Eduardo pretendia, decidiu fazer o que mais gosta, que é ameaçar com um tarifaço e ainda o vinculou ao processo contra Bolsonaro.

Se Trump tivesse sido um pouco mais sagaz ou cauteloso, ligando as sanções apenas a ações de Lula, como a participação do Brasil no Brics, Bolsonaro não teria ficado tão mal na foto. Mas o Agente Laranja, por uma combinação de ignorância com indiferença (nem se preocupou em calcular as consequências de seus atos), deu a Lula um presentão, que já aparece nas pesquisas.

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O fato de nada disso ter sido planejado exonera Eduardo Bolsonaro? Penso que não. Ele deveria saber que lidava com Trump. Se você contrata uma criança de dois anos bêbada para guiá-lo numa escalada do monte Everest, não pode eximir-se do que acontecer de errado na expedição.


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