segunda-feira, 15 de abril de 2024

Plano de Ferrovias terá R$ 20 bi com recursos de renegociação de contratos, diz ministro, CNN

 

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O Plano Nacional de Ferrovias do governo Lula deve somar mais de R$ 20 bilhões, com recursos que terão origem em repactuações contratuais de renovações antecipadas de concessões. A informação foi confirmada pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, a jornalistas na sede da B3, em São Paulo, nesta quinta-feira (11).

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Este dinheiro seria utilizado como aporte do governo em parcerias público-privadas (PPPs). Assim, leilões seriam realizados em formato no qual a empresa que oferecer o maior desconto ao gasto público leva o ativo.

A maior parte dos recursos deve vir de repactuação de contratos com a Vale. O ministério cobra a empresa por valor abatido nas renovações antecipadas de ferrovias em Carajás (R$ 21,1 bilhões) e em Vitórias-Minas (R$ 4,6 bilhões).

De acordo com Renan Filho, a mineradora já apresentou uma proposta ao governo, e o acordo poder ser fechado em breve.

Renan Filho, ministro dos Transportes
Renan Filho, ministro dos Transportes / economia Dólar opera acima de R$ 5,10 enquanto dados de inflação puxam pessimismo sobre Fed https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/mercados-dolar-ibovespa-hoje-12-de-abril/

Recentemente, o governo firmou acordo com a Rumo para repactuação da renovação da concessão da Malha Paulista, com previsão de pagamento de R$ 1,5 bilhão — valor que será utilizado no Plano de Ferrovias.

A gestão federal também cobra R$ 3,7 bilhões da companhia MRS Logística, que opera ferrovias em Minas Gerais. A pasta admite ouvir as concessionárias e negociar os valores cobrados.

As renovações antecipadas de concessão foram fechadas durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e na visão do governo Lula fizeram descontos equivocados no valor de outorga.

Outra frente é a renovação antecipada da concessão da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), pela VLI. O ministro indicou que o governo deve publicar uma portaria em breve com novas regras para renovações antecipadas.

A partir disso, a VLI poderá negociar sua renovação — ou o ativo seria leiloado a outra companhia. Caso a antecipação gere outorga, os cofres públicos serão abastecidos, indicou Renan Filho.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Um Congresso 'despudorado' e 'traficante', Álvaro Costa e Silva, FSP

 "O Congresso Nacional é a fonte de corrupção do regime, é a massa plástica de todas as imoralidades que deprimem e aviltam a nacionalidade (...) É assim o Congresso Nacional, uma cidadela de negocistas repelentes, a sangrar o erário debilitado (...) É esse reduto de desfibrados o gerador das discórdias políticas que dividem a família brasileira (...) Para que serve esse Congresso despudorado, traficante, desacreditado perante a opinião pública?"

Calma no Brasil. Apesar da contemporaneidade e da virulência do ataque (que, de certa maneira, lembra as mídias sociais), o texto acima data de 1927. É um trecho do editorial do periódico A Manhã, no qual se reconhece o estilo de Mario Rodrigues, o jornalista panfletário que, entre outras mil coisas, foi o pai de Nelson Rodrigues e Mario Filho.

Corte para 2024, quase 100 após a diatribe de Mario Rodrigues. O Congresso não vai lá muito bem das pernas. Segundo recente Datafolha, ele é avaliado como ótimo ou bom por apenas 22% dos entrevistados; 53% o veem como regular e 23% o desaprovam. Mesmo assim, parte da Câmara se mobilizou para soltar Chiquinho Brazão, ligado a milícias e apontado como mandante do assassinato de Marielle Franco.

O lobby reviveu uma figura transportada das trevas: Eduardo Cunha. Quase deu certo. Além dos bolsonaristas que, seguindo as ordens do chefe, ficaram abertamente ao lado de Brazão, integrantes do centrão usaram a tática covarde de se ausentar do plenário. Perderam por 277 a 129. Mais do que um desafio ao STF, o movimento foi um ensaio para a votação do projeto que busca anistiar Bolsonaro e o entorno golpista.

Enquanto isso, Arthur Lira trabalha para levar de volta à estaca zero o projeto de lei que regula as redes, deixando o campo livre para as cavilações de Elon Musk em parceria com a extrema direita transnacional. Só mesmo citando o pai do Nelson: "Massa plástica de todas as imoralidades".

Empresa acusada de elo com PCC ameaçou e coagiu perueiros em SP, diz Promotoria, FSP

 

SÃO PAULO

O esquema de empresas de ônibus em São Paulo usadas para lavar dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), denunciado pelo Ministério Público nesta terça-feira (9), incluiu passado de ameaças e extorsões contra ex-perueiros, autônomos que dominaram o transporte público na capital durante boa parte da década de 1990.

As acusações recaem sobre a Transwolff, empresa de ônibus que atua na zona sul da cidade comandada por Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, preso durante operação da Promotoria nesta semana.

A empresa é alvo de pedido dos promotores de indenização por dano moral coletivo de R$ 596.290.746,00, mesmo valor da renda bruta declarado em 2021 à Junta Comercial.

Pátio de veículos da Transwolff, acusada de integrar esquema de lavagem de dinheiro do crime organizado
Pátio de veículos da Transwolff, acusada de integrar esquema de lavagem de dinheiro do crime organizado - Eduardo Knapp - 26.mar.20/Folhapress

No fim da década de 1990, a gestão do então prefeito Celso Pitta (1946-2009) deu início à tentativa de ordenação do transporte público em São Paulo, dominado, até então, pelas lotações, veículos irregulares que rodavam a cidade com passageiros conduzidos pelos chamados perueiros.

O vácuo na oferta do serviço de ônibus era vigente desde 1993, quando foi iniciada a privatização da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos). Os contratos, até então restitos à companhia, foram diluídos por regiões da capital e assumidos por diferentes empresas.

Em 2003, o sistema de transporte público mudou mais uma vez, e a cidade foi dividida em oito regiões. Cada uma foi concedida a consórcios formados por cooperativas de profissionais autônomos que precisaram se organizar para aderir ao sistema de repasses da estatal SPTrans (São Paulo Transportes S/A), entre elas, a Cooperpam, que dominava as linhas da zona sul junto com a Cooperauthon.

Pelas regras, os cooperados detinham individualmente a licença de transporte de passageiros e os veículos. Em contrapartida, tinham que fazer repasses semanais às cooperativas. Em vez de concessionários, esses profissionais eram permissionários, quando não há prazo definido para o fim da concessão do serviço público.

Cabiam às cooperativas receber os pagamentos da SPTrans e repassá-los aos cooperados. Com o tempo, a Cooperpam foi absorvida pela Transwolff, e essa dinâmica passou a ser permeada por ameaças e extorsões aos cooperados, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo) do Ministério Público.

De acordo com os promotores, a situação se agravou a partir de 2008, quando houve redução dos valores dos repasses, sem nenhuma transparência. Tudo isso, segundo a Promotoria, para forçar os então cooperados a renunciarem a suas cotas e permissões sem qualquer tipo de compensação.

Antes disso, em 2006, o dono da Transwolff já tinha iniciado uma rotina de ameaças de agressões físicas aos cooperados que integravam a Cooperpam, ainda segundo o Ministério Público. Ex-cooperados relataram em ações judiciais terem sido coagidos a assinarem pedidos de demissão em que também se comprometiam a abrir mão de qualquer direito patrimonial e contrapartida financeira.

Ao menos 26 ações judiciais foram movidas por ex-integrantes da Cooperpam para cobrar os repasses previstos no estatuto social e que nunca teriam sido pagos após os desligamentos.

Os que recusavam as condições impostas eram descredenciados da SPTrans (São Paulo Transportes S/A), o que os impedia de rodar com os ônibus pela cidade, diz a Promotoria.

Nesse período, de 2015 a 2019, Pandora era dono da Transwolff (chamada de TW na época), e Robson Flares Lopes Pontes, responsável pela Cooperpam.

Pontes também foi preso na terça acusado de ser integrante do PCC; ele é irmão de Gilberto Flares Lopes Pontes, o Tobé, um dos líderes da facção criminosa, morto em 2021.

"A prática de amedrontar, ameaçar e forçar os cooperados a assinarem o indigitado termo ternou-se comum na rotina da Cooperpam, na medida em que, somente por meio da referida 'doação', poderia incorporar o patrimônio de seus cooperados", diz trecho da denúncia do Gaeco.

A empresa foi procurada pela reportagem, mas não respondeu.

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