Tomar testosterona é moda entre os homens que frequentam academias. Embora em números bem menores, até mulheres aderiram a ela.
O perigo é a ignorância que cerca o uso indiscriminado. Não fosse ela, só fariam uso de testosterona os homens com níveis baixos desse hormônio na corrente sanguínea —hipogonadismo, em linguagem médica.
Neste caso costumam surgir sintomas há muito conhecidos: fadiga crônica, irritabilidade, diminuição da libido, disfunção erétil, ganho de peso, perda de massa muscular, redução da densidade óssea e depressão, entre outros agravos.
Na presença desses sintomas, exame de sangue mostrando níveis baixos de testosterona faz o diagnóstico de hipogonadismo e indica a necessidade de reposição do hormônio.
O problema é que a maioria dos usuários não recebeu a prescrição de um médico e não fez dosagem de testosterona no sangue, nem antes nem depois de iniciar o tratamento. Na orelhada, escolhem o anabolizante ou a testosterona sintética que o amigo toma ou a que o "digital influencer" da internet, às vezes fantasiado de médico, receita sem ter ideia da toxicidade e dos possíveis efeitos colaterais.
Esta coluna é dirigida a você, caríssimo leitor, que usa esses medicamentos por conta. Atenção.
1. Ao tomar, injetar ou aplicar cremes com testosterona, seu cérebro recebe uma mensagem que ele interpretará como excesso do hormônio. A resposta será a redução do número de espermatozoides e a diminuição do tamanho dos testículos. Com a interrupção do tratamento, a tendência é a de recuperar a fertilidade, mas não são raros os casos de infertilidade persistente ou definitiva.
2. O coração sofre. O perigo mais temível é o de morte súbita, uma vez que o risco de infarto do miocárdio aumenta mais de três vezes. O coração aumenta de tamanho (cardiomegalia), assim como a probabilidade de arritmias e de acidente vascular cerebral, conhecido como AVC.
3. Ocorre aumento do colesterol e dos triglicérides, fatores de risco para doenças cardiovasculares. A sensibilidade à ação da insulina diminui, criando predisposição ao diabetes tipo dois.
4. O volume da próstata pode aumentar, agravando queixas urinárias como retenção e redução do jato, incontinência e outros. Além disso, tumores prostáticos malignos crescem mais depressa e se tornam mais agressivos na presença do hormônio.
5. Crescem as concentrações de estradiol, hormônio tipicamente feminino que os homens produzem em quantidades pequenas. A consequência é retenção de água, alterações de humor e crescimento exagerado das mamas (ginecomastia).
6. No tratamento é importante repetir os testes de função hepática, para detectar alterações antes que se tornem mais graves.
7. Os efeitos sobre a pele costumam chamar a atenção —sudorese exagerada, oleosidade excessiva, acne localizada principalmente na face, no peito, nas costas e nos ombros, e queda de cabelo, eventualmente definitiva.
À medida que envelhecemos, ocorre o declínio gradual da produção de testosterona. Essa redução dos níveis costuma ser fisiológica, sem causar sintomas. Por outro lado, o envelhecimento muitas vezes vem acompanhado de condições crônicas associadas à redução dos níveis de testosterona —hipertensão arterial, diabetes tipo dois e obesidade.
A relação entre obesidade e hipogonadismo é direta —engordar reduz a produção de testosterona, emagrecer aumenta. Nos casos mais graves de obesidade é difícil corrigir o hipogonadismo só às custas da perda de peso.
A maior parte da testosterona é produzida à noite, enquanto dormimos. Alterações da arquitetura do sono provocadas pela apneia do sono e a insônia associada à ansiedade, depressão e ao estresse crônico da vida moderna interferem com os mecanismos de produção noturna que podem levar ao hipogonadismo.
Mesmo nos casos de hipogonadismo franco, as doses administradas de testosterona ou de anabolizantes devem ser controladas, para evitar o efeito "plateau", segundo o qual a partir de certos níveis do hormônio os aumentos não trazem mais benefícios clínicos, mas toxicidade crescente.
Você, leitor, que faz uso de anabolizantes ou de testosterona sintética, com a finalidade de exibir músculos exuberantes, esteja atento aos perigos que corre.
Embora eu não tenha nada a ver com sua vida, fique esperto. Se fosse você, eu teria medo de usar essas drogas sem nenhum controle médico.
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