quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Uma história de envergonhar, Ruy Castro - FSP

 Gabriela Torquato Fernandez, presidente do Instituto XP, órgão dedicado à educação financeira, passou nesta semana por um monstruoso constrangimento. Numa escala de um voo de trabalho, no aeroporto de Campina Grande (PB), o raio-x acusou a presença de metal em seu corpo e mostrou o que era evidente à simples constatação visual: Gabriela é portadora de uma prótese. Duas funcionárias disseram que ela deveria retirá-la para ser submetida à inspeção. Gabriela explicou sua condição, mas elas foram inflexíveis —eram "ordens". Foi então encaminhada a um reservado para realizar a operação, que, mesmo em sua casa, não é das mais simples.


Gabriela teve má formação congênita. Nasceu sem os ossos do quadril do lado esquerdo e sem o membro inferior. Sua prótese fica em contato direto com a pele, que tende a se ferir e sangrar, e é amarrada na cintura. Sem ela, Gabriela tem certa dificuldade de se equilibrar. O auge da humilhação foi ao voltar ao saguão carregando a enorme e pesada prótese, para que ela passasse pelo raio-x, direto na esteira imunda porque não cabia na bandeja.


Tudo isso aconteceu no domingo último, 3 de dezembro —por acaso, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. A rigidez desumana de certas normas e o despreparo de funcionários para lidar com situações incomuns parecem ser nossas especialidades.


É terrível imaginar quantos brasileiros já não foram submetidos a tais humilhações por serem "diferentes". A própria Gabriela às vezes tem vontade de pedir desculpas por sua deficiência —que não a impede de ser uma das mais reconhecidas profissionais do país numa atividade de crescente importância.


Gabriela tem 31 anos. Usa prótese desde um ano de idade. Passa grande parte do ano em viagens no exterior e já embarcou e desembarcou em aeroportos de todos os continentes. "Só vivi semelhante experiência uma vez, na Etiópia", disse.

mulher usando prótese e bengala em nova york
Gabriela Torquato, do Instituto XP - Arquivo pessoal

Macron respondeu a Bolsonaro? Elio Gaspari, FSP

 Dias antes da reunião da cúpula do Mercosul, o presidente francês, Emmanuel Macron, tentou detonar o acordo do bloco com a Comunidade Europeia. Seu tiro foi certeiro:

"Não posso pedir aos nossos agricultores, aos nossos industriais na França, e em toda a Europa, que façam esforços para descarbonizar, para sair de certos produtos, e depois dizer que estou removendo todas as tarifas para trazer produtos que não aplicam essas regras".

Declaração redonda, porém impertinente. A França se opõe a esse acordo há muitos anos. Macron podia ter esperado alguns dias para o golpe verbal. Logo Macron, que foi maltratado por Jair Bolsonaro e teve sua mulher ofendida por um de seus ministros. Logo Macron, que ao lado de Joe Biden, construiu a rede de apoio ao respeito à eleição de Lula.

Lula e Macron se reuniram em Dubai, durante a COP28 - Ludovic Marin - 2.dez.23/AFP

A impertinência foi de tal tamanho que algum analista apressado poderia atribuí-la a um rancor guardado para Bolsonaro. (Como o general De Gaulle nunca disse que "o Brasil não é um país sério", coisas desse tipo acontecem nas relações com a França. A frase teria sido dita pelo embaixador do Brasil em Paris.)

Num primeiro momento, Lula evitou citar Macron e disse que a França é um país protecionista. Alguém precisa avisá-lo de que chamar um governante francês de protecionista é um elogio. Algo como acusar Arthur Lira de defender seus aliados de Alagoas.

Por sorte, a escala seguinte de Lula era uma passagem pela Alemanha, que tem uma posição diferente em relação ao acordo com o Mercosul. Os dias de Lula em Berlim tiveram um clima que habitualmente se produzia em Paris. Um presidente francês impertinente e um chanceler alemão simpático são duas novidades.

Serão necessárias muitas acrobacias para se fechar rapidamente um acordo entre dois blocos que têm a contrariedade manifesta de países como a França e a Argentina da campanha vitoriosa de Javier Milei. Deixado o assunto para os diplomatas, consegue-se algum caminho, nem que seja o compromisso de continuar conversando, como se vem fazendo há mais de 20 anos.

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Contudo, o verdadeiro caroço diplomático para o Brasil e para o futuro do Mercosul está na Argentina, com a chegada de Javier Milei. Novamente, se o problema ficar nas mãos dos diplomatas, ele tende a ser contido. Basta olhar para a hidrelétrica de Itaipu, que os argentinos não queriam, para se ver do que o Itamaraty é capaz.

O Brasil conviveu sem sobressaltos com o presidente Perón. Em 1964, o governo brasileiro proibiu que o avião que o transportava de Madri para Buenos Aires seguisse viagem depois de pousar no Rio, numa simples escala. Perón recebeu a notícia dentro do avião. A interferência escrachada nos assuntos de outro país agradou aos militares que governavam a Argentina. Anos depois, num banquete no Itamaraty, o general-presidente Agustín Lanusse enfiou uma frase de improviso num discurso negociado, condenando de forma indireta a construção da hidrelétrica. O então presidente Médici guardou poucos papéis, entre eles, esse texto. A saia justa que se seguiu ficou para as memórias dos diplomatas.

Em 1973, Perón voltou ao poder, mas a obra de Itaipu foi em frente.

Quer entrar na USP com a nota do Enem? Saiba como se inscrever, FSP

 Claudinei Queiroz

SÃO PAULO

Fuvest recebe até 5 de janeiro as inscrições para o preenchimento de 1.500 vagas em cursos de graduação na USP (Universidade de São Paulo) na modalidade Enem-USP.

O Enem-USP é um novo sistema implantado no ano passado que substitui o ingresso na universidade via Sisu (Sistema de Seleção Unificada) do Ministério da Educação, que era utilizado anteriormente.

A ideia é que, com o novo sistema, os ingressantes pelo sistema Enem-USP possam seguir o mesmo calendário de matrícula dos ingressantes que entrarem pelo concurso vestibular da Fuvest, o que não era possível no sistema anterior, via Sisu, que muitas vezes demorava mais de um mês para a seleção.

Os cursos oferecidos no processo seletivo se agrupam nas áreas do conhecimento: ciências biológicas e da vida; ciências exatas e tecnológicas; e ciências humanas e sociais. Os candidatos devem se inscrever em uma única área e selecionar, em ordem de prioridade, até o máximo de três cursos pretendidos.

Alunos fazem prova concentrados em sala de aula
Candidatos durante o exame da primeira fase da Fuvest na FEA-USP, na Cidade Universitária, zona oeste de São Paulo - Rubens Cavallari - 19.nov.2023/Folhapress

resultado do Enem será divulgado apenas no dia 16 de janeiro, por isso, depois de saberem suas notas os candidatos ainda terão a oportunidade de alterar suas opções de cursos dentro da área escolhida no período de 18 a 19 de janeiro.

A taxa de inscrição é de R$ 10. Estão isentos os candidatos inscritos no vestibular da Fuvest 2024, aqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica e os inscritos no CadÚnico (Cadastro Único para programas sociais do governo federal).

A primeira chamada de candidatos aprovados será em 24 de janeiro e a segunda, em 14 de fevereiro. Haverá também chamadas de candidatos em listas de espera.

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COMO SERÁ A SELEÇÃO

A seleção dos candidatos será por classificação conforme a pontuação obtida no Enem 2023. Primeiro serão preenchidas 685 vagas destinadas à ampla concorrência (AC); depois 512 vagas destinadas às políticas de ações afirmativas, nas categorias escola pública (L1 e L3); e, por fim, os candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que tenham realizado a inscrição, também, para as 303 vagas PPI, nas categorias PPI (L2 e L4).

Confira a tabela de distribuição de vagas por modalidade no Enem-USP 2024:

  • Escola Pública (EP-L1) – candidatos com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas brasileiras;
  • Escola Pública (EP-L3) – candidatos que, independentemente da renda, tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas brasileiras;
  • Pretos, Pardos e Indígenas (PPI-L2) – vagas destinadas aos candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas brasileiras;
  • Pretos, Pardos e Indígenas (PPI-L4) – vagas destinadas aos candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda, tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas brasileiras.

O candidato concorrerá apenas com aqueles que tenham optado pelo mesmo curso e período no processo seletivo Enem-USP 2024, mas a pontuação final poderá variar para cada curso.

Para ingresso em 2024, além das 1.500 vagas pelo Enem, a USP oferece 8.147 vagas pelo vestibular da Fuvest e 1.500 vagas pelo Provão Paulista, totalizando 11.147 vagas para novos alunos.