segunda-feira, 14 de julho de 2025

Hélio Schwartsman - Um livro para quem gosta de livros, FSP

 "O Primeiro Leitor", de Luiz Schwarcz, é um livro para quem gosta de livros. A obra combina ensaios sobre o ofício de editor com memórias de alguém que percorreu com grande sucesso essa trajetória profissional. Luiz é fundador e principal executivo da Companhia das Letras.

O autor resolve essa duplicidade temática de modo salomônico. Os capítulos ímpares trazem a parte ensaística, e os pares, a memorial. O subtítulo que Luiz deu ao livro tem algo de síntese dialética: ensaio de memória.

A imagem mostra um homem de óculos, com cabelo grisalho, lendo um livro em uma mesa. Ele está vestido com um paletó escuro e uma camisa clara. Ao fundo, há uma estante de livros coloridos, com volumes em várias cores dispostos de forma organizada. O ambiente é acolhedor e bem iluminado, sugerindo um espaço de leitura.
Ilustração de Annette Schwartsman sobre o editor Luiz Schwarcz para a coluna de Hélio Schwartsman, esta publicada também na versão impressa da Folha deste domingo (13 de julho) - Annette Schwartsman/Annette Schwartsman

Gostei particularmente dos ensaios, mas confesso que foram as memórias que li com maior avidez. É que os capítulos ímpares trazem as reflexões mais sérias, não só sobre edição de livros mas também sobre leitura. O editor, afinal, é, como diz o título, o primeiro leitor.

Nos pares, temos relatos da convivência de Luiz com personalidades do mundo das letras, brasileiras, como Rubem Fonseca e Jô Soares, e estrangeiras, como Susan SontagAmos Oz e José Saramago.

Sim, é nos pares que estão as fofocas literárias, mas elas integram memórias que, embora não sejam (esperemos) peças de ficção, funcionam um pouco como um Bildungsroman, que nos faz entender a formação de Luiz como editor, autor e indivíduo.

Nos ensaios, Luiz explora um pouco de tudo. Há reflexões sobre abertura de romances, tema que parece fascinar todos os leitores, mas também sobre finais e miolos, que tendem a ficar mais esquecidos. Ele também discute o poder quase censório exercido por editores quando recusam, às vezes sem ler, um original. Nem o cheiro, a coloração e a porosidade do papel do livro são esquecidos.

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Num âmbito já mais filosófico, descobri que partilho com Luiz uma espécie de fascínio pelo acaso. Ambos reconhecemos e aceitamos que o acaso desempenha sobre nossas vidas um papel muito mais relevante do que aquele que a evolução darwiniana nos preparou para admitir.

"O Primeiro Leitor" é um daqueles livros que nos faz examinar e reexaminar várias ideias ao mesmo tempo, o que é sempre uma ótima experiência de leitura.

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