sábado, 5 de novembro de 2022

A esfinge brasileira, Voto a Voto - FSP (definitivo)

 

Esse é o último artigo da coluna "Voto a Voto" para as eleições de 2022. Nas últimas semanas, pesquisadores do FGV Cepesp procuraram demonstrar a importância da análise baseada em evidências para a melhor compreensão das eleições e do nosso sistema político, explorando as regularidades apresentadas pelos dados.

Mas, o final dessas eleições coloca novo enigma: como entender as raízes da nossa divisão? Se a democracia é consequência da diversidade de conflitos e se fortalece com a sua negociação, como proceder quando a distância entre as preferências dos grupos é tamanha que impede a interlocução? O resultado das eleições presidenciais (50,9% a 49,1%), as mais apertadas da Nova República, expressam o tamanho do problema.

manifestações de apoio a Lula e Bolsonaro
Apoiadora de Lula e apoiador de Bolsonaro - Ranier Bragon/Folhapress

Novos dados e novos esforços de pesquisa são necessários para entender como encurtar a distância com relação a um grupo relevante, e crescente, do eleitorado. As evidências deste descolamento já aparecem aqui e acolá. Por exemplo, esta parcela desacredita profundamente das instituições políticas, como demonstrado por várias pesquisas de opinião. Tal descrédito atinge de forma mais aguda o sistema judiciário, encarnação das regras do jogo, e os partidos políticos, principal veículo de encaminhamento de propostas na arena democrática.

Da mesma forma, parte importante desse grupo não parece ser suscetível às políticas sociais tradicionais. Tal como publicado nesta Folha em 20 de outubro, uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva ressalta que 57% dos brasileiros preferem ter melhor qualidade de vida em detrimento de uma vida mais longa. Esta preferência se traduz, por exemplo, no pouco valor dado ao contrato de trabalho tradicional, a nossa CLT, que embute contribuições para o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), aposentadoria pelo INSS, e outros benefícios de longo prazo.

Nossa fratura se reflete na esfera pública, onde a desregulação do acesso à informação foi acompanhada pelo consumo de notícias e opiniões através das redes sociais, meios que se revelaram úteis para reter e mobilizar eleitores, evitando os contraditórios tão naturais e necessários ao debate democrático.

Uma das faces mais aparentes desta eleição foi envolvimento religioso; particularmente dos evangélicos. Se antes tal participação política tinha caráter mais reativo frente a algumas propostas avaliadas como ameaças aos costumes e a família tradicional; pela primeira vez, os líderes religiosos se envolveram abertamente em diversas campanhas eleitorais. Embora existam estudos consistentes sobre a religião evangélica, as características e consequências dessa nova postura precisam de análises detalhadas.

A inexistência de "Dois Brasis", como afirmou o ex-candidato Lula em sua primeira manifestação como presidente eleito, irá requerer a produção de novas evidências e novas pesquisas combinando diversas abordagens para entender o outro lado, encurtar a distância e permitir o diálogo.

Aos vitoriosos cabe reconhecer que os derrotados representam parte importante do país. Uma parte que, se nada for feito, tenderá a crescer e terá mais chances de vitória na próxima eleição. Diferentemente da clássica esfinge grega, personagem mitológico, a esfinge brasileira nos propõe um enigma coletivo para o qual a falta de resposta pode devorar qualquer projeto de nação democrática. Daqui a quatro anos teremos chance de avaliar o quanto avançamos na solução.

No curtíssimo prazo, talvez o melhor a fazer seja tentar se reconectar com parentes e amigos perdidos nos últimos quatro anos para assistir juntos aos jogos da Copa do Mundo, como era de costume.

George Avelino

Doutor em ciência política (Stanford University), é professor da FGV e coordenador do FGV-Cepesp (Fundação Getulio Vargas – Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público)


Republicanos não será da base de Lula, diz presidente do partido, FSP

 O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, disse ao Painel nesta sexta-feira (4) que o partido não integrará a base do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Com toda certeza", respondeu, ao ser questionado se ficará fora da base do novo governo.

A avaliação é de que o resultado das urnas mostra que há uma direita consolidada no Brasil hoje. O futuro governador de São PauloTarcísio de Freitas, eleito pelo Republicanos, é visto por partidos da base do presidente Jair Bolsonaro (PL) como a principal liderança deste campo a partir do ano que vem.

O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), em sessão do Congresso Nacional. (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado) - Waldemir Barreto/Agência Senado

Integrantes da cúpula do PP têm avaliação parecida. Uma adesão imediata ao futuro governo poderia acarretar um prejuízo de imagem. A legenda não se consolidaria como uma das referências do campo político aglutinado em torno do bolsonarismo, muito menos se destacaria na esquerda.

Além disso, avalia-se entre representantes da base de Bolsonaro que faltou fôlego à direita para conquistar a Presidência, mas ainda sobra força para eleger prefeitos em 2024 e, possivelmente, parlamentares em 2026.

Preço de derivados de petróleo vendidos pela Petrobras bate novo recorde e atinge R$ 693, FSP

 Guilherme Seto

SÃO PAULO

O preço dos derivados de petróleo, vendidos pela Petrobras no mercado interno, bateu novo recorde, aponta levantamento do Observatório Social do Petróleo, que monitora políticas do setor e é ligado a sindicatos de petroleiros.

O valor do equivalente a um barril de derivados básicos (diesel, gasolina, querosene de aviação, GLP) chegou a R$ 693, alta de 263% nos últimos 10 anos.

O valor é 4,1% superior ao do segundo trimestre deste ano e 64,2% maior do que o preço praticado pela estatal no terceiro trimestre do ano passado.

Trabalhador em tanque da Petrobras em Brasília
Trabalhador em tanque da Petrobras em Brasília - Ueslei Marcelino-14.dez.2021/Reuters

O estudo do OSP mostra que o valor médio dos produtos vem batendo recordes consecutivos há seis trimestres, ainda que o corte de impostos disfarce a alta para o consumidor final.

Segundo Eric Gil Dantas, economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), a venda de produtos derivados no mercado brasileiro é responsável por 65% da receita líquida da Petrobras.

"Esse fator representa a principal explicação para os lucros recordes dos últimos trimestres da companhia", afirma.

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Os preços dos derivados de petróleo da Petrobras seguem o PPI (Preço de Paridade de Importação), que é a política de equiparação com os valores do mercado internacional.

"Importante pontuar que o terceiro trimestre ao qual nos referimos se inicia no período pós-isenção de tributos. O aumento de 4,1% nesses meses mostra que o problema dos altos preços dos derivados de petróleo persistiu, mesmo que para o consumidor final a percepção seja de valores menores em função do corte de impostos", afirma Dantas.



O custo de extração do pré-sal no período foi de US$ 3,24/barril nas plataformas da Petrobrás no pré-sal. Nas afretadas, o custo sobe para US$ 5,26/barril (62% maior). março de 2022

https://sindipetronf.org.br/custo-de-extracao-do-pre-sal-em-plataformas-afretadas-e-62-maior-do-que-em-unidades-da-petrobras/#:~:text=O%20custo%20de%20extra%C3%A7%C3%A3o%20do,barril%20(62%25%20maior).