"O Primeiro Leitor", de Luiz Schwarcz, é um livro para quem gosta de livros. A obra combina ensaios sobre o ofício de editor com memórias de alguém que percorreu com grande sucesso essa trajetória profissional. Luiz é fundador e principal executivo da Companhia das Letras.
O autor resolve essa duplicidade temática de modo salomônico. Os capítulos ímpares trazem a parte ensaística, e os pares, a memorial. O subtítulo que Luiz deu ao livro tem algo de síntese dialética: ensaio de memória.
Gostei particularmente dos ensaios, mas confesso que foram as memórias que li com maior avidez. É que os capítulos ímpares trazem as reflexões mais sérias, não só sobre edição de livros mas também sobre leitura. O editor, afinal, é, como diz o título, o primeiro leitor.
Nos pares, temos relatos da convivência de Luiz com personalidades do mundo das letras, brasileiras, como Rubem Fonseca e Jô Soares, e estrangeiras, como Susan Sontag, Amos Oz e José Saramago.
Sim, é nos pares que estão as fofocas literárias, mas elas integram memórias que, embora não sejam (esperemos) peças de ficção, funcionam um pouco como um Bildungsroman, que nos faz entender a formação de Luiz como editor, autor e indivíduo.
Nos ensaios, Luiz explora um pouco de tudo. Há reflexões sobre abertura de romances, tema que parece fascinar todos os leitores, mas também sobre finais e miolos, que tendem a ficar mais esquecidos. Ele também discute o poder quase censório exercido por editores quando recusam, às vezes sem ler, um original. Nem o cheiro, a coloração e a porosidade do papel do livro são esquecidos.
Num âmbito já mais filosófico, descobri que partilho com Luiz uma espécie de fascínio pelo acaso. Ambos reconhecemos e aceitamos que o acaso desempenha sobre nossas vidas um papel muito mais relevante do que aquele que a evolução darwiniana nos preparou para admitir.
"O Primeiro Leitor" é um daqueles livros que nos faz examinar e reexaminar várias ideias ao mesmo tempo, o que é sempre uma ótima experiência de leitura.
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