terça-feira, 15 de julho de 2025

O monopólio da Crefisa no INSS, Rômulo Saraiva, FSP

Em troca de R$ 14 bilhões, valor estimado que o INSS almeja ganhar entre 2025 a 2029 com a terceirização da folha de pagamento, parece que foi deixada de lado a preocupação com a qualidade do serviço público. Além de potencializar a chance do vazamento de dados, o leilão da folha do Instituto tem trazido muita dor de cabeça aos aposentados, sobretudo com a Crefisa que arrematou 25 do total de 26 lotes para atuar em todo o país.

A imagem mostra a fachada de uma loja da Crefisa. O letreiro da loja é azul com o nome 'Crefisa' em letras brancas e um símbolo amarelo ao lado. Abaixo, há uma vitrine com um fundo azul onde está escrito em letras grandes e brancas: 'DINHEIRO RÁPIDO E FÁCIL. ENTRE E CONFIRA!'. O ambiente parece ser um corredor de um shopping.
Fachada de agência da Crefisa na rua São Bento, no centro de São Paulo - Raquel Franco - 28.mai.2025/Folhapress

INSS concede mensalmente cerca de 600 mil novos benefícios. A maior parte desse contingente passa pelas mãos da Crefisa, que tenta no trânsito desse vaivém de novos aposentados recuperar o dinheiro investido, ofertando produtos e serviços financeiros. Até aí tudo bem. Esperava-se isso mesmo. O problema é que existe uma lista de irregularidades na prestação desse serviço.

Inicialmente, destaca-se a própria concepção do edital que o INSS chancelou em permitir monopólio temporário da Crefisa. Da mesma forma que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica atua no sistema brasileiro para garantir a livre concorrência e evitar abusos de posição dominante no mercado, o INSS que integra a administração pública deveria ter tido esse zelo na hora de confeccionar seu edital.

Outro problema é que a Crefisa não é necessariamente um banco. Não tem a estrutura nem a segurança de uma agência bancária. Os segurados se arriscam em serem assaltados em pequenos estabelecimentos, cujo espaço físico se mistura com a rua. Como sequer há caixa eletrônico, o aposentado precisa sacar em caixa 24h, que tem limite diário, ou baixar aplicativo para transferir o dinheiro, embora nem todos tenham familiaridade com a informática.

As filas de atendimento são demoradas e precárias. Se avolumam do lado de fora do estabelecimento, nas calçadas, em local inapropriado e expostos ao sol e chuva. Considerando o calor que muitas cidades brasileiras registram, um ambiente climatizado era o mínimo que um idoso poderia ter.

Para contornar essa demora na fila, alguns funcionários da Crefisa entram em contato com o segurado, insistindo para que o beneficiário compareça à agência antes da data prevista para o pagamento, sob a justificativa de que ser necessário ativar o benefício. Caso o beneficiário não compareça antes da data oficial, haveria demora no recebimento do pagamento. Muitos não arriscam e, ao chegar antes da data oficial, é comercializado o serviço da antecipação do benefício, evidentemente pagando taxas elevadas por esse serviço. Um empréstimo disfarçado.

Existem problemas mais sérios. Acumulam-se denúncias no Procon e no Banco Central acerca da Crefisa, desde a dificuldade de sacar o valor, empréstimo não autorizado, abusos no atendimento e cobrança de taxas. Há também oferta e indução para a contratação de empréstimo sem clareza e obrigação de abertura de conta e venda casada.

Embora historicamente o INSS não dispense atendimento de excelência ao público, ao menos em sua terceirização deveria. Infelizmente não é o que vem ocorrendo. O ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz (PDT), iniciou auditoria para verificar as reclamações. Mas possivelmente não dará em nada. Enquanto o INSS ganha bilhões, o aposentado sofre com a terceirização.

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