Por Henrique Sampaio
A marca que já foi sinônimo de telefonia móvel e inovação está, mais uma vez, à beira da extinção. A HMD Global, empresa finlandesa criada em 2016 para ressuscitar os telefones Nokia, anunciou nesta semana que está encerrando suas operações nos Estados Unidos. O recuo marca não apenas uma mudança de estratégia comercial, mas simboliza o fim definitivo de uma era em que a Nokia era referência global em telefonia móvel.
De forma discreta, a HMD comunicou sua decisão alegando que a medida foi tomada após uma “análise cuidadosa” diante do “desafiador cenário geopolítico e econômico” atual.

Na prática, a justificativa aponta para medidas como a taxação do governo de Donald Trump para a importação de produtos fabricados em países asiáticos, onde se concentra a produção da maioria dos eletrônicos do mundo.
Fundada a partir das cinzas da Nokia após a frustrada aquisição da divisão móvel pela Microsoft, a HMD conseguiu, por alguns anos, reanimar a marca em celulares básicos e intermediários com Android. No entanto, nos últimos anos, a empresa passou a apostar em aparelhos próprios e parcerias pontuais, como os telefones temáticos da Barbie e da Heineken, abandonando gradualmente o uso do nome Nokia.
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Essa guinada se intensificou em 2023, quando a HMD lançou o Skyline, já sem a assinatura Nokia. No início de 2025, os smartphones da marca finlandesa sumiram de vez do catálogo da empresa, restando apenas alguns modelos básicos vendidos em mercados específicos.
Nos EUA, os efeitos já são visíveis. O site oficial da HMD está fora do ar, e não há mais botões de compra ativos para seus aparelhos. Embora ainda seja possível encontrar alguns modelos à venda em varejistas como a Amazon, trata-se apenas de estoques restantes, sem perspectiva de reposição.
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Em seu comunicado, a HMD assegura que irá manter o suporte a produtos vendidos e garantias por meio de suas equipes globais. Também promete apoiar os funcionários afetados pela decisão, embora não tenha divulgado detalhes sobre eventuais demissões ou realocações.
Em 2024 a HMD chegou a ressuscitar o icônico Nokia 3210, apelidado carinhosamente de ‘tijolão’ no Brasil. A empresa vinha apostando no mercado de “dumb phones”, celulares com poucos recursos para quem quer evitar os excessos das redes sociais.
A HMD afirma que segue ativa, com foco em novos mercados e linhas de produto. Mas sua saída dos EUA simboliza uma segunda morte para a Nokia, que um dia já dominou esse mercado.
No Brasil, a HMD Global encerrou discretamente suas operações no final de 2023, após o fim da parceria com a Multi (antiga Multilaser), responsável pela fabricação e distribuição dos celulares Nokia no país desde 2020.
Com vendas fracas, participação de mercado abaixo de 1% e produtos considerados pouco competitivos, a marca não conseguiu se firmar frente à forte concorrência de gigantes como Samsung e Motorola. A saída também acompanhou uma mudança de estratégia global da HMD, que passou a priorizar sua marca própria e descontinuar gradualmente os smartphones Nokia. Desde então, os aparelhos desapareceram do site oficial e das grandes redes varejistas, restando apenas estoques remanescentes.
Entenda a ‘nova’ Nokia
Pioneira no mercado de celulares, com modelos como o “o celular do jogo da cobrinha” (o Nokia 5110) ou o “bananafone do filme Matrix” (Nokia 8110), a marca finlandesa teve um caminho tumultuado nos últimos anos. Em 2013, a divisão de dispositivos móveis da Nokia foi comprada pela Microsoft. Pouco tempo depois, com o fracasso do sistema operacional Windows Phone frente aos rivais Android (do Google) e iOS (da Apple), a área foi posta de lado pela companhia fundada por Bill Gates.
No final de 2016, por contrato, os direitos sobre a marca “Nokia” retornaram à finlandesa, que permaneceu como fabricante de tecnologia para telecomunicações. A companhia então cedeu o uso da marca para a HMD Global, empresa fundada por ex-funcionários da Nokia para fazer smartphones com sistema Android para o mundo todo. Desde fevereiro de 2017, a HMD Global lança aparelhos em mais de 50 países, incluindo diversos mercados da América Latina. Em abril de 2020, foi a vez do Brasil – na ocasião, a empresa lançou por aqui o Nokia 2.3, um smartphone de entrada.
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